Novo “Jogos Vorazes” tem elementos mais maduros em trama menos instigante

Já na primeira semana de exibições do filme, não resisti à tentação de conferir o novo Jogos Vorazes. A última parte da franquia baseada nos livros da best seller Susanne Collins foi dividida em dois filmes, e o primeiro chegou oficialmente às salas de exibição nesta quarta-feira (19). Para começar essa resenha, é necessário dizer que meu histórico com a franquia em questão não é dos melhores. Não li os livros, por puro desinteresse. Os últimos best sellers adolescentes que tentei ler foram os da saga Crepúsculo, que me atrofiaram alguns neurônios, dessa forma, criei uma espécie de trauma ao gênero. Livros à parte, também não tive a melhor das impressões com o primeiro filme, que me pareceu carente de uma continuidade convincente além do fato da minha, então, apatia à protagonista Jennifer Lawrence, problema que foi resolvido na última edição do Oscar, quando a moça não recebeu uma segunda estatueta injustamente.

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Recalques e desgostos à parte, a partir do segundo filme, “Jogos Vorazes” já começou a me parecer um pouco mais digerível. Já indicava o filme a amigos e Jennifer Lawrence, no papel da pouco simpática Katniss Everdeen, já começava a me transmitir algum carisma. O resultado é que não consegui esperar pela segunda semana de exibição do terceiro filme, intitulado “A Esperança – Parte 1”: no dia de estreia já estava eu sentada ao lado de adolescentes frenéticos ansiosa para o penúltimo capítulo da saga cinematográfica.

Peeta Mellark
Peeta Mellark

Neste filme, surge o distrito 13, uma espécie de distrito secreto onde concentra-se uma resistência à capital e que dá suporte às rebeliões que começam a acontecer em vários dos outros doze distritos. É para lá que Katniss Everdeen é levada após ter ridicularizado o sistema da capital durante o Massacre Quartenário que é narrado em “Em Chamas”. Enquanto isso, Peeta Mellark (Josh Hutcherson), companheiro de batalha de Katniss com quem ela começa a desenvolver um romance, é mantido como arma da capital para campanhas publicitárias contra as rebeliões que acontecem em toda Panem.

No distrito 13, alguns personagens já conhecidos encontram-se, como o galã Gale (Liam Hemsworth), o agora sóbrio Haymitch (Woody Harrelson) e a excêntrica Effie (Elizabeth Banks), além de Plutarch, interpretado por Philip Seymour Hoffman, falecido recentemente, e seguramente um dos nome de maior peso da saga. Não à toa é homenageado nos créditos finais do filme. Dois novos nomes conhecidos são acrescentados ao elenco: a veterana Julianne Moore, como a presidente Alma Coin, e Natalie Dormer, que interpreta a diretora cinematográfica Cressida.

Natalie Dormer como Cressida
Natalie Dormer como Cressida

No que concerne ao elenco, os destaques continuam sendo para Jennifer Lawrence, que entrega uma interpretação crível e, por vezes, emocionante, de sua Katniss, e Seymour Hoffman como Plutarch, cuja ausência no próximo (e último) filme já começa a ser sentida. Elizabeth Banks com a divertida Effie também continua a cativar e é responsável pelos poucos momentos de humor do filme, uma boa quebra para o clima denso que geralmente é construído na trama. Já Julianne Moore foi uma grata surpresa, pois uma atriz de seu calão é sempre bem vinda, interpretando a discreta Alma Coin. Contudo, por vezes parece deslocada. Fica a impressão de que não conseguiu aprofundar suficientemente a personagem. Nem por isso, deixa de fazer um trabalho digno. Já Natalie Dormer (conhecida por séries de TV e alguns papeis de cinema sem muito prestígio) tem a minha empatia gratuita. Seja pela presença, pelo esforço ou pela beleza, é sempre bom vê-la em produções. Contudo, a moça tem um sério problema em conter-se. Frequentemente faz atuações exageradas, como se se esforçasse demais para se fazer notar e isso às vezes prejudica um pouco o equilíbrio das cenas. Take it easy, Dormer.

Jennifer Lawrence (Katniss) e Julianne Moore (Alma Coin)
Jennifer Lawrence (Katniss) e Julianne Moore (Alma Coin)

A nível de trama, sinto uma maturidade maior a cada filme. Neste terceiro, é possível fazer várias relações com o momento atual da política mundial. Jogos Vorazes ironiza os governos ditadores, mas também choca quando escracha para o espectador as consequências das guerras e rebeliões. Não é fácil assistir a algumas cenas e pensar que é apenas ficção quando sabemos que, no que diz respeito à opressão, a ficção é até amena com relação à realidade. Alma Coin, uma mulher sensata e serena, ocupa o papel da pacificadora, a figura que transborda segurança, a líder para a mudança. Enquanto isso, Katniss é o símbolo da rebelião, a força que é necessária para lutar, o grito de ânimo necessário para que a luta não seja mera utopia. Nesse contexto, vejo em Jogos Vorazes um filme que incita reflexões nos mais diferentes contextos (política, comunicação, democracia, organização social, etc.), característica que já existe desde a primeira obra, mas aparece mais adulta neste terceiro filme.

Em contrapartida, a produção deixa a desejar no quesito dinâmica. Para quem estava acostumado com as arenas das batalhas dos dois primeiros filmes, certamente estranhará a pouca ação presente no terceiro. Há definitivamente uma grande mudança de ritmo de “Em Chamas” para “A Esperança – Parte 1”. A impressão que fica é que este é um filme muito mais descritivo, que tem como foco, em sua maior parte, explicar para o espectador as ideologias do distrito 13. O que resta de espaço para ação é quase nada, cenário que penso que será alterado no derradeiro filme.

"Jogos Vorazes - A Esperança" foi o último filme de Phillip Seymon Hoffman
“Jogos Vorazes – A Esperança” foi o último filme de Phillip Seymour Hoffman

A primeira parte de “Jogos Vorazes – A Esperança” não desaponta, mas também não supera expectativas, como se é de esperar de filmes que lotam sessões por semanas a fio. Contudo, soa como uma boa introdução para algo melhor, o que aumenta as expectativas para a segunda parte do último capítulo da saga do tordo. A previsão de lançamento do próximo filme é 15 de novembro de 2015. Fica a esperança (risos) por um desfecho digno de uma das sagas de aventura que mais conquistou espectadores nos últimos anos.

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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8 anos atrás

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