Cinema Expandido: as novas formas de imergir nos filmes

Desde sua gênese, o cinema vem buscando por inovações que permitam aos espectadores adentrar no enredo dos filme de maneira mais eficaz. Um bom exemplo foi a introdução do som no cinema. Vale lembrar que em muitas exibições cinematográficas os filmes eram acompanhados por uma orquestra ou um pianista, cujo principal propósito era ajudar o espectador a imergir no filme de maneira mais profunda.

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Porém, as inovações não pararam por ai. A partir da segunda década do século XIX, começam a aparecer no cinema os longa metragens que apresentavam inovações na maneira como se era contada a história através dos usos de planos até então não usados, tais como closes, planos detalhes, planos médios, entre outros, além do recurso da montagem paralela.

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Cartaz de “O Nascimento de uma Nação”

Com o passar das décadas e ainda no século XIX, o cinema começa a ser “falado”, mais precisamente em 1927, com o filme “O Cantor de Jazz”. Ainda na mesma década, surgem os musicais hollywoodianos. Porém, não podemos esquecer as vanguardas históricas que também trouxeram inovações estéticas e técnicas que mudaram a forma como o espectador reagia ao filme, como as obras “O Gabinete do Dr. Caligari”, de 1920, dirigido por Robert Wiene, “A Greve”, de 1924, dirigido por Sergei Eisenstein, “Napoleão”, de 1929, de Abel Gance, e “O Cão Andaluz”, de 1929, de Luis Buñuel e Salvador Dali. Vale lembrar que existiram outros filmes que se destacaram, obras do Expressionismo, Construtivismo Soviético, Impressionismo Francês e Surrealismo. Citei alguns só para ilustrar.

Além das vanguardas ainda podemos citar filmes dos movimentos do cinema moderno, como as obras realizadas pela Nouvelle Vague, Cinema Novo Brasileiro, Cinema Novo Alemão, Cinema Novo Japonês, Cinema Underground Americano, Cinema Marginal, etc. Todos esses movimentos trazem consigo elementos estéticos inovadores que proporcionaram para os espectadores novas formas de compreender uma obra cinematográfica.

Na década de 80, o cinema passa por duas fases interessantes, inicialmente com os blockbusters americanos, e também passa por crises que fizeram o uso do digital adentrar com força no cinema mundial. Para quem se interessar mais pelo assunto, recomendo o documentário “O Quarto 666” de Wim Wenders, onde o cineasta entrevista vários diretores sobre essa influência do digital no cinema.

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O Gabinete do Dr. Caligari

Fiz toda essa introdução com o intuito de mostrar que o cinema nunca foi uma fórmula fechada que perdurou por todas essas décadas. Ao contrário, ele passou por grandes transformações que permitiram aos filmes modificarem suas estruturas narrativas e modificarem também a forma como recebemos e imergimos nele. Essa semana estava preparando um projeto para o meu curso e me deparei com uma nova forma de se ver cinema, em que o principal intuito é buscar um diálogo com a teoria e a prática cinematográfica, com novas formas de exibição e recepção. Tal prática ficou conhecida como Cinema Expandido.

O intuito do Cinema Expandido é buscar um diálogo entre o filme, o espaço fisco ao qual ele é apresentado e o espectador (estilo as políticas híbridas das artes) com o objetivo de buscar uma nova forma de imersão do espectador no filme. Para exemplificar melhor irei usar uma definição de Natália Aly Menezes : “O espaço é incluído ao filme e não o filme é incluído ao espaço específico em que ele seria projetado.” Esse espaço-filme, portanto, é o ambiente onde o espectador irá construir a sua relação com a obra. As imagens passam a reagir de acordo com qualquer ação do espectador, e acontece uma troca direta entre um e outro, como se houvesse uma comunicação entre os ingredientes que compõem a obra junto ao espectador. É importante deixar claro que isso vai além de uma simples troca com a imagem, todo o ambiente pode ser composto por sensores, som, etc., componentes esses que, quando ligados, é que constituirão o sentido primário da obra.

Além das pesquisas sobre Cinema Expandido ainda existem estudos sobre o cinema interativo que também busca uma nova forma de recepção do filme. Esse assunto, porém, fica para outra postagem.

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Cicero Alves
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
Cicero Alves

Cicero Alves

Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.

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10 anos atrás

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