Janeiro costuma ser um dos meses mais prósperos do cinema, e consequentemente um dos mais esperados (se não o mais esperado) pelos cinéfilos. Isso se dá devido a muitas produtoras e distribuidoras guardarem os seus diamantes, as melhores apostas de bilheterias do ano, para o período das premiações, em que os filmes ganham maior status e, claro, devido às férias, que levam seguramente um amontoado maior de espectadores aos cinemas.
É justamente para este período que estão reservados títulos como “Whiplash – Em busca da perfeição”, “Acima das Nuvens” (com Juliette Binoche e Kristen Stewart), o favorito para o Oscar “Boyhood”, o russo “Leviatã”, a estreia de Angelina Jolie na direção “Invencível”, o suspense com elenco de peso “Antes de Dormir”, o esperado “Livre”, estrelado por Reese Witherspoon, além de seis dos filmes mais ansiados da temporada: “A Entrevista”, “A Teoria de Tudo”, “Birdman”, “Caminhos da Floresta”, “Grandes Olhos” e “O Jogo da Imitação”.
O que admira é que os três primeiros citados na extensa lista elencada acima já estão rodando no circuito nacional e, apesar das promessas em forma de trailer e cartazes de aportarem em Natal, ao que parece não houve espaço que os comportasse em salas dominadas por três comédias pastelão (uma hollywoodiana e duas globais) e blockbusters da indústria americana.
Esta semana, deveríamos receber os quatro filmes seguintes da lista: “Leviatã”, “Invencível”, “Antes de Dormir” e “Livre”, dos quais apenas o segundo terá o singelo número de três sessões por dia em um dos cinemas da cidade, enquanto “Os Caras de Pau” já caminha para a sua quarta semana de exibições e “Loucas pra casar” reina com sete sessões diárias no mesmo cinema.
Vale lembrar que durante o ano vários filmes tiveram promessas das empresas de baterem ponto em Natal, mas Cinemark, Cinépolis e Moviecom acabaram deixando o público apenas na vontade. Para citar alguns títulos: “O Grande Hotel Budapeste“, de Wes Anderson, “As Duas Faces de Janeiro”, com Kirsten Dunst, “Magic in the moonlight”, de Woody Allen, “Era uma vez em Nova York”, com Joaquin Phoenix e Marion Cotillard, “The Good Lie”, drama baseado em fatos reais estrelado por Reese Witherspoon, e “O Desaparecimento de Eleanor Rigby”, com Jessica Chastain, James McAvoy e Viola Davis no elenco, para não citar inúmeros outros filmes que ou não tiveram força comercial suficiente para chegar até aqui frente ao bombardeio de blockbusters, ou vieram simbolicamente em horários impróprios e sessões reduzidas para partirem uma semana após a chegada (a exemplo de “Mesmo se nada der certo” e “Homens, Mulheres e Filhos”).
Na última quinta-feira do mês, dia 29, teremos a estreia coletiva dos seis últimos filmes citados em minha lista e surge a dúvida: qual será o espaço destinado a Tim Burton, Michael Keaton, Meryl Streep, Benedict Cumberbatch, Keira Knightley e companhia em uma terra que já parece superlotada por Leandro Hassum, Ingrid Guimarães, Ben Stiller e a leva de férias de filmes infantis?
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Chega dá dó abrir as páginas dos 3 cinemas de Natal… Pra quem achava que o Cinépolis ia salvar nossas vidas, tá saindo tão ou pior dos que já estavam operando na cidade… Ainda bem que existem boas almas para disponibilizar esses títulos na net.
Complicado, Myri. Pior que são quase 30 salas e eles não têm a inteligência nem de escolher filmes diferentes… preferem concorrer entre si a correr o risco de “ficar pra trás” apostando em títulos diferentes.
E essa lógica dos cinemas daqui é algo impressionantemente bizarro.
Porque eles já tiveram experiências o suficiente (ex: clássicos cinemark, moviecom arte, etc) pra ver que existe público pra esse tipo de filme. Mas, mesmo assim, preferem oferecer “mais do mesmo”
Dia desses fui ver Pinguins de Madagascar no moviecom. A sala devia ter 40% de ocupação. Acho que se tivessem passando Boyhood ou qualquer um dos outros citados no texto, teriam mais público.
Apesar de concordar com a definição de infeliz para a escolha dos filmes disponíveis em Natal atualmente, deve-se lembrar em conta que é uma decisão puramente comercial das exibidoras de manter as comédias e filmes mais populares em cartaz.
Janeiro, diferente do descrito, não é o mês de apostas das maiores bilheterias do ano, muito pelo contrário: Os filmes lançados pelos estúdios para concorrerem a premiações, geralmente estão tendo orçamentos reduzidos e sendo lançados por subsidiárias menores.
A Fox Searchlight, por exemplo, lançou Slumdog Millionaire, 12 Years a Slave e Black Swan. Para se ter idéia, somados, os orçamentos destes três filmes nem se aproximam de qualquer um dos blockbusters de verdade, lançados no verão americano (período que compreende do final de maio até o final de julho).
Termina que no final das contas Natal é uma cidade muito pequena para se trabalhar nichos e sobreviver. Triste pra gente. 🙁
Oi Victor. De forma alguma eu disse que a decisão não é das exibidoras. Na verdade, não me aprofundei no mérito dessa questão. Apenas coloquei a situação que vivemos e que desagrada boa parte do público (na qual eu me incluo), mas que, claramente, não é a maioria.
Quanto aos filmes de janeiro, não mencionei que eram “blockbusters”, mas apostas. Ficam para janeiro justamente porque no circuito normal, sem o apoio de alguns prêmios recebidos em grandes festivais e premiações, talvez passassem despercebidos. Contudo, após as listas dos indicados, o público cinéfilo fica ansioso para conferir os títulos que, estrategicamente, em sua maioria, chegam às salas em Janeiro.
O resultado final é que, sim, a nossa situação é triste. Mas já dizia Pagodinho… tá ruim, mas tá bom, eu tenho fé que a vida vai melhorar. rs
Abraços!