O lado Norma Jean de Marilyn Monroe

A persona pública Marilyn Monroe é perfeita para um daqueles gifs autobiográficos que estão virando febre na internet. Adjetivos como “diva”, “poderosa”, “sensual”, “loira”, “linda”, inundariam fotos da atriz com seu marcante batom vermelho e um sorriso aberto e despreocupado que ela costumava exibir em eventos públicos. Também não é raro encontrar soltas pela internet frases, em geral, vazias de conteúdo sentimental, e recheadas de rebeldia, sensualidade e, por vezes, futilidade, de autoria de Miss Monroe. Exemplos são “Os homens passam, os diamantes ficam”, ou “Eu não estou interessada em dinheiro, eu só quero ser maravilhosa.”

A verdade é que dos muitos que compram o ideal Marilyn Monroe, a mulher bonita, sedutora e atrevida, em um vestido branco, com lábios vermelhos e uma postura invejável, poucos conhecem a pessoa que havia nos bastidores, por trás das produções, filmes e festividades midiatizadas. É por esse motivo que hoje, dia em que lembramos a morte da atriz, ocorrida no dia 5 de agosto de 1962, resolvi escrever um pouco sobre “o outro lado”. Além do carisma natural, e do que montaram em cima de uma atriz que ficou estigmatizada por sua beleza e sensualidade, possuía um talento em potencial (que ainda se desenvolvia na ocasião de sua morte), sensibilidade, sonhos, medos, angústias (por muitas vezes, sentia-se invisível, mesmo com toda a atenção que recebia) e uma enorme ânsia por conhecimento.

Para isso, divulgarei aqui passagens de “Fragmentos” (Tordesilhas, 2011), um livro que reúne poemas, anotações e cartas que os mais leigos jamais admitiriam serem de autoria da atriz. Apresento-lhes, Norma Jean, a mulher real que ainda respirava por trás do produto Marilyn Monroe.

“Distante de qualquer horizonte de morte, Marilyn programa até o fim o seu futuro. Entre seus planos, a ideia de representar todo Shakespeare, de Julieta a Macbeth. Ela também insiste na vontade de criar a própria empresa de produção, dessa vez em sociedade com Marlon Brando.” (Stanley Buchthal e Bernard Comment, organizadores do livro)

 

“A imagem que Marilyn Monroe deixou de si no mundo das imagens esconde uma alma que poucos suspeitavam exisitr. […] Talvez, Marilyn, que sonhara ter sido uma borboleta, um dia tenha pensado que uma borboleta sonhava ser ela. E, para poder voar para sempre, decidiu-se tornar-se quem a sonhava.” (Antonio Tabucchi, que assina o prefácio do livro)

 

 

“Eu era possivelmente muito introvertida, mas como eu amava as pessoas e tinha amigos, sempre quando eu me dava ao trabalho de cultivá-los, minha vida era talvez mais equilibrada do que poderia ser […]”

 

 

“É difícil não tentar racionalizar e proteger seus próprios sentimentos, mas no final isso torna a aceitação da verdade mais difícil.”

 

 

“Sozinha!!! Eu estou sozinha. Eu estou sempre sozinha, não importa o que aconteça. 

Não existe nada a temer, exceto o próprio medo.”

 

 

“Medo de me dar as novas falas

talvez eu não seja capaz de aprendê-las

talvez eu cometa erros

as pessoas vão pensar que não sou boa ou vão dar risadas e me rebaixar ou vão pensar que não consigo atuar.

Mulheres parecem inflexíveis e críticas – pouco amigáveis e frias em geral

com receio de que o diretor pense que eu não valho nada.

me lembrando de quanto eu não conseguia fazer droga nenhuma direito.

depois tentando me desenvolver com o fato de que tenho feito coisas certas que fora até boas e tenho tido momentos que foram excelentes, mas o ruim é mais pesado de carregar por aí e sinto que não tenho confiança

louca deprimida”

 

 

“Posso e vou me ajudar e trabalharei nas coisas analiticamente não importa quanto doa – se eu esquecer coisas (o inconsciente quer esquecer – apenas tentarei me lembrar).”

“Meu corpo é meu corpo

cada parte dele”

 

 

“A partir de amanhã cuidarei de mim mesma pois isso é realmente tudo o que tenho e pelo que vejo já tive. […] Acho que odeio estar aqui porque não existe mais amor aqui. Eu me arrependo do esforço que desesperadamente fiz aqui.”

 

 

“Acho que amar corajosamente é o melhor e aceitar – quanto se consegue suportar”

 

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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