Vivi. Primeira pessoa do verbo viver no pretérito perfeito do indicativo. Ou ainda, apelido de “Viviane”, cuja semântica significa, ironicamente, “cheia de vida”.
Vivi é o nome da burlesca protagonista com claras tendências suicidas do curta potiguar homônimo dirigido por Catarina Doolan e Julio Castro. Interpretada pela carismática Quitéria Kelly, Vivi é uma figura pitoresca e um tanto desinteressante até mesmo para si mesma, motivo que a faz tentar por várias vezes tirar a própria vida.
O enrendo do curta metragem é bastante simples, não indo muito além disto. O foco do filme acaba ficando no trabalho da atriz e nos elementos de roteiro que tornam Vivi um curta agradável, divertido, acessível e bonito.
Quitéria Kelly é inegavelmente a minha atriz potiguar favorita, juntamente com a talentosa Priscilla Vilela. No entanto, a experiência de Quitéria, marcada pelo teatro, faz com que eu a sinta ainda um pouco desproporcional na câmera, às vezes aparentando um pouco de exagero e ausência da sutileza necessária ao cinema. Isso não impede, contudo, um trabalho satisfatório como Vivi, que compartilha do carisma e da veia cômica da atriz, sendo atribuído em boa parte a ela o mérito de nos prender à tela durante os 14 minutos de filme.

Quitéria é auxiliada pelo ator Arlindo Bezerra, que também faz rápidas participações no filme, e por aspectos técnicos desenvolvidos com extrema competência. A fotografia de Vivi é um ponto forte, caprichosa, tanto em cores quanto em ângulos e enquadramentos; o figurino e o design da produção também são bem tratados, além de muito bonitos, são eles que nos permitem situar o tempo do filme entre os fim dos anos 90 e o início dos anos 2000; mas é a trilha sonora de Marco França e Fernando Suassuna um dos aspectos que mais me agradou na obra: dinâmica, agradável, preenchendo e ditando o ritmo do filme, e garantindo que o tom certo fosse transmitido ao público.
O cinema potiguar produzido atualmente – e extendo as assertativas à Vivi – em nada deixa a desejar a algumas produções que circulam nacionalmente; seguramente superam uma boa parte delas. Assistir a um filme com a excelência técnica e cuidado artístico de Vivi apenas estimula a minha curiosidade: se com tão pouco saem pequenas pérolas, como é o caso do filme roteirizado por Catarina Doolan, imaginem vocês o que os talentosos profissionais potiguares nos entregariam se propiciados os incentivos certos e necessários ao seu trabalho.
Vivi segue em exibição por festivais e mostras de cinema. Para acompanhar as próximas sessões e mais novidades sobre o filme, curta a página da obra no Facebook.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Que legal, Andressa! Só acho que, em relação a atuação de Quitéria no filme, o “exagero” tem mais a ver com a proposta de direção do que com a capacidade da atriz. Ponto positivo para ambos: A ela, que se adequou bem à proposta (desafiadora), e à direção, que assumiu bem a que veio. 🙂
Obrigada, Diana. É isso mesmo. 😉
Oi, Andressa! Excelente análise. É gratificante ver como o filme é compreendido por cada um. Tive o prazer primoroso de trabalhar com Quitéria Kelly e, por vezes, trabalhamos a sutileza das ações, deixando-as menos teatrais, no entanto, algumas ações foram propositalmente deixadas aos talentos da mesma, como expressões e gestos, um pouco mais acentuadas, já que o filme dependia disso tb, não temos diálogos, rsrs. Não tivemos sequer um dia de ensaio, algo que quis muito fazer, mas como contávamos com o trabalho voluntário de todos, as agendas precisavam bater, portanto, tanto Quitéria quanto Arlindo foram geniais em captar as necessidades das personagens e do filme na hora de gravar. O que só acentua o talento de nossos artistas.
Adorei sua interpretação da linha temporal do filme, já sugeriram décadas de 60-80. Eu e Julio tivemos a intenção de trabalhar uma arte retrô, sem se preocupar necessariamente com o tempo corrente do filme. Na realidade, ele é atemporal, podendo remeter a qualquer época, à época de Vivi. O intuito é curtir o filme e se identificar com ele de forma individualizada, cada um interpreta de um jeito. Inclusive questionando por que a coitada de Vivi é tão frustrada de si mesma.
A trilha sonora é um personagem dentro da história, Marco França, em sua genialidade, criou o clima do filme e deu a “vida” às ações de Vivi. Acompanhando do igualmente talentoso Fernando Suassuna, com quem firmei essa parceria, foi ele quem trouxe Março e Eli Santos, que sutilmente trabalhou o desenho de som.
Espero poder debater mais sobre Vivi em festivais locais, quem sabe.
Um abraço!
Olá, Diana e Catarina! Obrigada pelos comentários, enriquecem ainda mais o conteúdo desta página para os leitores e espectadores de Vivi! À Catarina, parabéns para o trabalho!
Valeu, meninas!