Opinião Formada: Por mais liberdade de escolha nas salas de cinema

Se você perguntar a 10 amigos que frequentam cinema que filme eles querem ver essa semana (aqui os lançamentos da semana), pelo menos 9 dirão que querem ver a estreia de “O Hobbit: A Guerra dos Cinco Exércitos”. Os motivos podem ser os mais variados, mas uma coisa será invariável: eles querem ver o filme porque por algum motivo a obra os atraí. Essa semana, sem os mesmos holofotes que O Hobbit, estreia nas salas de cinema “O Senhor do Labirinto”, filme nacional dirigido por Geraldo Motta e Gisella Bezerra de Mello que conta a história de Arthur Bispo do Rosário, um artista plástico brasileiro que produziu suas obras, hoje reconhecidas, durante sua clausura por sofrer de problemas de esquizofrenia.

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É inegável que seja extremamente interessante, do ponto de vista histórico-cultural, contar a história de Bispo nas telonas, nesse aspecto, inclusive, muito mais relevante que a narrativa do filme baseado na obra de Tolkien. Mas certamente haverá uma diferença esmagadora no número de pessoas que vão ver o “blockbuster” e aquelas que verão o “cult“. A maioria das pessoas vai ao cinema em busca de diversão, de entretenimento e não de uma aula de história da arte. É por isso que o filme que narra a história de Bispo será pouco visto e estará em poucas salas de cinema, enquanto milhões de pessoas verão “O Hobbit”.

O terceiro filme da franquia "O Hobbit" estreia essa semana
O terceiro filme da franquia “O Hobbit” estreia essa semana

O que o presidente da ANCINE, Manoel Rangel, pretende para impedir isso é estabelecer um limite aos chamados blockbusters. Um filme não poderá ocupar mais de 30% do mercado nacional do cinema, isso para dar oportunidade a outros filmes. Teremos uma diversidade maior de filmes, ótimo? Não!

O último grande lançamento foi o de “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1”. O filme entrou em cartaz em 1192 salas de cinema e terminou o fim de semana de lançamento como o filme mais visto do país. “Óbvio Fahad! Ele ocupou a maior parte das cerca de 2800 salas de cinema do país!” O filme foi mais visto que todos os outros filmes em exibição no país e, para estes, restavam 1608 salas de cinema. Mais que isso, enquanto a média de público por sala para o terceiro filme que conta a saga de Katniss Everdeen foi de 1657 pessoas por sala, todos os demais filmes juntos tiveram uma média de 623 pessoas por sala. Mais de duas vezes e meia. E o que isso quer dizer?

O público de cinema comum, diferente dos cinéfilos – aquelas pessoas que, assim como eu, são fissuradas em cinema -, vão ao cinema em busca de diversão, como eu já disse antes, e não em busca de obras de arte. Para essas pessoas não importa o quanto um filme seja bom, quantas estatuetas ele ganhe, se ele não for divertido – não no sentido de engraçado, que fique claro. Querer influenciar nos filmes que as pessoas escolhem para assistir não vai fazê-las aprender a gostar de filmes “cult”, mas vai afastá-las dos cinemas. A lógica proposta pelo presidente da ANCINE beira o absurdo. Ele não quer que os filmes se adaptem ao gosto das pessoas, mas justamente o inverso.

O que Rangel parece não enxergar é que quando as pessoas não têm filmes que lhes agradam em exibição – e nessa parte até os cinéfilos estão inclusos – elas não vão ao cinema. Não há nenhuma ótica em que pessoas deixando de ir ao cinema possa ser positivo. É óbvio que cinéfilos, e eu me incluo nesse grupo, gostariam de mais filmes alternativos nos cinemas, seria a realização de um sonho (né Alana?!), mas quanto esse sonho pode custar? Não dá pra pensar em nossos gostos pessoais, é preciso lembrar que para a maioria das pessoas o cinema é apenas diversão.

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“Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” foi o filme mais visto no final de semana do seu lançamento

O número de salas de cinema no país tem aumentado, as pessoas têm começado a criar o hábito de ir ao cinema e isso é bom para o mercado – lembrem-se que Cinemark, Cinépolis, Moviecom, etc., são empresas e buscam o lucro. Se as pessoas deixarem de ir ao cinema porque não vão poder ver o que lhes agrada, o lucro diminui e as salas, ao invés de aumentarem, podem diminuir. “Não seja apocalíptico, Fahad!” Pode ser exagero de minha parte, mas eu apenas acho que devemos deixar as pessoas escolherem o que querem ver.

O exemplo de Jogos Vorazes não foi à toa, a luta de Katniss Everdeen e seus companheiros é contra uma sociedade cheia de regras onde as pessoas são privadas de fazer suas próprias escolhas, onde escolher o que se acha o melhor para si pode até ser crime. O presidente da ANCINE, Manoel Rangel, pode ter a melhor das intenções, mas eu prefiro defender a liberdade de escolha das pessoas.

Have a nice day, watch a movie!

(Clique aqui e veja quais são os filmes nacionais mais vistos da história e perceba o que eu digo sobre as pessoas irem ao cinema em busca de diversão.)

***

E, sim, eu sei que vocês não sentiram minha falta. A equipe aqui é muito boa pra vocês perceberem que eu não apareço.

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Fahad Aljarboua
Bacharel em Direito. Abecedista. Nas horas vagas escritor, divagador e mentiroso, tudo isso com uma boa dose de cinema e rock n’ roll – álcool só aos fins de semana. Assina a coluna “Opinião Formada”.
Fahad Aljarboua

Fahad Aljarboua

Bacharel em Direito. Abecedista. Nas horas vagas escritor, divagador e mentiroso, tudo isso com uma boa dose de cinema e rock n' roll - álcool só aos fins de semana. Assina a coluna "Opinião Formada".

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