Para finalizar meus textos sobre o Oscar nessa temporada, e só voltar a falar dele lá para outubro, ainda no clima da premiação do dia 2, escrevo aqui sobre o Oscar do próximo ano. Mais do que uma tentativa de previsão, este post visa estabelecer uma tendência que vem sido dominante nos últimos anos.

Já estão sendo feitas previsões para o Oscar 2015
Já estão sendo feitas previsões para o Oscar 2015

Eu já escrevi sobre essa tendência nos meus textos anteriores, mas vamos refrescar a memória. É o que chamo de “Davi x Golias”, uma super produção com muitos efeitos especiais contra um filme independente. “Benjamin Button” x “Quem quer ser um milionário” em 2009;” Avatar” x “Guerra ao Terror” em 2010; “A Invenção de Hugo Cabret” x “O Artista” em 2012; “As Aventuras de Pi” x “Argo” em 2013. E neste Oscar agora não foi diferente: “Gravidade” x “12 Anos de Escravidão”.

Em todos os casos, o filme que corresponde ao segundo item ganhou a estatueta principal, enquanto a super produção se limitava aos prêmios técnicos. Nos dois últimos anos, entretanto, a super produção conseguiu levar o prêmio de Melhor Diretor para casa: Ang Lee, por “Aventuras de Pi” e Alfonso Cuarón em “Gravidade”. Vale perceber que nenhum deles é americano. Esse ano Cuarón se tornou o primeiro latino a vencer Melhor Diretor e Ang Lee foi o primeiro asiático a vencer na categoria, mas ele já a havia conquistado em 2006 com “O Segredo de Brokeback Mountain”.

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“12 Anos de Escravidão” e “Gravidade” foram os grandes filmes da edição 2014 do Oscar

A partir desse ponto, para se ter uma ideia de como vai ser a disputa pelo Oscar em 2015, basta procurar por filmes que se encaixam nos dois tipos. Quanto à super produção, são várias as lançadas todos os anos, mas eu não estou falando só dos blockbusters, estou falando de super produções com maiores ambições artísticas e encabeçadas por um bom diretor. Eu destaco duas: “Noé”, de Darren Aronofsky e “Interstellar”,  de Christopher Nolan.

Ambos estão entre os melhores diretores da atualidade e espero grandes filmes dos dois. Mas no quesito Oscar, normalmente o filme do Nolan sairia perdendo, pois seu filme é um Sci-Fi, e há um certo preconceito na Academia pelo gênero (e, não, Gravidade não é um Sci-Fi). Um exemplo disso é a disputa de 2011, na qual “A Origem” foi ignorado em Melhor Diretor e inexplicavelmente perdeu o Oscar de Melhor Roteiro Original para o mediano “O Discurso do Rei”.

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“Interstellar”, de Christopher Nolan, já é um dos possíveis indicados ao Oscar 2015

Pensando nos dois diretores, eles deviam ter travado a batalha Davi x Golias no Oscar 2009. A disputa naquele ano devia ter sido entre “O Lutador” (Aronosky) x “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (Nolan), mas infelizmente eles não chegaram na briga pelos prêmios principais, que foi entre “Benjamin Button x Quem quer ser um milionário”, embora ambos sejam bons filmes. O Danny Boyle levou a melhor em cima do David Fincher naquele ano.

“Noé” toca em um assunto delicado – a religião – e isso pode prejudicar o filme, não só nas premiações, mas também em uma recepção geral. É o que aconteceu com “Última tentação de Cristo”, do Scorsese, que gerou muita polêmica, mas mesmo assim conseguiu a uma solitária indicação a melhor diretor no Oscar. E é por isso que aposto no filme do Aronofsky, além de todos os efeitos especiais do filme o ajudarem.

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Os efeitos especiais de “Noé” podem contribuir para que o filme seja indicado ao Oscar em 2015

E por falar no David Fincher, ele é possível concorrente ao Oscar 2015 com seu “Gone Girl”, fazendo parte do segundo tipo de filme. E é interessante notar que esses três diretores estão sempre juntos nos Oscar, além dos longas citados em 2009, em 2010 lá estavam os três de novo: “A Origem” (Nolan), “A Rede Social” (Fincher) e “Cisne Negro” (Aronofsky). Em 2015, os três poderão disputar as principais categorias de novo.

No lado independente, outro filme que poderá desejar a estatueta dourada é  “Vício Inerente”, novo longa de Paul Thomas Anderson, o melhor diretor da atualidade, na minha opinião. O longa é adaptação do romance homônimo de Thomas Pynchon, e é descrito como um noir psicodélico. P.T. Anderson já foi indicado ao Oscar cinco vezes e nunca ganhou (e Tom Hooper já ganhou!!), então está na hora de reparar esse terrível erro. Mas PTA não é o queridinho da Academia, pois “Boogie Nights” e “Magnolia” renderam ao diretor indicações apenas em roteiro original. Só com “Sangue Negro” consegui indicações nas principais.

Joaquim Phoenix no set de Vicio Inerente
Joaquim Phoenix no set de “Vicio Inerente”

Seu último filme, “O Mestre”, talvez seu filme mais experimental, e provavelmente o melhor do seu ano (junto com “Django Livre”) conseguiu indicações apenas nas categorias de atuação. Mas acredito que, com essa adaptação de um escritor aclamado, ele consiga os dourados, assim como os Coen conseguiram ao adaptar o romance “Onde os Fracos Não tem Vez”, de Cormac McCarthy. Talvez a fórmula seja esta: juntar o estilo autoral do cineasta com um estilo autoral de um escritor aclamado.

Para finalizar as apostas, temos a vaga indie-indie, que esse ano ficou com “Ela” do Spike Jonze. No próximo Oscar, poderemos ter Wes Anderson ganhando seu tão merecido Oscar (provavelmente por roteiro original) por “The Grand Budapeste Hotel”.

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Jonathan De Assis
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.
Jonathan De Assis

Jonathan De Assis

Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.

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