Lá pelos idos dos meus 15 anos encuquei que queria ler todos os maiores clássicos da literatura inglesa. Trocava a Matemática por Jane Austen, e embromava os estudos de História com “O Morro dos Ventos Uivantes”. Obviamente, não consegui ler a totalidade das obras durante o ensino médico, mas a saga, que me rendeu um aprimoramento do meu conhecimento literário e algumas notas baixas, também me rendeu o primeiro contato com o livro que se tornaria um dos meus favoritos, “O Retrato de Dorian Gray”, único romance do irlandês Oscar Wilde, cuja vida é repleta de polêmicas envolvendo prisões e relacionamentos homossexuais (que na época ainda eram vistos com ar de crime).
Entre angústias e decepções, Oscar Wilde foi um dos autores que mais compreendeu a natureza humana e dedicou-se a representar em suas obras os valores da sociedade inglesa da era vitoriana. Em “O Príncipe Feliz e Outras Histórias”, editado recentemente pela Martin Claret em uma publicação para se eternizar na estante, o autor passeia entre fábulas e contos de fadas, com personagens intrigantes e desfechos pouco previsíveis.
Aqui, Wilde consegue conceber uma personalidade a patos, fogos de artifício, crianças, príncipes, sereias e indaga com frequência (e até literalmente, em um dos contos) o conflito que nutrimos constantemente com os valores de nossa alma. O que chama atenção é que a obra escrita na segunda metade do século XIX permanece autêntica e atual, esbarrando em valores cujos entendimentos são melhor concebidos por adultos.
Uma das características de Wilde, explicitamente abordada em sua literatura, é a eterna dúvida humana entre o terreno e o divino, o carnal e o moral,o impulso momentâneo e o eterno. Não obstante o grande aprendizado que extraímos de sua obra, Wilde ainda é um exímio contador de histórias. Com narrativas criativas e um ritmo particular (preservado aqui pela tradução da obra por Vilma Maria da Silva), este é um livro para ser devorado em um final de semana ou na tranquilidade de um feriado sem muitas preocupações. Destaque ainda para as belíssimas ilustrações de Charles Robinson, contemporâneo a Wilde, que tornam a leitura ainda mais apaixonante e fluida.
Nesta edição feita com cuidado e que preserva a dignidade da literatura do imortal escritor, a obra de Wilde se torna ainda mais curiosa, apaixonante, palatável e bela.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.