Antes de Quentin Tarantino, a indústria cinematográfica era dividida em dois caminhos que não se comunicavam: o cinema independente e o comercial. Com o lançamento do Pulp Fiction, em meados da década de 1990, o diretor mostrou que um filme considerado “underground” pode ser tão popular quanto um da década de ouro de Hollywood.
Hoje, 27 de março, o diretor estadunidense completa 51 anos. Os filmes dele são marcados por retratar a violência de forma irônica e possuírem inspirações de grandes diretores do passado com uma mistura de elementos da cultura pop.
Além de dirigir e roteirizar, o diretor também é conhecido por fazer participações em papéis pequenos nas produções nas quais trabalha. A equipe d’O Chaplin mostra a vida do astro antes de Pulp Fiction, a qual denominamos de ‘Tarantino Fiction Vol. I’. Assim como os filmes dele, não seguimos uma narração linear. Antes que esqueçamos: Parabéns, Tarantino!
Tarantino Fiction Vol. I
Capitulo Um: O verdadeiro romance de Quentin Tarantino
Por Jonathan DeAssis
Não. Quentin Tarantino não aprendera tudo o que sabia sobre cinema em uma locadora de vídeo, como dizem por aí. Na verdade, ele conseguiu o trabalho na Video Archives por causa de seu enorme conhecimento cinematográfico. E também não ache que ele saiu do balcão de lá para dirigir seu primeiro filme. Se você disser que o seu primeiro longa já foi um sucesso, estará 100% correto. “Cães de Aluguel” foi sensação em Sundance; Tarantino fez nome. Mas muita coisa aconteceu antes dele conseguir a chance de dirigir um filme. É um verdadeiro romance.
“Amor à Queima-roupa” foi o primeiro roteiro escrito. Ele tinha intenção de ser também a sua estreia como diretor, porém não é fácil para um garoto chegar a Hollywood e dizer “quero dirigir um filme, me deem dinheiro”. Finalmente, Quentin desistiu de dirigir o roteiro e o vendeu, em 1989, ao preço mínimo exigido pela Associação de Roteiristas.
O mesmo aconteceu com o roteiro de “Assassinos por Natureza”. Sem conseguir financiá-lo, ele passou os direitos a um amigo, que tentaria um contrato de produção, entretanto nada saiu. E, novamente, foi vendido, guardando nas gavetas empoeiradas de Hollywood.
A sorte, todavia, começou a mudar para Tarantino. Ele foi contratado para escrever um roteiro para KNB EFX, um estúdio de efeitos especiais. Ele receberia mil e quinhentos dólares pelo roteiro e eles fariam os efeitos especiais de graça do seu primeiro filme. O roteiro era “Um Drink no Inferno”. Como era de praxe, o roteiro não foi produzido. Após o sucesso de Pulp Fiction, o roteiro voltaria para as mãos do diretor.
A parti daí a coisa melhorou, Quentin foi contratado para reescrever os diálogos de “Sombras na Noite”. Aí sim, o roteiro foi produzido e ele conseguiu seu primeiro crédito em Hollywood. Está creditado como produtor associado. Havia também uma ponta como ator que ele havia feito para o seriado “As Super Gatas”, como um imitador do Elvis. E por muito tempo esse foi o desejo de Tarantino, ser ator.
Com “Cães de Aluguel” lançado e sendo sucesso em 1992 (e a história de como ele conseguiu o dirigir não será contada nesse capitulo, assim como num filme de Tarantino, “perguntas primeiro, respostas depois”), Quentin teve a chance de recuperar o roteiro de “Amor” e o dirigir, mas não o quis. Foi o próprio Quentin Tarantino que enviou o roteiro de “Amor à Queima-roupa” para Tony Scott, que não hesitou em dirigi-lo.
Quentin havia escrito “Amor à Queima-roupa” para ser seu primeiro filme, assim como escreveu “Assassinos por Natureza” e depois “Cães de Aluguel”, e esse último se tornou a sua estreia, então ele tinha maiores ambições para seu segundo filme, que se chamaria “Pulp Fiction”, e o garoto de L.A. escreveria um novo capítulo na história do cinema.
Capítulo Dois: Cães de Aluguel, do underground ao caminho de Hollywood
Por Lara Paiva
Vamos falar do filme “Cães de Aluguel”. É o primeiro que Quentin Tarantino dirigiu e já mostra pequenos sinais do que no futuro vão ser conhecidas como as “marcas registradas de Tarantino”, como sangue, roteiro irônico, cômicos e cheios de palavrões (com certeza, ‘fuck’ foi citada mais que 182 vezes), narrativa que não segue uma determinada linha de raciocínio, anti-heróis carismáticos e referências à cultura pop e aos anos 1970.
Inicialmente, a película seria gravada numa câmera de 16 milímetros e com o orçamento de 30 mil dólares. Entretanto, quando o ator Harvey Keitel concordou em atuar e trabalhar na coprodução, Quentin conseguiu angariar um milhão e meio de dólares para a montagem.
A sinopse do filme conta a história de um grupo de seis pessoas, que são identificadas apenas pelos nomes Mr. Blonde (Michael Madsen), Mr. Blue (Edward Bunker), Mr. Brown (Quentin Tarantino), Mr. Orange (Tim Roth), Mr. Pink (Steve Buscemi) e Mr. White (Harvey Keitel).
Eles estavam planejando fazer um assalto numa joalheria para roubar diamantes e isso contou com apoio do mafioso Joe e o seu filho Eddie “Nice Guy”. Porém, o roubo deu errado, descobriram que caíram numa armadilha da polícia. Então, o grupo investiga quem os levou para esta enrascada. Todas as respostas são expostas a partir de flashbacks dos personagens.
Uma das sacadas de Quentin Tarantino foi colocar diversos elementos que não têm nenhuma relação e conseguir reuni-los. Isso pode ser visto nas primeiras cenas da película, quando os gangsters comentam sobre a música “Like a Virgin” da Madonna enquanto armavam uma de suas artimanhas.
Outra interessante tática do diretor foi fazer um determinado acontecimento ser bastante falado e nunca exibido, no caso, o roubo de diamantes. Todo mundo sabe que isto ocorreu a partir dos diálogos com os envolvidos, mas a cena em si não foi elaborada.
Tarantino justificou que a falta de verba não permitiu que fizesse as cenas sobre o assalto, porém ele gostara da ideia de não exibi-lo. Para o diretor, isso ajuda a plateia a perceber que o foco do filme não é o assalto, mas os personagens. Toda a estrutura do filme é ligada, desde a trilha sonora (bastante eclética por sinal) até os efeitos especiais exagerados.
É neste filme que o diretor deu seu primeiro passo para ser reconhecido mundialmente, tornou-se cult, sendo enaltecido como um clássico do cinema independente. Inspira diversos filmes alternativos que retratam a violência. Teve bastante sucesso no Reino Unido, que culminou na participação no Festival Sundance.
Os diálogos dos filmes se tornaram populares e muitas das características da película ingressaram na cultura pop. Reza a lenda que o nome artístico da cantora Pink veio deste filme. Logo após, veio o Pulp Fiction, no qual Tarantino finalmente quebrou a barreira do que é alternativo e comercial. Mas essas são cenas do próximo capítulo do romance…
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.