Perdido em Marte: Sessão da tarde otimista e divertida

Depois de uma experiência antológica, marcada na história do cinema, com “Alien – O Oitavo Passageiro” e outra experiência polêmica com “Prometheus”, Ridley Scott decidiu desbravar mais uma vez o vasto espaço em sua recente produção. Precisamente localizada no Planeta Vermelho, o diretor inglês entrega uma obra otimista, divertida e muito bem executada, digna de uma autêntica Sessão da Tarde – em seu melhor sentido, é claro!

Perdido em Marte (The Martian, 2015) inicia com uma missão que precisa ser abortada devido a chegada de uma forte tempestade no espaço. Porém, antes que todos entrem na nave, Mark Watney (Matt Damon, Interestelar) é atingido pelo temporal e arremessado longe de todos. A equipe parte do planeta acreditando que o botânico está morto. No entanto, superando todas as probabilidades, Mark continua vivo, com poucos suprimentos e completamente sozinho, precisando usar de toda a ciência que domina para se manter vivo e sem ter certeza que será resgatado.

Scott tem pleno domínio da projeção, mostrando exatamente o que acredita ser o correto para o espectador. Se a tecnologia 3D provoca muitas reclamações, aqui ela é usada com talento. A imponente cenografia, além de nos fazer acreditar que estamos em Marte, é insistentemente mostrada em grandes planos abertos, permitindo que o diretor de fotografia, Dariusz Wolski, lembrado por Êxodo – Deuses e Reis, brinque com o foco, gerando ótimos efeitos de profundidade.

Ainda assim, o grande mérito da película é o texto que originou o roteiro. Embora traga cenas que me fez torcer o pescoço quanto a sua veracidade (fato também influenciado pela minha total ignorância sobre os assuntos espaciais, etc.), muito do que se vê em tela tem os pés bem firmes na realidade, o que torna tudo mais divertido por ser impressionante e por parecer um manual marciano de sobrevivência.

Quem mais tem tempo de tela é Damon. A junção do talento e carisma é essencial para que o filme não se torne cansativo. Embora seja difícil acreditar que uma pessoa se comporte com tanta tranquilidade e tanto bom humor diante da solidão espacial, o astro nos convence de que aquilo realmente é possível e nos faz embarcar na viagem. Os demais atores não têm tanto “espaço” (ba dum tss) para aprofundar as personalidades de suas personagens.

Assim, muitas delas acabam sendo bem superficiais. Só que nessa produção isso não chega a prejudicar. Destaque para a severidade de Jeff Daniels (The Newsroom) como o responsável pela NASA Teddy Sanders e para a exaustiva dedicação de Sean Bean (O Destino de Júpiter) e Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão) como, respectivamente, Mitch Henderson, responsável pela equipe de Mark, e Vincent Kapoor, líder da missão que tentará resgatar o botânico.

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Porém, o produto peca no quesito tensão. Durante toda a duração da história, vemos que Mark é uma espécie de MacGyver espacial. Seu vasto conhecimento sempre o deixa a frente dos problemas. Daí, quando o filme tenta pregar uma peça, fica complicado acreditar que ele realmente esteja em perigo. E isso acontece várias vezes… Além disso, fiquei muito intrigado com a capacidade produtiva da silver tape e dos plásticos da NASA. Seriam eles mais resistentes que as naves?

Perdido em Marte é um filme agradável e funciona como um ótimo passatempo. Seu otimismo excessivo pode gerar desconforto, mas às vezes é bom que o expectador mais desesperançoso encontre em tela algo que lhe faça enxergar a vida com outros olhos. E se alguém pretende ver um drama intenso, fique atento! A produção é repleta de piadinhas e gags que funcionam, mas que podem estragar a sessão dos desavisados.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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