O espetáculo Callas, dirigido por Marília Pêra, esteve em cartaz em única apresentação no domingo dia 13, no Teatro Riachuelo. Caracterizado por ser uma obra documentada sobre a vida da artista Maria Callas, fiquei extasiado com tamanha elegância da produção do espetáculo.
Cenário grandioso e figurinos bem elaborados que se adequaram ao corpo esguio e elegante da atriz Sílvia Pfeifer. Não foi apenas uma demonstração de riqueza em cena, mas existia uma história, um conteúdo reflexivo sobre a vida de uma das maiores cantoras de Ópera.
Não lembro de nenhum personagem marcante nos trabalhos em novelas da atriz Silvia Pfeifer, mas confesso que fiquei surpreso por sua atuação nesse espetáculo. A atriz mesmo não tendo aptidões para o canto mostrou-se ser dona de uma voz potente, carregada de intensidade sempre que a cena exigia uma tensão maior. As angústias da personagem foram muito bem trabalhadas pela atriz.
Gosto quando os espetáculos têm a capacidade de tirar o público da passividade da abstração. Toda a dramaturgia da obra era sinestésica, impossível não gerar questionamentos internos e carregar uma angústia quando o assunto é solidão. Maria Callas carregava dentro de si um museu esquecido construído por causa da fama. Queria ser lembrada como uma musicista e não como uma mulher que sofreu por amores, uma artista egocêntrica, uma carreira marcada por brigas e traições. Callas se entregou tanto ao trabalho que se esqueceu de si mesma. Aos seus 53 anos, tinha apenas um cachorro como companhia.
Marília Pêra como diretora é minuciosa, organizada, arquitetou todo um trabalho documentado que pelo visto exigiu meses de estudos por partes dos envolvidos. Fiquei na expectativa de vê-la ao término da apresentação, mas acabei levando pra casa toda a minha empolgação de encontrá-la. O espetáculo em si já tinha correspondido às minhas expectativas e isso era o suficiente. Saí do teatro mudo, sem ânimo para conversas sobre o que tinha visto.
“Quanto mais velho, mais só”, dizia Callas. Fico pensando se estamos preparados para a solidão que a terceira idade pode trazer. Em um mundo tão pragmático, cheios de aplicativos para nos distrair, em que momento vamos ter tempo para dar atenção aos nossos próprios questionamentos? A arte auxilia nessa busca de conhecer a si mesmo. Enquanto uns fuçavam Whatsapp e Facebook na plateia, Maria Callas se mostrava no palco viva, dando oportunidade para cada um perceber o que mais nos incomoda na vida.
Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.