Quarteto Fantástico e o poder de sugestão da crítica negativa

Nem a elasticidade de Senhor Fantástico, a combustão corpórea que faz o Tocha Humana voar no ar, a força de rocha e aparência assustadora do Coisa, ou a invisibilidade e capacidade de criar campos de força da Mulher Invisível pareciam interessantes aos meus olhos de criança que gostava de quadrinhos. A imagem de estrutura de família perfeita, de aparência perfeita (mesmo o Coisa, antes de se transformar) sempre me pareceu chata, sem mistérios e sem um dos ingredientes mais importantes: não gerava uma identificação, representatividade, não conseguia me ver dentro da história.

O que eu achava sobre o Quarteto confirmou-se no filme de 2005 e em seguida em 2007 com as adaptações do diretor Tim Story para a Fox: Quarteto Fantástico e Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, considerados dois filmes abaixo da média. Ambos com atuações robóticas, tinturas de cabelo esquisitas, maquiagens e uniformes bizarros, humor de gosto duvidoso e efeitos especiais insuficientes. O gosto amargo deixado por esses dois filmes foi totalmente apagado com o novo filme do Quarteto Fantástico (2015).

Não que seja a adaptação perfeita e sem falhas que os fãs de quadrinhos e fãs de filmes de ação desejam, longe disso, porém há milhares de quilômetros de distância que a separam dos filmes anteriores. Primeiramente, temos o elenco composto de Miles Teller (Whiplash) como Senhor Fantástico, Kate Mara (House of Cards) como a Mulher invisível, Jamie Bell (Ninfomaníaca Volume II, Billy Elliot) como O Coisa e Michael B. Jordan (Poder sem limites) trazendo uma importante mudança na etnia do personagem Tocha Humana, que é originalmente como a maioria, ou seja, branco.

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A versão de 1960 dos quadrinhos

Um personagem central como o Tocha Humana ser negro ainda é uma mudança importante para um cinema com tão poucos protagonistas de outras etnias. Os fãs xiitas precisam entender que as adaptações para a tela podem sim enriquecer os personagens e as histórias. Eis o ponto dois, na história original o quarteto era mais velho, pouco se sabia sobre a infância e adolescência dos personagens, e a história de que eram astronautas que ganharam seus poderes em uma exploração a outro planeta parecia um pouco pragmática demais. O QG do Quarteto era espalhafatoso com um 4 pregado num prédio espelhado no meio da cidade.

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O Tocha humana em nova versão (Michael B. Jordan)

Nesta nova adaptação do diretor novato, Josh Trank (Poder Sem Limites, 2012) escolheu  mostrar um pouco infância de Reed Richards (Senhor Fantástico) e como ele conheceu Ben Grimm (O Coisa). E como os dois trabalharam até sua adolescência num dispositivo rudimentar que permite transportar matéria para outra dimensão. Os demais personagens também foram retratados como adolescentes, incluindo o vilão Dr. Doom (Toby Kebbell) cujas motivações para ter virado “o cara mau” da história parecem uma falha de roteiro gigante do filme. A relação entre o Tocha Humana e a Sue Storm, irmãos nos quadrinhos e no filme, pareceu mal trabalhada e conturbada, partindo do que os silêncios deixaram transparecer. Mas em compensação, os efeitos especiais melhoraram, sendo possível por exemplo ver expressões faciais no personagem “O Coisa” o que foi impossível nos dois filmes anteriores.

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A Tecnologia ajudando a construção de personagens

O filme deixa brechas para uma continuação e espero que essas sequências possibilitem uma construção de uma história não tão introdutória dos personagens, e aí sim termos de verdade a esperança de um Quarteto Fantástico que impressione mesmo com os direitos ainda na Fox, assim como foi com X-men: Primeira Classe. E ah, quem está esperando pelas famosas cenas pós-créditos, pode se decepcionar e perder tempo, pois não há nenhuma. No mais, um filme que vale a diversão e vale sim a sua ida ao cinema, ao contrário do que as críticas negativas interessadas em filmes de super heróis com cenas de ação e pancadaria sem sentido indicam.

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Emilly Lacerda
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.
Emilly Lacerda

Emilly Lacerda

Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.

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