“Quatro Vidas de um Cachorro”: Sem Graça, Sem Carisma, Sem Emoção

“Quatro Vidas de Um Cachorro” (A Dog’s Purpose, 2017) não é um filme mais do que é um produto, como muitos que encontramos no cinema hoje em dia. Certamente aprovado diretamente do departamento de marketing dos estúdios Universal, através do simples cálculo de que um filme sobre cachorros automaticamente encontra uma potencial grande audiência, e que filmes sobre cachorros fofos morrendo levam muitos membros dessa audiência às lágrimas. Esse filme, desavergonhadamente, faz com que o expectador enfrente essa situação três vezes, com intervalos em que abusa das cenas com animais fazendo poses e caras adoráveis para a câmera.

O filme é dividido em quatro partes, na qual o espírito (alma? fantasma?) de um cachorro passa por quatro diferentes vidas, enquanto busca o seu propósito existencial (¬_¬). A premissa, por si só, é ridícula (não absurda. Ridícula.). Seria esse filme baseado em um livro de autoajuda para cachorros? Como o livro que deu origem a esse filme chegou a se tornar um best-seller?

O cachorro Bailey, com o olhar de que sabe que fez ‘coisa feia’: esse filme.

A razão, me parece, é que a história busca apelar pelo sentimento que muitos de nós temos por nossos animais de estimação. O ser humano é capaz de criar laços tão fortes com cães que acaba atribuindo a eles sentimentos e ideias que são inerentemente humanos. Podemos quase imaginar o que lhes passa pela cabeça! “Quatro Vidas de um Cachorro” serve justamente a esse fetiche humano de tentar entender o que se passa na cabeça de nossos companheiros de quatro patas. É possível imaginar um cenário em que a premissa da história tenha conseguido formar um filme de família adorável. Mas o produto final, aqui, é simplesmente deplorável.

É apelativo e manipulador, sendo invariavelmente sem graça quando tenta ser engraçado; e tacanho e brega quando tenta transmitir emoções verdadeiras. As duas histórias intermediárias não se desenvolvem a ponto de ter algo a dizer, parecendo estar lá para preencher espaço no filme, enquanto a história principal, contada na primeira e na última parte, oscila entre o sem graça e o ridículo.

Os melhores momentos do filme estão certamente nos pontos em que a cena se mostra tão embaraçosa para todos os envolvidos que não se tem alternativa a não ser rir. No melhor estilo “tão ruim que quase chega a ser bom”, me faltam palavras para descrever a cena em que Dennis Quaid descobre que o cachorro à sua frente é a reencarnação (?) de seu cão falecido 40 anos antes. Tudo o que posso dizer é que eu ri, e muito, e que me pareceu embaraçoso para todos os envolvidos no filme. Para os cachorros, principalmente.

Dennis Quaid reencontra a reencarnação de seu finado cachorro: a missão é tentar ficar sério no cinema.

“Quatro Vidas de um Cachorro” é um filme muito ruim. Certamente, ao se ver na mesma situação que eu, precisando tirar crianças de casa ou matar algumas horas no Shopping, eu entendo a sua decisão, vá em frente (embora talvez seja melhor assistir Moana mais uma vez). Fora isso, não é um filme digno do seu dinheiro ou da sua atenção, ainda mais em uma época cheia de bons filmes indicados ao Oscar no cinema.

P.S. Você deve ter ouvido rumores sobre os vídeos com maus tratos a um cachorro durante as filmagens desse filme. Bom, o vídeo é curto e muito editado, sendo difícil compreender a real extensão do que realmente aconteceu. Certamente não é algo bom, mas o vídeo não mostra nenhum cão sendo torturado ou espancado e sim chorando ao ser forçado a entrar na água fria (quem nunca?) e sendo colocado em uma situação de perigo (não fica claro quão controlada era a situação). Embora não seja algo bom para um filme que busca apelar para amantes de animais, não é algo completamente absurdo como muitos pintaram a cena. Se isso é algo que pode lhe incomodar, sugiro que procure o vídeo, assista, e decida por si mesmo.

 

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Diego Paes
Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.
Diego Paes

Diego Paes

Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.

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