Buscando fugir do filme de terror que é a política brasileira, embarcar num filme de suspense e sci-fi pode ser libertador. O escolhido, Rua Cloverfield, 10, parecia não ter nada a ver com as minhas tramas preferidas, as de futuros distópicos. Mas ué, então por que estaria o diretor do último Star Wars, J. J. Abrams, aparecendo como produtor deste filme? Pois é, aí tem. E tinha.
Imagine que você acordou de um acidente de carro em um quarto sem janelas e ao se mover você nota que sua perna está acorrentada à parede. O que você faria? Desconfiaria das intenções de qualquer pessoa que tenha colocado você nessa situação ou acreditaria que ela te prendeu ali com boas intenções? Michelle (Mary Elizabeth Winstead, a Ramona Flowers de Scott Pilgrim) não acreditou nem um pouquinho no grandão Howard (John Goodman, de Argo e coadjuvante bonzinho em um monte de filmes) quando ele diz que a salvou.
E é a desconfiança e o mistério que são responsáveis por construir toda a trama do filme em torno do Bunker em que eles estão presos. Espaço que também é habitado por Emmett (John Gallagher Jr, de Hush – a morte ouve) que concorda com Howard o quão ruim é a ideia de ir lá fora, pois estariam mais seguros aprisionados com ele.
Uma surpresa agradável do filme é ver como John Goodman se destaca no papel de vilão da história, ainda mais um vilão psicopata ex-militar conservador, mesmo tendo sua imagem associada às comédias e papeis mais fofinhos. A surpresa se estende para Winstead, cujas atuações nunca foram no papel de protagonista. Os pontos baixos do filme ficam por conta da falta de explicações sobre a invasão, mas que no final dão uma certa corda para uma possível continuação com Michelle enfrentando mais desafios e perigos para salvar a humanidade.
Com direção do estreante Dan Trachenberg, Rua Cloverfield, 10, apesar do nome não poderia nem ser classificado como uma continuação de Cloverfield – Monstro (2008), que também foi produzido por J. J. Abrams com direção de Matt Reeves, do remake Deixe-me entrar (2010). Os motivos são diversos, começando pela filmagem no estilo do primeiro A bruxa de Blair, que torna a narrativa mais cansativa quando se acrescenta o elemento do “ET invadindo cidade de Nova York”, já ultrapassado com Godzilla e King Kong.
As atuações terríveis em Cloverfield – Monstro, com atores no estilo malhação, também não ajudavam a crer que as tais filmagens eram reais e no fundo o que você deseja quando assiste ao filme é que todos morram. Para se ter uma ideia, a única atriz remotamente conhecida do público que você vai ver é Lizzy Caplan (Janis, de Meninas Malvadas). Sim, você também deseja que ela morra. Se quiser ver o primeiro Cloverfield, ele está disponível na Netflix, mas se você não gosta muito de assistir filmes trash, prefira Rua Cloverfield, 10, cujo trailer está disponível a seguir:
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.