Não sou uma maníaca por séries e nem mesmo acompanho fielmente à maioria das séries que me proponho a assistir. Admito, não encaro as séries com a mesma seriedade que o cinema, visto que faço uso delas, em geral, para desopilar e com o objetivo majoritário do entretenimento, em vez de buscar reflexões profundas e formatos artísticos. E tem gente que consegue entreter de tal forma, que passamos a considerar como arte a diversão. É o caso de “Vicious”, novo sitcom britânico que, já no primeiro episódio, consegue cativar e viciar, sem deixar dúvida alguma do nível e qualidade da produção.
![]() |
Ian McKellen e Drek Jacobi são os protagonistas de Vicious |
“Vicious” estreou nas TV’s britânicas dia 29 de abril e logo em seguida foi divulgada nos sites de download do resto do mundo. Até agora, há sete episódios confirmados para a primeira temporada, sendo um deles um especial de Natal. O enredo é simples, mas por si só, um mote para a piada. Freddie (Ian McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) são um casal gay na terceira idade, juntos há quase 50 anos. O primeiro é um ex ator um tanto egocêntrico e, por vezes, excessivamente sarcástico. O segundo era um barman quando o casal se conheceu, agora aposentado, mais dócil e gentil que Freddie, e ainda não assumido para a mãe, para quem mente dizendo que Freddie é apenas um colega com quem divide apartamento. O cenário do sitcom é basicamente o flat onde vivem e de onde entram e saem o elenco de apoio, composto basicamente por: Violet (Frances de la Tour), a amiga do casal que já passou da meia idade e aparece em vários momentos; Ash (Iwan Rheon), o vizinho jovem que acaba de se mudar; e Penelope (Marcia Warren) e Mason (Philip Voss), amigos do casal que aparecem para os chás da tarde.
![]() |
Cartaz da série |
Convenhamos que o sitcom se vende sem muito esforço quando estampa em sua capa dois grandes atores do teatro e do cinema: Ian McKellen (conhecido principalmente pelos papéis de Magneto, em X-Men, e Gandalf, em O Senhor dos Anéis e O Hobbit, nas telonas) e Derek Jacobi (ator londrino de teatro, cinema e TV, com currículo tão farto quanto, mas menos pomposo que o de McKellen). E confesso que foi exatamente este atrativo que me fez assistir à série. Costumo dizer que, depois de uma certa idade, atores de peso como o caso dos dois citados se permitem “brincar” um pouco. Há aqueles que se perdem na brincadeira e acabam sujando os nomes antes de proclamar a aposentadoria. E há aqueles que são categóricos e mantêm o bom gosto, mesmo nas brincadeiras. É o caso dos dois protagonistas.
Todos que têm conhecimento da orientação sexual de Ian McKellen (assumidamente homossexual) divertem-se ao imaginar a vida pessoal do ator e compará-la com os personagens de peso que interpreta. O próprio ator faz piada da situação. Em “Vicious”, pudemos matar a curiosidade e rir absurdamente do lado “bicha má” de McKellen e de seu Freddie. Derek Jacobi não fica atrás e presenteia o público com um Stuart delicado, gentil e sensível, contrastando com a personalidade de Freddie, mas igualmente engraçado. O restante do elenco é composto por atores também britânicos, com currículo mais modesto. A que mais merece atenção é Frances de la Tour, de quem você provavelmente lembrará por ter interpretado a Madame Maxime na franquia Harry Potter.
![]() |
O casal principal e Frances de la Tour |
“Vicious” é dos mesmo criadores do sitcom Will and Grace (1998 – 2006) e aqueles que assistiram à essa série (eu não me incluo no grupo) podem vir a encontrar semelhanças no formato e personagens. Particularmente, achei “Vicious” bastante oitentista. A maioria dos sitcoms dos anos 80 traz um formato mais exagerado, se aproximando do teatro filmado, com diálogos e atuações que pegam o excesso como gancho para um humor que se autodeclara, sem a necessidade de fingir um realismo. A referência é acentuada desde a música tema, Never Can Say Goodbye, interpretada pelo grupo The Communards, peça clássica das discotecas do período.
É importante mencionar que, ao contrário do formato de sitcoms americanos, geralmente mais mastigados, “Vicious” exige do espectador um repertório para entender certas deixas. Algumas referências são feitas ao cinema, TV, e a até à literatura, e caso quem assiste não conheça os produtos mencionados, perderá de usufruir uma das várias piadas de excelente gosto que recheiam “Vicious”.
![]() |
Elenco completo de Vicious |
Por fim, se torna desnecessário dizer que recomendo vigorosamente “Vicious”, e que já estou ansiosa pelo próximo episódio, tanto quanto já me causa tristeza o número modesto de capítulos da primeira temporada. Mas a experiência de ver dois monstros (no bom sentido) em papeis tão cativantes pode ser considerada um presente para o público, e como cavalo dado não se olha os dentes, apenas contemplemos e nos permitamos as boas gargalhadas que “Vicious” nos provoca.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Série muito boa, recomendadíssima ! Saudades já , quero segunda temporada pra ontem! XD
Comédia de muito bom gosto, atuações maravilhosas e infelizmente poucos episódios. Outra comédia britânica que eu adorava era The IT crowd que também consistia de poucos episódios e muito humor. E tenho que falar do querido Iwan Rheon (Ash)ele é um otimo ator, o conheci em game of thrones (Ramsay) e também pela sua música tão agradável.