Sobre os três dias da décima edição do Festival Dosol em Natal

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Observer | Foto: Luana Campelo

Tênis imundos, cabelos empapados de suor, papeis amassados com letras ilegíveis, ressaca, empurrões, gente bonita, gente feia (e que ficava mais feia ainda bêbada), mas também música boa, pessoas interessantes, cervejas de graça, e um sorriso que ilumina meu rosto até agora, mesmo depois do fim do Festival Dosol. A impressão que eu tive foi que o público presente no local não estava ali apenas para ver as bandas que queria, mas também tinha um clima de celebração, foi um momento em que as pessoas usaram para rever amigos novos e antigos, deixar a paquera rolar solta, se deliciar com a arquitetura histórica da Ribeira e se divertirem até seus corpos protestarem.

No primeiro dia de shows estavam Last Starfighters (RN), Mahmed (RN), Stereovitrola (AP), Mad Grinder (RN), Rejects (RN), Camarones Orquestra Guitarrística (RN) e Talma&Gadelha (RN). Percebeu esse monte de bandas conterrâneas? Essa é uma das coisas que eu mais gosto no Festival, essa presença forte de bandas daqui do RN, mostrando o que o estado tem a oferecer, mas essa é outra história… O primeiro dia não deu tanta gente, o que foi bom pra deixar rolar um ventinho na apertada Rua Chile. Foi uma noite tranquila, mas animada e agradável, cheia de boas energias.

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O que teve de bom: O Mahmed trouxe seu belo instrumental intimista e satisfez todas as expectativas que eu tinha sobre o show, pois estava em dúvida se eles conseguiriam ser bons no palco como são em estúdio, mas a galera que ansiava por algo mais pesado deve ter se deliciado com a desértica Mad Grinder, esbanjando seu grunge e stoner pelas caixas altíssimas. É inegável, no entanto, que as bandas mais esperadas eram Camarones Orquestra Guitarrística e Talma&Gadelha. O Camarones abusou de músicas novas, mas não deixou de tocar os sucessos antigos, e eles convidaram vários artistas pra “agregar valor” ao seu show, mas o destaque mesmo foi Flávio Dado (Fukai), que ao lado de Ynaiã, fez um solo de baterias, cada um com a sua, uma coisa linda de se ver, porém, a baixista do grupo, Ana Morena, também teve seu lugar ao sol: Ela sorria, dançava e pulava sem parar, demonstrando simpatia e desembaraço, como se sua casa fosse, na verdade, aquele palco. Talma&Gadelha, já consagrados na cena local, quando ainda estavam testando o som, já tinha gente se esgoelando e batendo palmas, então não foi uma surpresa perceber que o show lotou e que o público parecia um coral de igreja, todo mundo cantando.

O que teve de ruim: A chuva, mas isso Foca não pode controlar, né? O problema é que a água infiltrou pelo telhado do Centro Cultural, revelando várias goteiras, e uma delas estava no palco, o que poderia causar algum problema de eletricidade. Só acho.

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A paulistana Single Parents (recebendo um kame hame ha) | Foto: Luana Campelo

No segundo dia, a rua Chile já estava completamente tomada por gente de todo o tipo, na expectativa para ver Zurdo (RN), Rollercoaster (RN), Ar, tu e o vendaval (RN), Lupe de Lupe (MG), Single Parents (SP), Medialunas (RS), Cassino Supernova (DF), Petit Mort (Argentina), Alf (DF), The Sinks (RN), Hellbenders (GO), Far From Alaska (RN), Autoramas (RJ), Uh la la! (PR), Fukai (RN), Carcará na viagem (RN), Rastafeeling (RN), Digital Dubs (RJ) e Dusouto (RN), animados pela maratona de shows que tinham diante de si, com muita água e cerveja para aguentar o calor que tomou conta desse sábado de sol. Dessa vez, os shows se alternaram entre o Centro Cultural Dosol e o Armazém Hall, ao contrário da sexta feira, que foi tudo no Dosol. Foi no sábado que conseguimos fazer as entrevistas com o Mahmed, Single Parents e Sertão Sangrento, que em breve estarão no site, aguardem!

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Petit Mort, banda Argentina que cativou o público | Foto: Luana Campelo

O que teve de bom: Single Parents. Conheci a banda ainda na semana passada e de imediato gostei, então a expectativa para vê-los foi grande, mas não me decepcionei, os caras realmente fazem um pós-punk de qualidade, com muita empolgação da parte do guitarrista Zeek Underwood, que fez um show a parte com seus pulos e expressões. Outra banda que conseguiu se destacar foi Petit Mort, a argentina com vocal feminino. Com seus cabelos rosa e um sorriso no rosto o tempo todo, muita energia, dança e pulos, Michu e o baixista Luan fizeram questão de quebrar o gelo e pedir que a galera se aproximasse do palco, com o português cheio de sotaque de Luan. Com sua mistura de metal, grunge e rock alternativo, em poucos minutos, o público caiu em suas graças, que não parava quieto, inclusive essa que vos fala. Que o Autoramas é bom, isso todo mundo sabe, mas ainda assim fiquei surpresa ao ver homens grandes, barbudos e aparentemente raivosos se renderem ao rock dançante e frenético do trio, que se empolgaram tanto que o baterista, Bacalhau, acabou furando uma das caixas do seu instrumento. O show contou com a participação de artistas do Camarones Orquestra Guitarrística, Single Parents, Molho Negro e Turbo.

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Hellbenders ardendo no calor potiguar | Foto:  Luana Campelo

O que eu não vi, mas me disseram que foi bom: Aparentemente, Lupe de Lupe deram um show para ninguém botar defeito, detonando com sua mistura de punk e rock, mas também ouvi falar muito bem da apresentação do Hellbenders, que inclusive, formaram a primeira roda de pogo do festival.

O que teve de ruim: Problemas técnicos. Uma das guitarras do Single Parents pifou no meio do show, mas foi prontamente substituída, e houve problemas com o retorno e volume do som em alguns shows, além daquelas interferências que fazem um barulho agudo dos infernos.

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Skate Pirata e apenas uma das rodas de pogo que eles provocaram | Foto: Luana Campelo

Com Godhound (RN), Damage Division (RN), Sertão Sangrento (RN), Observer (RN), Skate Pirata (CE), Imminent Attack (SP), Red Boots (RN), Molho Negro (PA), Don Fernando (Austrália), Monster Coyote (RN), Los Peyotes (Argentina), Zander (RJ), Devotos (PE), Croskill (RN) e Mukeka di Rato (ES), o domingo foi o dia mais pesado, mais cansativo e também mais esperado do festival, quem estava quieto e carrancudo estava, na verdade, cansado e de ressaca por causa do sábado. Também foi o mais diversificado, tendo desde crianças acompanhadas de seus pais até aqueles clubes de motoqueiros com caras de mau. O lugar estava apinhado de gente, mas foi muito bom perceber que aquele clima de festa da sexta feira ainda estava presente.

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Skate Pirata | Foto: Luana Campelo

O que teve de bom: Dessa vez, as boazudas começaram cedo, já às 16:30, com Sertão Sangrento trazendo seu horror punk, disseminando ódio e desgraças, sendo a causadora da primeira roda de pogo do dia, com direito até a cover do Mistfits. Com uma bateria monstruosa, surge o Skate Pirata com seu skate punk oldschool, lotando o Armazém Hall. Com muitos fãs cantando, dando moshes e polgando, a banda se destaca também por causa de sua vocalista, Mônica, que no começo aparenta ser uma coisinha doce, mas nos vocais revelou ser boa no que faz. O Red Boots já está consagrado na cena local, tendo várias de suas canções sendo cantadas pelo público, que se manteve animado o tempo todo, graças à sua mistura de grunge com stoner e blues, e também à presença de palco de Luan, guitarrista do duo, que abusava de contorções e pulos. Eles também convidaram João Lemos, guitarrista do Molho Negro, que fez uma participação pra lá de especial, deixando claro a empatia e amizade que tinham uns pelos outros, o que teve um ótimo resultado. Depois disso, foi a vez do Molho Negro se apresentar e sem dúvida, foi a maior surpresa que eu tive em todo o festival. Eu estava cansada, mole, com um tremendo mau humor e nem esperava muito deles, mas quando eles entraram no palco, foram donos daquilo. Esbanjaram confiança, interagiram com o público sem parar, público este que estava completamente entregue àquele garage rock desavergonhado, e lá estava eu, só mais uma pessoa empolgada no meio daquele mar de gente comandado pelo guitarrista João Lemos. Foi realmente muito bom.

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A enérgica Molho Negro | Foto: Luana Campelo

O que teve de bom, mas eu não vi: Devotos. Eles fizeram uma roda de pogo imensa só de mulheres, então tire suas conclusões sobre isso. Mukeka di Rato, claro, era uma das mais aguardadas e pelo que soube, as pessoas se espremiam no palco pra estar mais perto dos artistas.

O que teve de ruim: Alguns horários não foram respeitados, fazendo com que uma banda começasse enquanto a outra ainda estava tocando, impedindo muita gente de ver alguns shows completos. Os problemas com o som também persistiram nesse dia.

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Luan, guitarrista e vocalista do Red Boots | Foto: Luana Campelo

Então foi isso! Demorei dois dias pra me recuperar, mas estou cheia de bons momentos vividos e conheci muita gente bacana, então valeu a pena cada noite mal dormida, a correria e as andanças. Ah, e que venha o Festival Dosol Caicó!

Não sabe quais são as bandas citadas e quer saber mais? Confira aqui (sexta-feira), aqui (sábado) e aqui (domingo).

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Confira a nossa galeria de fotos do evento:

Fotos: Luana Campelo

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Clara Monteiro
Estudante de Enfermagem que se mete em letras, músicas e desenhos. Segue a filosofia de que a vida é muito curta para gastá-la com preocupações. Dificilmente algo conseguirá surpreendê-la. Lê tudo, assiste tudo, vê o lado bom de tudo. É editora deste site.
Clara Monteiro

Clara Monteiro

Estudante de Enfermagem que se mete em letras, músicas e desenhos. Segue a filosofia de que a vida é muito curta para gastá-la com preocupações. Dificilmente algo conseguirá surpreendê-la. Lê tudo, assiste tudo, vê o lado bom de tudo. É editora deste site.

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Cidinha
10 anos atrás

O festival estava incrivel,muitas bandas massas,antigas conhecidas, e novas descobertas.E eu estava lá na roda das meninas,do Devotos.Parabéns pela matéria Ana Clara.

trackback
10 anos atrás

[…] guitarras mais lentos e fortes, foi vastamente difundido pelo Queens of Stone Age nos anos 2000. No Festival Dosol (com cobertura especial d’O Chaplin por Ana Clara e Luana Monteiro) se apresentaram […]

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