Uma casatória c’a defunta pra morrer de amor

De costas, os cinco prendem os pés aos banquinhos de madeira como quem prende raiz no quintal do mundo. E assim, como só os vivos podem fazer, começam a narrativa de batuques e incelenças para anunciar um amor que não pode viver enquanto a morte os separar.

A história traz uma Maria Flor e um Afrânio, prometidos um ao outro, que se negam com um sotaque gostoso abarrotado de gíria regional. E uma Maria Flor e um Afrânio que se apaixonam como só os corações que palpitam podem permitir.

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Mas, muito além do amor, uma promessa de noivado para o submundo muda todo o rumo da vida – e da quase morte – de Afrânio. Sem perceber, o rapaz acaba pedindo em casamento uma noiva defunta e o destino do seu matrimônio muda de plano, tanto no ideal quanto no vital. Mas como “o que há de ser tem muita força”, principalmente quando o que tem de ser é amor, os arrudeios não impedem a história de terminar feliz.

IMG_0147aO espetáculo A Casatória C’a Defunta, do grupo de teatro Cia. Pão Doce, de Mossoró, é como um acalanto gostoso para todos os sentidos humanos, dos visuais aos auditivos. Passa pelas músicas originais, se mostra na beleza das cores e nos detalhes dos figurinos, no roteiro que faz poesia pra trocar os votos de “na alegria e na tristeza” da vida real por:

“A minha flor é boa que nem terra
que faz brotar todo tipo de semente
Toda meiga
Gosta dos passarinho
dos animal
De rir
e de cantar quando cai chuva miúda
Toda sabida
Sabe história das estrelas
da lua
e do universo
Ela é assim
que nem o gosto sumoso de uma fruta madura
Que nem o calor
de um abraço bem forte…”

Que é pra chegar no coração da gente. Como a paz de ter um ombro pra encostar a cabeça e sorrir com o tamanho da alegria que é ver o teatro potiguar se apresentar bonito desse jeito.

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O Mundo Inteiro é um Palco trouxe em seu terceiro ano uma noite de domingo cheia de amor no meio da calçada, pra esse mundo inteiro respirar e manter viva a crença na cultura local. E pensar que ainda tem mais seis dias para sair suspirando do Barracão dos Clowns de Shakespeare…

E os suspiros não seriam possíveis sem:
A dramaturgia e a música de Romero Oliveira;
direção, figurino e cenário de Marcos Leonardo;
atuação de Lígia Kiss, Mônica Danuta, Paulo Lima, Raull Davyson e Romero Oliveira;
e a técnica de Bárbara Paiva.

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