Voltando da “aposentadoria”, Jason Bourne mostra valor no mundo pós-Snowden

Em 2007, O Ultimato Bourne encerrava de forma excelente a franquia inspirada nos livros de Robert Ludlum. Sem querer perder o público, a Universal Studios produziu um spin-off estrelado por Jeremy Renner, já que Matt Damon só retornaria sob a direção de Paul Greengrass. Com o fiasco da iniciativa, os estúdios trouxeram de volta a dupla Greengrass-Damon, 4 anos depois, para mais um capítulo.

Em Jason Bourne (2016), a ex-agente Nicky Parsons (Julia Stiles) descobre novas informações sobre o Treadstone, projeto que transformou Bourne num assassino do Governo. Porém, o responsável pela CIA Robert Dewey (Tommy Lee Jones) e a ambiciosa Heather Lee (Alicia Vikander) caçam Bourne para evitar que essas informações sejam reveladas.

O roteiro de Greengrass e Christopher Rouse, editor do filme, repete a estrutura narrativa da série, onde o protagonista precisa sair de seu anonimato para se proteger ou provar algo. Desta vez, a CIA junta os cacos após a dura exposição sofrida nos episódios anteriores. Somado a isso, a produção abraça os feitos reais de Edward Snowden, analista de sistemas que revelou programas de vigilância global dos EUA. Portanto, enquanto Dewey e Lee tentam impedir que Bourne volte a denunciar a agência, também lutam para pôr em prática um novo e abrangente sistema de vigilância chamado Iron Hand.

Julia Stiles também volta à franquia
Julia Stiles também volta à franquia

Embora pincele superficialmente sobre o debate entre liberdade individual e a vigilância invasiva em prol da segurança, o foco aqui jamais é desenvolver o tema (como nunca foi na franquia), mas usá-lo como pano de fundo.

Entretanto, o roteiro se limita a reciclar a fórmula anterior. Novamente lidamos com flashbacks imprecisos; memórias importantes acionadas gradativamente; um misterioso passado do protagonista; e projetos governamentais falidos que são substituídos por outros idênticos. Outro ponto negativo é a questão pessoal envolvendo Bourne e o assassino que o caça (Vincent Cassel), ganhando desnecessário destaque.

O elenco segue eficiente. Jones, Vikander e Cassel formam um interessante trio de obstáculos que não precisa fazer muita força para entregar atuações convincentes, mas é Damon quem concentra as atenções. O ator acerta na medida em sua interpretação contida e de poucas palavras. Não são muitos os profissionais que conseguem desprender carisma apenas através de suas feições imutáveis (e, nesse caso, é um acerto do astro e não falta de recurso).

Vikander e Damon em estilos parecidos de atuação
Vikander e Damon em estilos parecidos de atuação

Magistralmente conduzidas, as complexas sequências de ação acabam sendo o ponto alto. A parceria entre diretor Greengrass, o editor Rouse e o diretor de fotografia Barry Ackroyd resulta em momentos ofegantes e muito bem conduzidos. As imagens realizadas com câmera na mão se aproximam e se distanciam da ação com frequência. O incrível é que, em toda a duração (exceto no embate final), as cenas são compreensíveis. O expectador consegue “se localizar” mesmo com as filmagens ocorrendo tão próximas. Destaque para a sequência inicial, que compreende perseguições em meio a violentos protestos, e para a final, atormentando o trânsito de Las Vegas.

Jason Bourne é um ótimo exemplar do seu gênero e mais um excelente capítulo da franquia bem sucedida. É verdade que acaba sendo mais do mesmo, mas é difícil que dê errado quando realizado com tantas seriedade e competência.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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