O filme Esquadrão Suicida estreou há alguns dias e, apesar das críticas não serem tão favoráveis, o que mais chamou atenção foi a personagem Arlequina, interpretada pela australiana Margot Robbie (O Lobo de Wall Street). Criada pelos cartunistas Paul Dini e Bruce Timm, a personagem apareceu pela primeira vez no universo DC na série animada do Batman (1992), em um episódio chamado Mad Love. O longa de 2016 é dirigido por David Ayer (Dia de Treinamento) e Kate Hawley (O hobbit) é a figurinista e responsável por trazer o estilo punk-rock em Arlequina, que fora tão popular nos anos 70 e 80.
Harley Quinn (ou Arlequina) é uma psiquiatra do Arkham Asylium em Gotham City. Ela é sexy, inteligente e responsável. Começou a trabalhar no asilo como estagiária quando fazia a faculdade de psicologia e seu primeiro paciente foi o Coringa. Fascinada pela história do inimigo do homem-morcego, a psiquiatra se apaixona pelo paciente, larga a carreira e entra para a vida do crime com ele.
Durante toda história das HQ’s e desenhos animados, o figurino de Arlequina começou a ser apresentado como traje de palhacinha, com a predominância das cores preta, vermelha e branca, comumente usadas para representar o vestuário dos bobos da corte. Entretanto, com o passar do tempo, o figurino dela foi se modificando. De boba da corte, a Arlequina foi se transformando numa femme fatale: as roupas ficaram mais curtas, as curvas, mais salientes e o sex appeal dominou a personagem. Na história, Harley é tão submissa ao seu “pudim” que chega a acrescentar para si a personalidade louca e psicótica do Coringa.
No filme, ela é apresentada como duas personagens, duas personalidades e, assim, dois figurinos diferentes. Primeiramente, conhecemos Harley Quinzel, a psiquiatra que trabalha no asilo em que Coringa está internado. Harley é chic, séria e sexy. Ela usa óculos, jaleco e saia lápis apertada. A saia representa a feminilidade, mas também o poder feminino. A Psiquiatra é um emaranhado de clichês eróticos prontos para explodir. Quando explode, vira a Arlequina.
Já Harley Quinn (ou Arlequina) é brincalhona, sexy e ao mesmo tempo moleca. É louca, submissa e não se importa. Ela usa a sensualidade para brincar e se empodera com isso. Tudo para ela é diversão, até mesmo os olhares libidinosos dos personagens masculinos para ela, os quais a personagem utiliza a seu favor.
O figurino de Arlequina em Esquadrão Suicida é uma mistura de todos os elementos underground da cultura pop, desde aqueles difundidos pelo punk – que defendiam o antiautoritarismo e questionavam os valores burgueses em meados dos anos 70 e 80 – até as peças íntimas expostas no traje. Arlequina usa t-shirts minúsculas, shorts curtíssimos, jaquetas, tachinhas em formato de spiked nas pulseiras, cintos e meia arrastão. Apesar de todas as mudanças no figurino da personagem, ela ainda continua com a mesma cartela de cores: branco, vermelho e preto, tendo apenas o azul sido acrescentado após a nova fase.
A personagem de Margot Robbie tem como referências do punk a estilista inglesa Vivienne Westwood, uma militante que transpunha seus ideais sociais para a moda, e o rock new wave cuja maior inspiração é a vocalista da banda Blondie, Debbie Harry.
O visual da primeira musa do punk-rock deu a personagem da DC um tom mais agressivo e ao mesmo tempo sexy. As misturas de acessórios de diversas épocas deram significado a personalidade loucamente insana de Arlequina, que usa jaqueta e t-shirts com frases como Daddy’s lil monster (Pequeno Monstro do Papai, em tradução livre) e Property by Joker (Propriedade do Coringa, em tradução livre). Isso deixa claro que ela não pertence a ninguém a não ser o Coringa. Arlequina é livre e dona de si até o momento em que vê seu amado. Ele é a peça chave que deixa a ex-psiquiatra à beira da loucura e da submissão. É ele quem a deixa vulnerável e, ao mesmo tempo, ciente de si.
Outras peças também merecem destaque no visual da personagem, como a meia arrastão, que foi mudando de status durante os séculos. A princípio usada por mulheres de “profissão duvidosa” e dançarinas de Cancan, hoje se tornou uma espécie de item sensual no guarda roupa feminino. A meia arrastão no figurino da Arlequina dá o toque sensual e ainda mais punk, juntamente com as tatuagens que ela tem nas pernas. Ela é anti-heroína e, como tal, utiliza elementos no figurino que representem esse discurso rebelde, anarquista e intimidador. O seu salto alto é agressivo e empoderador.
O cabelo dela é um caso à parte. Conhecida pelas mechas coloridas, a personagem consegue dar um toque alegre e ao mesmo tempo infantil ao usá-los divididos e amarrados. Sob referência do colorido do punk, ela ainda brinca com o infantil, romântico e ingênuo. Coisa que ela não é.
Arlequina é uma personagem que cativa pela intensidade dos sentimentos que emana. É engraçada e completamente fora dos padrões. Margot Robbie conseguiu captar a essência dela ao misturar a identidade da garota marota com a sensual. O figurino sob a responsabilidade de Hawley destacou principalmente os ideiais rebeldes e questionadores de uma anti-heroína que busca compreender o próprio comportamento desequilibrado em função de um romance insano.
Conhecendo Kate Hawley
É uma figurinista neozelandesa conhecida pela parceria com o diretor Peter Jackson na saga The Hobbit. Ela começou no teatro aos 12 anos; entretanto, foi no filme inglês The Ride (2003) que ela obteve seu primeiro crédito como figurinista.
Os figurinos de Kate podem ser vistos nos seguintes filmes: O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012), A Colina Escarlate (2014), No Limite do Amanhã (2014), Esquadrão Suicida (2016), entre outros.
Estudante de jornalismo, aspirante a figurinista e fã incondicional de Grace Codington, Anna Wintour, Nina Garcia e Miranda Priestly.
Frase favorita: “That’s all” .