Ingressos, bebidas e comidas mais caras em relação ao ano passado, bandas que já haviam tocado no dia anterior – por conta em parte do cancelamento do show de O Terno porque um dos integrantes estava doente – o próprio cansaço da sexta (…). Vários podem ser os motivos que levaram o sábado de Dosol a não ser tão fervilhante como de costume. O evento oficial do festival no Facebook mostrou várias pessoas reclamando da segurança, se queixando de furtos e brigas, frustração de alguns por não poderem entrar e sair da Rua Chile quando quisessem, além dos usuais problemas de áudio, pontos que podem ser avaliados pela produção do evento. Por outro lado, uma ambulância estava a postos para qualquer necessidade, uma evolução! E a pontualidade se manteve pra alegria de quem chegou cedo e ainda queria ver a lambada quente na madrugada, além de várias boas surpresas por parte das bandas. Eis agora os destaques do dia:
![Aláfia](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_0151-2-1024x683.jpg)
Em estúdio, Carne Doce não se destaca tanto quanto ao vivo. Gravadas, as canções soltam um experimentalismo que, mesmo possuindo vários elementos interessantes, em geral suas misturas não são nítidas ou imprevisíveis e acaba por não prender tanto o ouvinte. Nos shows essa dinâmica muda: A vocalista Salma Jô faz do palco seu quarto e da música, sua oração. Fecha os olhos, grita, dança, sua, ri, cria uma atmosfera de entrega em torno da banda e da música que canta, e é essa a energia que falta em estúdio. O público é tímido nas primeiras horas de Dosol, mas foi irresistível pra alguns não acompanhar a banda.
![Carne doce](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_9815-2a-683x1024.jpg)
Com as palavras de Emilly Lacerda, “AlaMoana, como toda banda hypada por comentários na página do Spotted UFRN (assim como o Plutão já foi planeta), tem integrantes jovens e bonitinhos dentro do padrão social estabelecido, coisa que não foi pensada quanto a escolha do nome nasalado que é título da banda. Após (infelizmente) pegar a última música do show do explosivo Letto no palco do Galpão 29, seguimos para o palco Deezer, onde estava a vocalista da AlaMoana começando o show da banda, cover oficial de Emma do filme ‘Azul é a cor mais quente’, de camisa jeans, cantando com uma voz muito boa uma música apenas passável. O erro foi talvez passar o microfone para o outro vocalista também bonitinho, mas que com caras e bocas estragava toda a sua beleza visual no restante das canções do repertório, com raps no estilo Detonautas meets Jota Quest. Perfeito pra quem queria uma desculpa para sair do abafado palco Deezer”.
![A venda de materiais das bandas que tocam no evento continua uma tradição firme e forte](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_9737-1024x683.jpg)
Quando Plutão já Foi Planeta ainda estava fazendo a passagem de som e cuidando dos instrumentos, já havia uma legião de fãs frenéticos à beira do palco gritando de alegria com qualquer sinal de movimento. Por mais que eu não entenda o fascínio em torno dessa banda, é inquestionável o poder que ela tem de carregar multidões aos seus shows, sendo um dos públicos mais calorosos do dia com direito a coro de música, mãozinha no ar e tudo.
![Plutão já foi planeta](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_9966-1024x683.jpg)
Aláfia, sem dúvidas, foi não só a melhor surpresa como também a melhor banda do dia. O swing de seu funk se misturava ao soul, rap e a elementos da música africana, todos os ritmos intensos, marcantes e de raízes desprezadas. Suas canções, intercaladas por maravilhosos solos de gaita, falam de amor, do poder da ignorância e de várias questões que não recebem a atenção da sociedade brasileira, como a desigualdade social, preconceito aos negros e às religiões afro-brasileiras. Cheia de músicos fortes e distintos, vale destacar a presença da fascinante vocalista Xênia França, que em qualquer lugar que estava, roubava a atenção de todos; dona de uma voz impecável e elegante, ela enaltecia sua música e sua mensagem através da sua imagem, olhares matadores e danças ritmadas, fortes e sutis.
Em palco, Jairo Pereira faz não só da sua voz instrumento, mas todo o seu corpo. O que começou como um acompanhamento aos gestos de Xênia tornou-se, aos poucos, uma entrega quase furiosa ao que ele cantava: os gestos bruscos contrastando com momentos de pura imobilidade, as expressões que beiravam o desespero e a intensidade de sua voz era uma resposta inconsciente aos momentos de rap e crença na sua mensagem. Eduardo Brechó dividia o vocal com a guitarra, e dos três, era o mais cadenciado, mas não menos intenso. No fim do show, metade da banda tava seminua por causa do calor e o público, em êxtase.
![Aláfia](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_0168A-1-1024x683.jpg)
Com as palavras de Emilly Lacerda, “sobre o show de Thiago Pethit: Dosol lotado e uma empolgação enorme do público que não conseguia aguentar nem o povo ajustando o som. Pethit dança muito e cantou todo o repertório do seu disco ‘Rock’n’roll Sugar Darling’ (2014). As letras, que misturam português e inglês, eram entoadas pela multidão suada quase como versículos da bíblia são entoados em igrejas. Entre os destaques musicais estão a versão mais rock de ‘Nightwalker’ do álbum ‘Berlim, Texas’ (2010), o sampler de ‘Sir Mix-a-Lot – Baby Got Back’ (também presente em ‘Anaconda’ de Nicky Minaj) e o cover de ‘Blue Jeans’ de Lana del Rey mesclado à faixa ‘Devil in me’ do álbum ‘Estrela decadente’ (2010). Um show pulsante e marcante, com direito a um ardente beijo na boca entre Pethit e um garoto da plateia em cima do palco e um stage diving onde segurei a perna direita do cantor”.
![Thiago Pethit](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_0285a-683x1024.jpg)
Vencedora de três categorias (banda do ano, CD do ano e clipe do ano) no Prêmio Hangar de Música, saindo em lista da Rolling Stone Brasil, em turnê pelo nordeste e sudeste, Mahmed trouxe a energia única de uma semana dourada para uma das atrações mais aguardadas do sábado. “Sobre a vida em comunidade” fez muita gente mudar de opinião quanto à música instrumental, pois é um disco expressivo, pulsante, orgânico e intimista, e essas características ficam ainda mais evidenciadas quando a banda está ao vivo. Como era de se esperar, casa lotada e show impecável, com o baterista Ian Medeiros comandando a platéia com maestria.
![Figueroas](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2015/11/IMG_0496-1024x683.jpg)
Figueroas estava marcado para começar às três da madrugada, mas às onze da noite já tinha gente fazendo trenzinho de lambada no meio da Rua Chile. Saias e vestidos foram resgatados, braços descruzados, cansaço e cara de roqueiro do mal foram desfeitas e todos se curvaram diante da malemolência e sedução do corpo e danças invejáveis de Gilvy Simons, personalidade que inclusive deveria virar referência de moda. Um jeito lindo de terminar um dia cheio de altos e baixos musicais.
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Estudante de Enfermagem que se mete em letras, músicas e desenhos. Segue a filosofia de que a vida é muito curta para gastá-la com preocupações. Dificilmente algo conseguirá surpreendê-la. Lê tudo, assiste tudo, vê o lado bom de tudo. É editora deste site.