![Aurora Nealand e Antônio de Pádua (Foto: Victor Cavalcanti)](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/12/10523207_644727672302901_2777769295502377900_n.jpg)
Primeiro, o lugar. O Parque das Dunas é uma reserva de mais de mil hectares de Mata Atlântica encravados firmemente em vários bairros da zona sul e leste de Natal. Entre suas árvores vão se descobrindo bancos de madeira, caminhos decorados por folhas secas, fontes, parques infantis, ambientes de leitura e de reuniões de lazer, espaço para exposições, um tabuleiro de xadrez humano e dentre vários outros, também o anfiteatro.
O concreto é tímido e respeitoso, o cheiro de pipoca doce se abraça constantemente com o ar vivo, e a cada passo que eu dava, o som cristalino de um clarinete se misturava com os toques de uma bateria cadenciada, os dedilhados minuciosos e contrastantes da guitarra e do baixo, e um teclado incansável, frenético.
![4º MPB Jazz, 504 Experience Trio (Foto: Victor Cavalcanti)](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/12/10486639_644727148969620_8873795120896669811_n.jpg)
Quando sentei no banco de cimento em meio a uma multidão diversificada, atenta e silenciosa (tão diferente do suado e animalesco público de rock a que estou acostumada), a música tomou forma através do 504 Experience Trio, do pianista Tom McDermott e da cantora e clarinetista Aurora Nealand, que através de sua dança desajeitada e charmosa, sorriso incessante e uma tranquilidade contagiante, mesmo não sabendo falar português (ela ainda arranhou uns “obrigada” com seu forte sotaque), conduziu com graciosidade um primoroso show de jazz, idealizado e criado diretamente a partir das origens americanas desse ritmo musical.
Os músicos, no entanto, não hesitaram em misturar seu jazz aos ritmos potiguares e pediram que a Filarmônica Maestro Felinto Lúcio Dantas, que já tinha se apresentado, ajudasse em uma das canções executadas, que com muita criatividade e improviso, criaram um dos momentos mais interessantes do show.
Ainda promovendo essa mistura, Aurora chamou o multi instrumentista potiguar Antônio de Pádua, e juntos criaram os momentos mais agitados do show. Os dois músicos possuíam uma visível empatia, suas danças e sorrisos contagiaram a todos que os viam. Falando da plateia, o momento em que o público mais se empolgou foi quando a clarinetista americana começou a cantar as primeiras palavras de sua versão de “Ne me quitte pas”, clássico que ficou famoso na voz de Edith Piaf. A versão de Aurora começa vagarosa e cadenciada, focando em sua voz, mas depois de alguns trechos, a música dá uma guinada e se transforma num instrumental que dá espaço pra que cada artista tenha um momento solo, da bateria ao clarinete, e só depois a letra é cantada por completo. O show começou às cinco horas, e foi uma experiência inédita ver os músicos se despedirem da plateia junto com o sol.
Estudante de Enfermagem que se mete em letras, músicas e desenhos. Segue a filosofia de que a vida é muito curta para gastá-la com preocupações. Dificilmente algo conseguirá surpreendê-la. Lê tudo, assiste tudo, vê o lado bom de tudo. É editora deste site.