Quando o filme “Mesmo se nada der certo” (Begin Again, de John Carney) chegou para uma curta temporada em um dos cinemas da cidade, não dei muita bola e me passou reto, mesmo porque a única sala que o exibia era a Cinépolis VIP que, devido à economia necessária que se deve fazer quando se é uma jornalista em início de carreira, eu tento evitar. Além disso, o filme me pareceu uma comédia romântica clichê, daquelas que se vê num domingo à tarde com o namorado ou namorada, e você assiste o começo, dorme ou namora na metade, consegue pegar o final e saca tudo. Infelizmente, eu não estava exatamente enganada.
Após ver, no blog de um amigo, o nome de Keira Knightley como possível indicada ao Oscar de melhor atriz por sua atuação neste filme, logo fui atrás do filme na ânsia de justificar a presença da atriz na seleta lista. Dessa vez, terei de discordar do meu amigo e, admitir que, à exceção do desafio vocal de cantar no filme superado com êxito, Keira continua na forma de sempre e nada em sua atuação induz que ela poderá ser uma das indicadas ao prêmio de maior glamour do cinema.

“Mesmo se nada der certo” narra duas histórias com um ponto de intercessão. Dan (Mark Ruffalo) é um produtor musical em decadência, com problemas na carreira e conflitos com a esposa, de quem ele se separou há pouco, e com a filha, Violet (Hailee Steinfield), com quem ele não consegue construir uma relação íntima. Já Gretta (Keira Knightley) é uma compositora extremamente talentosa, mas sempre à sombra do seu namorado, Dave Kohl (Adam Levine), um astro pop em ascensão. Contudo, uma parceria musical e humana bastante interessante inicia-se quando Dan encontra Gretta cantando por acaso em um bar.
“Mesmo se nada der certo” é recheado por alguns clichês em tons de pastel e possui um roteiro que pode provocar sono, se você não está realmente determinado a ver o filme. A história contada (desnecessariamente) de forma não linear é simples e não possui muita originalidade – a típica questão de relacionamentos fracassados, um profissional desacreditado, uma relação de pai e filha mal-resolvida e nisso se traduz o enredo.

O que chama atenção, contudo, são os detalhes que ajudam a compor a obra. O figurino é bastante expressivo, e a trilha sonora, obviamente, nos presenteia com algumas cenas bem bonitas – destaque para aquela em que Dan vê Gretta cantando pela primeira vez e mentalmente orquestra uma banda para acompanhá-la. Keira Knightley surpreende como cantora, com uma voz doce que dá o tom para as canções que misturam um pouco de folk e blues. Trabalho interessante para o currículo bastante notável de Keira.
Mark Ruffalo é um ator esforçado, mas que, à exceção de seu personagem em Ensaio sobre a cegueira e de seu Hulk em Os Vingadores, parece nunca conseguir sair do papel de bom moço das comédias românticas. Já Adam Levine, em sua estreia no cinema, não fez feio e conseguiu cumprir bem o seu papel, apesar de que a proximidade de seu personagem, em partes, com a persona pública do cantor (e, agora, ator) ajudou bastante. Apesar disso, seu Dave não convence e nem cativa e o foco do filme acaba ficando mesmo na dupla de protagonistas Ruffalo e Keira Knightley. Já Hailee Steinfield, o talento apresentado em “Bravura Indômita”, aparece um pouco mais velha e menos carismática, como a filha rebelde de Dan.

“Mesmo se nada der certo” é um típico filme de tardes de domingo, agradável, e tem seus bons momentos, mas nada muito além disso. Apenas um número a mais no currículo da maioria dos envolvidos e um material de arquivo para aqueles que, futuramente, desejem rememorar a primeira aparição como cantora de Keira Knightley.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
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