Mulheres alteradas. O que vem à cabeça? Mulheres neuróticas? Loucas? Compulsivas? Destemperadas? Tudo bem, o termo pode até abranger tudo isso, mas também é possível que se refira apenas à capacidade das mulheres se alterarem, ou seja, mudarem, transformarem. E a maioria das mulheres bem sabe que a mudança é uma constante em vários aspectos do universo feminino: seja a mudança de humor, de roupa, de trabalho, de paixões, de prato favorito, de cabelo… mudar é praticamente o impulso que boa parte de nós usa para continuar em movimento. A peça “Mulheres Alteradas”, inspirada nos quadrinhos da argentina Maitena, com texto de Andrea Maltarolli e direção de Eduardo Figueiredo, aborda justamente as complicações, angústias e peculiaridades do universo feminino, com uma pitada generosa de humor e sarcasmo.
Na quinta-feira do último dia 24, “Mulheres Alteradas” chegou a Natal para ser apresentada em espetáculo único às 21h no Teatro Riachuelo. O elenco escalado para a apresentação foi Luiza Tomé, Flávia Monteiro e Giovanna Velasco, interpretando as amigas Norma, Lisa e Alice. A peça também conta com a participação de Marcelo Augusto, que completa o elenco, interpretando vários personagens masculinos que integram as variadas histórias da trama.
A peça tem um texto bem elaborado, e certamente esse é forte do espetáculo, uma vez que tanto cenário quanto elenco são bem enxutos. Isso exige das atrizes competência para sustentar os 80 minutos (me pareceu bem mais) de espetáculo. Felizmente, nenhuma das três falha nessa missão. É bem verdade que Marcelo Augusto não acompanha as colegas de elenco no quesito presença de palco, mas por suas participações serem sempre secundárias, a cena não fica prejudicada em nenhum dos momentos. Flávia Monteiro (mais conhecida como a eterna Carolina de Chiquititas) preenche o palco sempre que aparece e cativa com sua presença; Giovanna Velasco é responsável por boa parte das gargalhadas da noite, a menos conhecida das três atrizes se coloca à altura das companheiras de elenco e não permite ser tida como coadjuvante em nenhum momento; Luiza Tomé, por incrível que pareça, é a mais apagada das três, sua Norma não tem a mesma graça que Alice e Lisa, mas também não deixa a desejar, cumprindo bem o seu papel.
Um aspecto que muito chamou minha atenção foi a música em cena. Assisti a poucas peças de teatro em que o som tem uma presença tão forte. Uma pianista permanece tocando ao vivo durante todo o espetáculo, dando ritmo às falas e às ações, parando em momentos oportunos em que o silêncio se faz necessário, mas sempre acompanhando o texto, quase como se a música fosse uma personagem dele. Da mesma forma, em um espaço de cenário contido, a iluminação também ocupa um lugar importante, ela não só direciona a atenção do espectador como, em alguns momentos, transmite mensagens por si só.
Há quem possa dizer que o texto de “Mulheres Alteradas” é fútil e superficial. Também pode parecer repetitivo em alguns pontos, justamente pela falta de movimento e o excesso de falas. Mas nada disso chega a prejudicar o conteúdo, que se destaca pelo humor inteligente e, nas mãos de atrizes competentes, resultam em uma comédia de alta qualidade. Desafio você, leitora, a não se identificar, em algum momento que seja, com os dramas de Lisa, Norma e Alice. E desafio também você, leitor, a não enxergar no trio aspectos de alguma das mulheres presentes em sua vida. E quando isso acontecer, você refletirá sobre situações cotidianas ao mesmo tempo em que vai rir descontroladamente. E a peça terá atingido o seu objetivo.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.