O espetáculo A Falecida esteve no Teatro Riachuelo em espetáculo gratuito nessa última quinta-feira, 3. A casa ficou lotada. Já no momento da chegada, somos surpreendidos pelo cenário incrível de um campo de futebol.
Diferente de alguns espetáculos a que pude prestigiar onde estrelas globais eram as principais atrações, A Falecida tinha algo de diferente. O cenário, por exemplo, não era daqueles que só servem pra embelezar a obra e nada mais. Fico com a impressão de que tudo ali foi muito bem estudado, pensado. Digo que é um daqueles cenários inteligentes que não se limitam em transmitir um único sentido. Os atores brincam com a imaginação do público dando outros significados aos mesmos objetos cênicos. Tudo que estava em cena foi utilizado, tinha um porquê, tinha uma, duas funções, é isso o que chamamos de mise-en-scène no teatro.
Decorridos uns 10 minutos de espetáculo, eu já estava completamente hipnotizado com a energia que Lucélia Santos emanava daquele palco. Quantos anos essa atriz tem? Uns 50? Fiquei com a impressão de que ela ainda não chegara à casa dos 30! Que atriz bem treinada! Fantástica! Eu nunca tinha me surpreendido com os seus trabalhos na televisão, mas no teatro, Lucélia Santos ganha corpo, voz, força. Fiquei impressionado com sua desenvoltura cênica, sua presença. Com um corpo minúsculo, essa atriz preencheu todo o espaço do Teatro Riachuelo com a atuação da personagem Zulmira.
Foi uma partida de futebol emocionante! Em palco/campo encontrávamos os perfis de toda uma equipe “futebolesca”, digamos, presentes nos personagens. Os familiares de Zulmira eram nada mais do que os próprios técnicos de futebol. Outros arquétipos dessas personas encontradas em campo como juiz, bandeirinha, torcedor, foram caracterizados pelos demais personagens. Retrataram até Nelson Rodrigues, o autor, como personagem escrevendo a peça.
A adaptação da obra para o teatro ficou fantástica! Um espetáculo inteligente, irreverente, inovador, com atores que sabiam como deixar o público extasiado, um trabalho bonito e que deu orgulho de ver no mês em que está acontecendo a Copa do Mundo do Brasil. Certamente, A Falecida pode se tornar referência teatral aos muitos que visitaram o Brasil e puderam assisti-lo.
Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.