Tinha entre meus quinze e dezesseis anos quando decidi ler “Drácula”. O “original”, como eu chamava – e até hoje chamo. Aquelas centenas de páginas maravilhosamente pensadas e escritas pelo irlandês Bram Stoker. Já ouvira falar do mito, é claro, em suas mais diversas formas: vampiros monstruosos, românticos, feios, sedutores, sofridos, manipuladores… mas tinha a curiosidade de saber de onde tudo aquilo partiu. Qual seria verdadeiramente a primeira versão escrita, mesmo sabendo que aquela, por sua vez, bebera da fonte de inúmeros outros rumores repassados oralmente.
Próximo ano, o senhor das trevas que se sustenta de sangue e controla bichos, vítimas e seus piores pesadelos, descrito por Bram Stoker no clássico do horror de 1897, completa singelos 118 anos. Muito tempo não? Engana-se, amigo, para um vampiro, este é apenas o início da vida, o auge da adolescência e da imprudência. Não à toa, os vampiros sempre estiveram e ainda continuam em alta nos dias de hoje, como um dos mitos mais recontados e adaptados em todas as mídias imagináveis.
Adaptações literárias e reedições do clássico, então? Incontáveis. Pularemos aqui os inúmeros Anne Rice e os arremedos de qualquer coisa daquela escritora chamada Stephanie Mayer (os Cullen não são vampiros, desculpem os meus leitores apaixonados pelo melodrama fracassado de Edward e Bella). Destaco a reedição do livro de Bram Stoker que acaba de ser lançada, em outubro deste ano, pela Companhia das Letras, através do selo Penguin. A edição, que vem em formato brochura sem muitos enfeites, mas completa, traz notas e introdução de Maurice Hindle, ph.D. em literatura pela Universidade de Essex, e prefácio de Christopher Frayling, reitor da Real Academia de Artes em Londres. Em formato não tão grande ou pesado – óbvio que é necessário considerar as quase seiscentas páginas – e com belíssima capa de Rogério Borges, o livro chega ao mercado ao preço de R$ 37,90. Uma excelente pedida para quem deseja conhecer o berço de todas as histórias contemporâneas de Drácula, difundidas nas telonas, nos livros infanto-juvenis e em algumas tantas séries de TV.
E pro falar em série de TV, no fim do ano passado, a NBC apostou em uma adaptação da história de Bram Stoker. Infelizmente, a série “Dracula”, que trazia uma nova roupagem para a história de horror mais reinventada do século, só teve uma temporada, encerrada ainda em janeiro deste ano. Para todos os efeitos, vale a pena assistir à série, principalmente pela sempre fantástica atuação de Jonathan Rhys Meyers, que encarna o personagem título e dá vida a um Drácula poderoso, sutil e charmoso, mas sem desprender-se da monstruosidade que lhe é característica de berço.
Há duas semanas, os cinemas também foram contemplados com mais uma filmagem sobre o mais famoso morador da Transilvânia. Após inúmeras gravações para as telonas, desde o famoso filme expressionista alemão Nosferatu (1922), até a obra-prima encabeçada por Francis Ford Coppola e estrelada por Gary Oldman e Winona Ryder, Drácula de Bram Stoker (1992), passando por outras variadas produções nos mais diversos gêneros, do horror ao romance, com várias tentativas no trash, a nova adaptação de Drácula bebe muito da fonte do filme de Coppola, remetendo também a aspectos do livro de Bram Stoker, mas concede à obra uma roupagem própria, investindo em um roteiro que faz jus ao título: “Drácula – A História Nunca Contada”. O filme é dirigido por Gary Shore e tem no galã Luke Evans o seu protagonista. A todo tempo, tenta justificar a história do monstro, aspecto que agrada ao espectador desapegado, mas pode ofender àqueles mais conservadores no que diz respeito à obra-mãe.
Drácula é, de longe, meu personagem de horror favorito na literatura e é certo que rende roteiros maravilhosos nas mãos de profissionais criativos. Após tanto tempo do seu concebimento, histórias com menos vigor já teriam ficado esquecidas a um canto na biblioteca, mas Drácula se prova cada vez mais forte e imortal. Que a lenda continue a nutrir as artes, as festas de Halloween e os nossos piores pesadelos!
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.