A atmosfera intimista de João Capdeville

Falo hoje de surpresas, de encantamento. Falo de quando um amigo te entrega em mãos um arquivo de áudio e te diz “Você vai adorar!”. Confiei, e não é que eu adorei mesmo. Agradeço muito por ter amigos assim, que vão descobrindo as coisas e me apresentam experiências diferentes e maravilhosas. O carioca João Capdeville foi a grata surpresa da vez, trazendo no seu EP Pausa uma textura única, uma cadência de samba, de MPB e, por que não, folk.

Numa sociedade onde somos envolvidos por uma indústria “musical” que nos obriga a escutar hits sem qualquer letra trabalhada, ouvir uma verdadeira música, sentida e transbordante, é quase como um oásis em meio ao deserto das produções em série. Sentida é a palavra certa nesse momento aqui, pois essa é a impressão que temos ao ouvir a música íntima e particular de Capdeville.

Enquanto que “Lembra?” se torna uma ode a passado, dos amores ferozes que o tempo não apaga, por sua vez “Da Razão” se torna sua aceitação, conduzida por uma batida ritmada, quase um maracatu. Não sei o que falar de “O Mundo Vai Girar”, pois sobre lindezas extremas eu só sei sentir. E em “Sua Vitória” e na música título do EP, “Pausa”, podemos ver uma clara referência ao bolero, carregado de confissões sentimentais diante dos trompetes e do violão que dão ritmo à obra.

PerJOÃO CAPDEVILLE FOTO DE DIVULGAÇÃOguntado sobre o começo do seu relacionamento com a música, o cantor afirma que sempre respirou música, tendo um pai fascinado por nomes da MPB, tais como Chico, Caetano e Elis Regina, enquanto sua mãe, que é pianista, lhe apresentou ao mundo clássico, de Chopin a Liszt. E com tamanha carga cultural, não é de se admirar o grande talento na sua obra.

Conversamos com João Capdeville sobre produções independentes no Brasil, inspirações, expectativas e, claro, sobre muita música. Confira:

O CHAPLIN – O EP Pausa é o seu único trabalho divulgado?

João Capdeville – Sim. O EP Pausa é o meu primeiro trabalho divulgado.

O CHAPLIN – Como foi o desenvolvimento deste trabalho?

João Capdeville – O desenvolvimento desse trabalho se deu de forma bastante natural. Eu já tinha uma boa quantidade de músicas escritas e, com o término da minha antiga banda, resolvi focar nessas canções e colocar esse projeto pra frente. Foi aí que encontrei o Diogo Strausz, que veio a produzir este EP.

O CHAPLIN – O EP é totalmente independente?

João Capdeville – Exato. O EP é 100% independente.

O CHAPLIN – Como você enxerga esse crescimento das produções independentes no Brasil?

João Capdeville – Acho isso fantástico. Hoje em dia nós artistas não somos tão dependentes das gravadoras como acontecia antes. Acho que agora produzir um trabalho artístico é muito mais acessível. Ainda bem!

O CHAPLIN – No que a sua música se diferencia?

João Capdeville – Não sei no que minha música se diferencia para os outros, cada um vai sentir algo diferente quando ouvir. Mas pra mim ela é diferente pela carga emocional posta. Cada música é um pedaço grande meu e por isso são muito importantes e únicas pra mim.

O CHAPLIN – E a cultura do Rio de Janeiro, até onde chega sua carga referencial dentro do seu trabalho?

João Capdeville – As referências são inúmeras, de diversos ramos da arte. Seja pelas músicas, filmes e livros que gosto. Tudo isso obviamente acaba influenciando o meu trabalho de alguma forma.

O CHAPLIN – Que outras referências (filmes, cantores, escritores, etc.) lhe influenciam?

João Capdeville – Pra ser mais específico, posso citar músicos como Maysa, Jards Macalé e Chico Buarque. De leitura me agrada muito a poesia de Pablo Neruda.

O CHAPLIN – Dentre essas referências, qual o seu maior ídolo e por quê?

João Capdeville – Acho que não tenho um maior ídolo. Tenho vários candidatos mas não tenho um só específico. Todos os nomes que eu já citei antes podem ser definidos como candidatos a serem meu maior ídolo.

O CHAPLIN – Pausa traz uma música muito intimista, apresentando amores que passam, lembranças que voltam. Por que o amor e o passado são os seus grandes temas de debate?

João Capdeville – Na verdade, eu não escolho bem sobre o que vou escrever. Isso depende muito da fase da minha vida, dos sentimentos que estão mais presentes nos meus dias, não tem meio que uma regra pra isso. É vivendo e escrevendo. Esse EP apenas retrata uma fase da minha vida onde esses sentimentos são mais rotineiros.

O CHAPLIN – Até onde o que é cantado nas suas músicas é um reflexo da sua vida?

João Capdeville – Minhas músicas são 100% um reflexo da minha vida. Eu uso minhas músicas como uma espécie de terapia e coloco nelas grande parte do que tenho dentro de mim. Sejam experiências vividas, expectativas, tudo vai parar nas minhas canções.

joao capdeville 2

O CHAPLIN – Qual sua música favorita do EP e por quê?

João Capdeville – É difícil escolher uma música favorita. Todas são muito importantes pra mim e significam demais. Porém, pra escolher uma eu poderia citar a “Lembra?”. Acho que pela dificuldade com que ela saiu de mim. Penso que foi a mais doída.

O CHAPLIN – Por que o título Pausa?

João Capdeville – O título Pausa vem de uma necessidade, na verdade. A necessidade de, vez em quando, parar pra pensar, prestar atenção em outras coisas importantes que estão ao redor, pensar sobre a própria vida e a bagagem que se carrega dela, sobre o presente, o futuro. Simplesmente parar pra pensar. É tão raro hoje em dia as pessoas abrirem uma brecha nas suas rotinas agitadas pra dedicar um tempo à outras coisas que não trabalho e dinheiro. O título Pausa pra mim representa isso: prestar atenção no que está na nossa frente, mas esquecemos de dar importância.

O CHAPLIN – Como andam os planos para o próximo EP ou até mesmo o álbum de estreia?

João Capdeville – Os planos para um próximo trabalho começaram assim que terminei de gravar o Pausa. Tenho trabalhado em várias músicas novas e já tenho uma quantidade considerável de material. Quem gostou do Pausa pode esperar algo mais em breve.

Escute o EP:

https://soundcloud.com/joaocapdeville/sets/pausa

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Gustavo Nogueira
Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.
Gustavo Nogueira

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Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.

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9 anos atrás

[…] O cantor carioca João Capdeville também lançou nessa semana o seu segundo videoclipe. A faixa escolhida foi “O Mundo Vai Girar”, do seu EP “Pausa” (2014). A música do João é doce, delicada, um verdadeiro fim de tarde no Arpoador e não menos que isso, o vídeo acompanha a mesma sensibilidade. Nós d’O CHAPLIN já tínhamos conversado com o cantor em setembro do ano passado e você pode ler a entrevistar completa aqui. […]

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