O cinema brasileiro em total ébrio: as dificuldades e a volta por cima da Cinédia

Como já falei na postagem sobre o filme de Humberto Mauro “Ganga Bruta”, a Cinédia, primeira indústria cinematográfica brasileira, abria as portas em 1929 com um projeto bastante ousado para época, que consistia em buscar fazer uma mistura entre a linguagem americana com histórias do cotidiano brasileiro. Porém o projeto não deu muito certo inicialmente, apesar de ter lançado grandes filmes que marcam a história do cinema brasileiro como Ganga Bruta, Lábios Sem Beijos, Bonequinha de Seda, Alô Alô Carnaval etc. As bilheterias da época não refletiram a pretensão de Adhemar Gonzaga, o fundador e presidente da Cinédia.

Carmem Miranda e sua irmã Aurora Miranda em "Alô Alô Carnaval" (1936)
Carmem Miranda e sua irmã Aurora Miranda em “Alô Alô Carnaval” (1936)

Outro grande fator que prejudicou muito as bilheterias da Cinédia foi a chegada do som ao cinema. O público agora, mesmo não entendendo o que se estava falando, preferia a novidade do som do que continuar a assistir a filmes mudos. Vale lembrar que mesmo sem entender as fala, os ruídos (sons diversos) gerados prendiam a atenção do espectador.  Logo a Cinédia se viu obrigada a importar os melhores equipamentos de captura de som direto para iniciar a produzir filmes com falas sincronizadas.

As produções sonoras da Cinédia traziam uma novidade: as histórias apresentavam os grandes nomes da rádio agora como estrelas dos filmes e dentro do enredo os mesmos faziam números musicais; o intuito dessa nova produção era fazer com que os ouvintes da rádio migrassem para os cinemas. Vale lembrar que na época ainda não existia TV’s  e logo o público sentia muita curiosidade de ver seu artista preferido, saber como ele era.

O_ebrio

Inicialmente os filmes fizeram um grande sucesso, porém ainda não conseguiam ser grandes bilheterias mesmo revelando uma das grandes estrelas do cinema brasileiro: Carmem Miranda. Em 1946 Adhemar Gonzaga oferece a Gilda de Abreu uma produção que teria como enredo uma adaptação de uma peça teatral de grande sucesso escrito pelo cantor e ator Vicente Celestino, que na época era um dos grandes artistas brasileiros. Na obra, acompanhamos a história de Gilberto Silva (Celestino), um jovem rico do interior cujo pai perde a fazenda e o deixa na miséria. Sem apoio de ninguém, Gilberto vai para a cidade grande, onde começa a perambular até conhecer um padre que abre suas portas para o personagem e o ajuda a procurar emprego e a aplicar seu talento musical. Então, Gilberto se inscreve num programa de calouros, começa a ganhar notoriedade e algum dinheiro para terminar seu curso de Medicina. No hospital, Gilberto conhece sua futura esposa, Marieta. Depois de alguns acontecimentos envolvendo familiares e a perda da esposa, ele decide viver como um fantasma, começando a se afogar na bebida e na vagabundagem. O famoso clipe de “O Ébrio” é cantado num bar nas cenas finais do filme.

O filme foi um sucesso o público lotava as salas fazendo com que O Ébrio se tornasse uma das maiores bilheterias da história do cinema brasileiro e só o dinheiro arrecadado nas primeiras sessões já possibilitou a criação da primeira empresa de distribuição cinematográfica do Brasil:  a Cinedistri.  Apesar do filme trazer uma história totalmente brasileira, tem muitas caraterísticas americanas, como o star system, os planos usados durante a construção do filme, a construção das elipses temporais, o uso de flashbacks e de um narrador durante quase todo o filme.

Quem tiver curiosidade e quiser assistir a essa obra do cinema brasileiro, logo abaixo disponibilizo o filme hospedado no YouTube. Basta apertar o play!

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Cicero Alves
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
Cicero Alves

Cicero Alves

Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.

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