Como já falei na postagem sobre o filme de Humberto Mauro “Ganga Bruta”, a Cinédia, primeira indústria cinematográfica brasileira, abria as portas em 1929 com um projeto bastante ousado para época, que consistia em buscar fazer uma mistura entre a linguagem americana com histórias do cotidiano brasileiro. Porém o projeto não deu muito certo inicialmente, apesar de ter lançado grandes filmes que marcam a história do cinema brasileiro como Ganga Bruta, Lábios Sem Beijos, Bonequinha de Seda, Alô Alô Carnaval etc. As bilheterias da época não refletiram a pretensão de Adhemar Gonzaga, o fundador e presidente da Cinédia.

Outro grande fator que prejudicou muito as bilheterias da Cinédia foi a chegada do som ao cinema. O público agora, mesmo não entendendo o que se estava falando, preferia a novidade do som do que continuar a assistir a filmes mudos. Vale lembrar que mesmo sem entender as fala, os ruídos (sons diversos) gerados prendiam a atenção do espectador. Logo a Cinédia se viu obrigada a importar os melhores equipamentos de captura de som direto para iniciar a produzir filmes com falas sincronizadas.
As produções sonoras da Cinédia traziam uma novidade: as histórias apresentavam os grandes nomes da rádio agora como estrelas dos filmes e dentro do enredo os mesmos faziam números musicais; o intuito dessa nova produção era fazer com que os ouvintes da rádio migrassem para os cinemas. Vale lembrar que na época ainda não existia TV’s e logo o público sentia muita curiosidade de ver seu artista preferido, saber como ele era.
Inicialmente os filmes fizeram um grande sucesso, porém ainda não conseguiam ser grandes bilheterias mesmo revelando uma das grandes estrelas do cinema brasileiro: Carmem Miranda. Em 1946 Adhemar Gonzaga oferece a Gilda de Abreu uma produção que teria como enredo uma adaptação de uma peça teatral de grande sucesso escrito pelo cantor e ator Vicente Celestino, que na época era um dos grandes artistas brasileiros. Na obra, acompanhamos a história de Gilberto Silva (Celestino), um jovem rico do interior cujo pai perde a fazenda e o deixa na miséria. Sem apoio de ninguém, Gilberto vai para a cidade grande, onde começa a perambular até conhecer um padre que abre suas portas para o personagem e o ajuda a procurar emprego e a aplicar seu talento musical. Então, Gilberto se inscreve num programa de calouros, começa a ganhar notoriedade e algum dinheiro para terminar seu curso de Medicina. No hospital, Gilberto conhece sua futura esposa, Marieta. Depois de alguns acontecimentos envolvendo familiares e a perda da esposa, ele decide viver como um fantasma, começando a se afogar na bebida e na vagabundagem. O famoso clipe de “O Ébrio” é cantado num bar nas cenas finais do filme.
O filme foi um sucesso o público lotava as salas fazendo com que O Ébrio se tornasse uma das maiores bilheterias da história do cinema brasileiro e só o dinheiro arrecadado nas primeiras sessões já possibilitou a criação da primeira empresa de distribuição cinematográfica do Brasil: a Cinedistri. Apesar do filme trazer uma história totalmente brasileira, tem muitas caraterísticas americanas, como o star system, os planos usados durante a construção do filme, a construção das elipses temporais, o uso de flashbacks e de um narrador durante quase todo o filme.
Quem tiver curiosidade e quiser assistir a essa obra do cinema brasileiro, logo abaixo disponibilizo o filme hospedado no YouTube. Basta apertar o play!
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.