“Uma lona abandonada e assombrada, às costas de uma cidade.
Uma tragédia que levou um circo ao esquecimento.
Um palhaço sobrevivente.
Um mágico preso dentro de um espelho.
Um palhaço que perdeu a cabeça.
Uma trupe fantasmagórica faz um pacto para devolver ao circo do trapezista cego a seus tempos de esplendor.”

Reza a lenda que o primeiro trapezista cego do mundo deixou seu legado entre tendas e lonas circenses num grupo potiguar. Toda a performance e habilidade no trapézio fizeram dele um mito que se entrelaçava pelos ares do picadeiro. Até que um dia, uma forte tempestade devastou o circo. Lá de cima o trapezista gritava emocionado “agora eu posso ver!”. Mas infelizmente, ele não sobreviveu pra ver a sua história virar espetáculo.
Se vivo, o artista veria sua memória eternizada em palco de teatro pelo seu amigo palhaço e o mágico que acabou preso dentro de um espelho. Em meio à tragédia, damos risadas durante os causos e contos da peça que também é circo.
“A lenda do trapezista cego”, encenada pelo grupo Tropa Trupe, é uma história triste que é honrada nas lembranças de quem já foi esquecido. A mulher barbada, o domador de animais e o faquir já não aparecem em apresentações tradicionais, mas aqui, deixam seus relatos cômicos sobre a tragédia anunciada e a necessidade de se reinventar para acreditar que a trajetória valeu a pena e continuará viva enquanto ainda houver quem aprecie a magia circense.
A apresentação de “A lenda do trapezista cego” foi sediada pelo palco do Teatro Riachuelo, no último domingo, 25, pelo projeto Jornada Cultural. E é uma delícia ver plateia cheia para apreciar o que é da nossa terra. É preciso cultivar para enxergamos que a nossa arte também brilha e encanta. Que ela nos “aponte um resposta mesmo que ela mesma não saiba e que ninguém a tente complicar! Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer”. E que ela se equilibre, entrelace e nunca morra nos ares dos teatros, dos circos e das ruas. Porque metade de mim é plateia, a outra metade é orgulho.