Adriane Garcia nasceu em Belo Horizonte, em 1973. Escreve poesia, infanto-juvenis, contos e dramaturgia. Ela venceu o Prêmio Nacional de Literatura do Paraná “Helena Kolody”, em 2013, com ”Fábulas para adulto perder o sono”. Publicou em 2014 ”O nome do mundo”, pela editora Armazém da Cultura. Integra o site Escritoras suicidas e colabora na Revista Mallarmargens. Tem poemas publicados em várias revistas, como CULT, Vox, Germina, Diversos Afins e Vida Secreta. Seu livro premiado sairá em breve pela editora Confraria do Vento.
Fizemos uma entrevista com ela, falando sobre sua vida e seu trabalho. Confira:
O CHAPLIN: Como é ser uma autora premiada?
É muito bom, porque traz alguma visibilidade que sem o prêmio não teria no mesmo espaço de tempo, funcionando como uma aceleração para que mais pessoas saibam da minha literatura e também significa que o trabalho chama alguma atenção entre tantos outros também dignos de atenção que foram inscritos. Enfim, dá certa confiança, apesar de, claro, não garantir o que você escreverá à frente. Eu só tenho a agradecer pelo prêmio que ganhei.
O CHAPLIN: Quais foram suas primeiras leituras?
Cecília Meireles (Ou isto ou aquilo), Lúcia Casasanta (As mais belas histórias) , Irmãos Grimm, Esopo, Hans Christian Andersen, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mario Quintana, Aluísio Azevedo, Érico Veríssimo, Machado de Assis. Lembrando-me aqui do Robinson Crusoe, que li bem cedo. E o José de Alencar que li todo. Adorava. Ninguém hoje fala do Alencar ou, quando fala, é um não gostar. Devo ser a única que gostou de Alencar (risos). Eu fui leitora de clássicos, porque era o que tinha na biblioteca das escolas. Eu lia sempre, pegava um livro, terminava e ao devolver pegava outro. Foi ininterrupto isso. Mas sempre os clássicos. Raramente algo fora do cânone, não porque eu queria, mas porque o que me era dado a conhecer eram esses. Não lamento, de forma alguma, porque o que não li à época procuro ler agora. Ainda complemento minha formação de leitora, que, principalmente, no que diz respeito à literatura contemporânea estrangeira é muito defasada.
O CHAPLIN: Sobre sua versatilidade na escrita, imagino também que haja um grande e diverso acervo de leituras. Acertei? Você lê de tudo também?
Ah, creio que isto se deva a não ter lido apenas literatura. Li e leio Filosofia, História, Biologia, Geografia, revista em quadrinho, bula de remédio, livro de anatomia, dicionário, outdoors… Houve um tempo grande em que o que passava na minha mão ou na minha frente eu lia. Hoje sou mais seletiva, até pelo tempo livre ter escasseado. Mas devo minha versatilidade ao fato de ser inclusiva, conciliadora e, por resultado, eclética. A poesia é feita do sumo disso tudo. E na poesia entra a leitura da letra, a leitura da imagem, a leitura da cena cotidiana, a leitura do que ouço nas músicas, a leitura dos signos todos que, de forma única, cada um decodifica, quando pensa. Ter tido contato com o texto de muitas peças de teatro brasileiras e estrangeiras, com o trabalho teórico de diretores teatrais também somou muito para mim.
O CHAPLIN: Falando de poesia: o que mais você gosta de ler?
Gosto de ler a moçada nova e bem viva, fazendo poesia no tempo que habito, junto comigo e gosto de recuperar o tempo perdido lendo os autores que não li, como a russa Anna Akhmátova, da qual só agora começo a apreciar a obra. Na cabeceira, Drummond, por reverência e gratidão. Aliviou-me a solidão da adolescência e a dor da pobreza em seu talento que ao me encantar, tirava-me de onde eu estava. Falava comigo, diretamente a mim e eu me sentia muito rica e confortada.
O CHAPLIN: E suas influências na poesia, quais são?
Eu acho complicado citar influência porque creio que aprendemos com todos que admiramos e aí são muitos a compor o que será nosso estilo, já outra coisa. Mas assim, consciente, eu não sei ver. Eu diria que quem muito me ensina é João Cabral, porque foi com ele que pensei muito a respeito do verso curto, da fraqueza das infinitas adjetivações, dos advérbios desnutridos que só roubam a força do verbo. Eu nem sempre pratico, mas, no geral, gosto de uma poesia com imagem, objetiva e forte no que diz. Opto pela síntese, e à exceção de poetas muito bons, que conseguem superar o palavreado, eu tenho muita preguiça das estrofes que nada dizem e que se acrescentam umas às outras. A Leila Míccolis tem uns versos sobre influência que adoro: “sofri a influência de muitos poetas que nunca li”.
O CHAPLIN: Você hoje em dia vive de arte? Dá para se manter financeiramente?
Ah, não. Isso de viver de arte é uma complicação. À exceção dos poucos que contam com estruturas de distribuição de grandes editoras, é todo um sacrifício e, mesmo destes, são raros os que podem viver disso. Teríamos que ter público leitor grande, formado. Um projeto nacional de formação de leitor que a médio prazo gerasse outra situação para a literatura. Mas isso passa pela educação brasileira, em muito falida. E falta vontade política para uma revolução na educação em nosso país. O que resta ao autor hoje, e defendo isso, é ir ao leitor, é formar esse leitor como lhe é possível.
Eu trabalho como funcionária pública e assim mantenho minha casa e sustento a mim e minhas filhas. Ao contrário, divulgar nosso trabalho dá todos os gastos de deslocamento e distribuição. Mas vamos indo. Já pensou se todos desistíssemos e parássemos? Aí sim, seria a absoluta treva. Muitas vezes perdemos a consciência do quanto é importante o um grão mais o um grão.
O CHAPLIN: Como é sua rotina? O que você mais gosta de fazer no dia-a-dia?
Minha rotina é de enlouquecer. Mas como diz uma amiga minha: “quem é não fica” (risos). É acordar às 5:00h e começar, pegar dois ônibus lotados, trabalhar 7 horas com pausa de 30 minutos para almoçar, mais dois ônibus. Casa para arrumar, roupa para lavar, saber como estão as coisas com as meninas, educar (que é repetir o que já se disse mil vezes), responder às pessoas que me escrevem por e-mail, facebook. À noite, tenho um esquemazinho escrito onde revezo leituras e vou a custo estudando italiano em casa. Também preparar algum material meu que pediram ou para enviar à editora. Agora a Iara, a mais nova, tem aprendido a cozinhar. Ajuda bastante. Fim de semana ainda tem afazeres, os que não desenvolvi na semana, mas, só de não ter que acordar cedo, é um alívio. Mas a vida é movimento e escolhas.
O CHAPLIN: Fala um pouco do seu trabalho na Escritoras Suicidas.
Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.
Relendo aqui, Regina. Beijocas. Obrigada. Adorei dar esta entrevista.