Alien: Covenant (2017) é uma decepção. Não necessariamente por ser um filme ruim. Talvez esteja longe disso. Aqui, Ridley Scott apresenta algumas ideias interessantes, outras nem tanto, deixando claro os laços entre os eventos de Prometheus (2012) com os eventos de Alien, O Oitavo Passageiro (1979). Mas ao fim, termina com um produto muito aquém da expectativa dos fãs da série, algo que talvez seja um problema intrínseco das prequels de querer explicar o que não deveria ser explicado.
É difícil falar o que faz um filme da série Alien bom. Dos cinco filmes da franquia anteriores – e nem vou reconhecer a existência dos dois Alien Vs. Predador, e nem você deveria – tivemos dois filmes excelentes, dois filmes medíocres e um bem ruinzinho. Analisar os melhores filmes da série não nos dá muitas pistas. Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e Aliens, O Resgate (1986) são filmes quase perfeitos, e fazem parte do panteão sagrado do cinema americano como Os Caça Fantasmas (1984) ou O Poderoso Chefão II (1974). Mas o primeiro e o segundo filme da série são obras completamente diferentes: o primeiro é um filme de suspense, o segundo, um filme de ação. O que os une são elementos de ficção científica que criam algumas regras básicas dentro de um universo e que precisam ser respeitadas: uma mulher forte como heroína, ambição corporativa desmedida, androides suspeitos, alusões à violência sexual contra mulheres, e uma besta fera alienígena desenhada com brilhantismo por H.R. Giger com um ciclo de vida muito bem definido (ovos, facehuggers, chestbusters, xenomorfos e uma rainha).
Alien: Covenant (2017) deixa de lado a reverência sutil de Prometheus (2012) a todos estes elementos e finca os dois pés novamente dentro da mitologia Alien, para a alegria dos fãs que não engoliram o quasi-xenomorfos e a quasi-explicação das criaturas do filme anterior. Com algumas pequenas frases, acabam-se todos os mistérios de Prometheus, confirmando as suspeitas de muitos acerca do que afinal era a geleca preta e de onde surgiram os Xenomorfos ao mesmo tempo em que deixa em aberto vários buracos na história que com certeza irão irritar muita gente.
No novo filme acompanhamos a saga da nave Covenant (literalmente “pacto”, em uma alusão bíblica à arca que carrega os 10 mandamentos – sim, aquela Arca perdida), dez anos após os eventos de Prometheus. Covenant carrega 2 mil colonizadores e uma pequena tripulação, todos em estado de hibernação, em rota para um planeta ainda por ser explorado pela humanidade. Um incidente com a nave faz com que a tripulação acorde e se depare com um sinal misterioso vindo de um planeta desconhecido, mas com condições perfeitas para abrigar a vida humana. A tripulação então decide explorar o planeta para avaliar a condição de abrigar a colônia e é óbvio que essa é uma decisão imprudente (para não dizer imbecil), que se somará a todas as outras decisões inexplicáveis que desencadearão a trama do filme.
Evitando grandes spoilers, basta dizer que o sinal foi emitido pelos únicos sobreviventes dos eventos de Prometheus: a Dra. Shaw (Noomi Rapace), agora falecida, e o androide David (Michael Fassbender, excelente como sempre). Este era o planeta de origem dos Engenheiros (criadores de toda a vida na terra) e agora é um imenso cemitério. Toda a vida animal no planeta foi dizimada e tudo o que resta é vegetação, proto-xenomorfos e David, poupado devido à sua natureza artificial.
Alien: Covenant é o segundo filme de uma planejada trilogia que busca explicar e construir em cima da mitologia da série Alien e sofre absurdamente do mal das prequels. A intenção original de Ridley Scott com três novos filmes era de caminhar a passos lentos, terminando com uma conexão com os eventos do primeiro filme, plano que foi por água a baixo com as críticas à proposta demasiadamente vaga de Prometeus. Assim, todos os elementos da série clássica são introduzidos já aqui: sim, lá estão os ovos, assim como os facehuggers, chestbusters e temos a primeira visão de um xenomorfo clássico, mas que devido à utilização de efeitos de computador parece dessa vez diferente e curiosamente menos ameaçador. O Xenomorfo agora não anda mais nas sombras, movendo-se misteriosamente e se confundindo com os equipamentos da aeronave, no mesmo princípio de Tubarão: agora ele corre à luz do dia, com tremenda fúria, mas sem a áurea enigmática e aterradora que o cercava originalmente.
Se há algo de profundamente errado com Alien: Covenant é o mesmo mal que acometeu Prometheus: acreditar que mostrar mais, explicar mais, irá acrescentar em algo na experiência dos fãs da série. Mas a tentativa de explicar algo que funcionava justamente devido ao mistério que o cercava apenas decepciona. Como a Corporação Weiland-Yutani sabia dos Xenomorfos? Qual a origem desses seres? A quem pertencia a nave no primeiro filme?
Quem se importa?!
Sim, todas essas são questões que intrigam desde os filmes originais, mas talvez seria melhor nunca terem sido respondidas. O que Ridley Scott faz aqui é o equivalente a um mágico mostrando que dentro da caixa não está uma mulher a ser serrada, mas sim dois anões. Deixar a mente dos expectadores especulando acerca dos detalhes e das minúcias da mitologia faz com que parte da história seja construída diretamente por nós. Essa é a graça de deixar algumas informações implícitas. É por isso que a tela escurece ao final de A Origem (2010) enquanto o pião ainda gira.
Em muitos aspectos, a nova trilogia Alien lembra perfeitamente as prequels de Star Wars. Nem tudo precisa ser explicado e possivelmente a explicação nunca será tão boa quanto em nossas elucubrações.
Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.
Diego,
Saudações.
*Alerto que pode conter algum Spoiler.*
Há algum tempo, prometi a mim mesma não ser tão exigente quando entro na sala de cinema. Entre uma película e outra, venho respirando fundo e Bum! Lá vem Alien-Covenant pra me dizer que existem filmes que poderiam permanecer mágicos se não bulissem tanto com eles. É como a memória de um herói morto! Todos se lembrarão de seus feitos, sua coragem, blá, blá. Mas deixem ele lá, quieto, antes que descubram seus podres ou fraquezas.
Os xenomorphos eram F*das por representarem nossos temores obscuros, as sombras que espreitam na esquina, o mais intuído do que visto. Eu tive medo em Alien-o 8º passageiro e aflição no 2º filme. Achei que Ripley merecia um fim mais digno que no 3º e ignorei o 4º filme.
Prometheus era promissor, mas não chegou lá e a sensação é que Covenant perdeu a chance de nos convencer das origens tão alardeadas no anterior. A passagem mostrando os engenheiros foi tão rápida e mal desenvolvida que fiquei boba. É só isso???? Cadê a Shaw e sua cruzada pra descobrir os porquês? Pelamordedeus, David! Será que todo androide da Weyland-Yutani vem com loucura de fábrica?
Impossível não exigir do roteiro que ele faça jus ao material tão bem elaborado em seu começo.