Era uma vez um pássaro de voz rara que se viu preso em uma gaiola. Enquanto o tempo passava, mais sufocado se sentia por habitar um espaço que ficava cada vez menor, as tentativas de fuga aumentavam e aumentavam. Parece o resumo de uma fábula infantil mas é, na verdade uma alegoria para o que foi a vida de Amy Winehouse, que faleceu precocemente em 2011, aos 27 anos, e agora, quatro anos depois, é retratada no documentário de Asif Kapadia, diretor do aclamado documentário Senna e ganhador de dois prêmios BAFTA.
O filme traz trechos da vida de Amy nunca vistos antes, são filmagens caseiras de amigos durante as diversas fases de sua vida, a Amy adolescente cantando com um grupo de amigas, no início da carreira com o primeiro empresário e grande amigo Nick Shymansky que “a descobriu”, seu grande senso de humor e também está presente a faceta tão conhecida e tão explorada de uma Amy descontrolada em um palco onde ela não queria estar. Toda essa construção narrativa é inevitável para que quem está assistindo perceba como era impossível distanciar a obra da vida pessoal da artista. A obra de Amy Winehouse era a sua vida, é assim com todos os ícones musicais que marcam gerações.
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Além do recurso de filmagens caseiras, Kapadia optou por mesclar belíssimas imagens aéreas das regiões de Londres onde Amy viveu as histórias narradas pelos seus amigos, ex-empresário, membros da indústria fonográfica e pessoas do seu convívio pessoal em depoimentos em forma de áudio, misturando também fotos até então desconhecidas da cantora e registros musicais inéditos com curiosidades das gravações dos álbuns de Amy, o primeiro Frank (2003) com suas influências jazzisticas mais tradicionais e o sucesso mundial Back to Black (2006).
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O ponto alto do filme, no entanto, é mostrar a parte mais difícil da vida de Amy, seu vício em drogas que aparentemente foi minimizado pelos seus familiares e incentivado pelo seu então marido, Blake Fielder-Civil. E principalmente como os tabloides e a mídia se aproveitaram desse fato para aumentarem suas vendas com mais material para piada, enquanto desumanizavam a figura de Amy Winehouse, enquanto os fãs e o sucesso, que aumentavam, criavam uma bola de neve impossível de ser aguentada por uma pessoa em situação de fragilidade como Amy.
Essa é a parte mais angustiante do filme, a parte em que a “gaiola” fica cada vez mais apertada para uma pessoa que desde o começo dizia não saber lidar com o sucesso. Depois deste documentário é impossível ouvir o grande sucesso “Rehab” sem pensar em como seria se a música não tivesse existido. E se Amy tivesse dito “sim, sim, sim” e ido para a reabilitação? Ela ainda estaria entre nós?
Assista ao trailer do documentário (Amy):
https://www.youtube.com/watch?v=JCtU3URXgoo
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.