As derivações modernas de Sherlock Holmes

Não é de hoje que o personagem literário criado por Sir Arthur Conan Doyle dá pano para manga, melhor dizendo, roteiro para produtoras. Sherlock Holmes surgiu nas revistas britânicas ao fim do século XIX, e logo tornou-se famoso pelo uso que faz da lógica e da dedução para desvendar os mais mirabolantes crimes ao lado de seu ajudante, escrivão e companheiro de endereço, John Watson.

Não demorou para que Sherlock Holmes ultrapassasse a fama de seu criador que, despeitado, matou-o em uma das tramas do detetive. Contudo, compadecido (ou talvez, pressionado), Conan Doyle arrumou uma forma de trazê-lo novamente a campo e presenteou os leitores com mais algumas aventuras do metódico e reservado consultor da Scotland Yard.

Desde então, não faltam reproduções da obra original, seja no teatro, no cinema e até na literatura. Em 1995, por exemplo, Jô Soares lançou O Xangô de Baker Street, livro baseado no personagem de Conan Doyle, mas com enredo que se desenrola por terras brasileiras. Trata-se de um romance policial, mas bem menos sutil e mais cômico e satírico que os livros do escritor britânico.

Nos dias de hoje, Holmes parece estar na moda, e atualmente são três as produções que o representam, sejam nas telonas do cinema, ou nos canais de TV. Algumas derivações são fieis a personalidade do personagem principal, outras preferiram fazer adaptações e dar-lhe novos enquadramentos. De toda forma, para quem gosta ou simpatiza com a “arte da dedução”, da qual Holmes foi o principal disseminador, segue a lista dos Sherlocks modernos, e minha opinião sobre eles:

O Sherlock Holmes de Robert Downey Jr.

Apesar de caricato na quase totalidade de seus personagens (inclusive Holmes), considero Downey Jr. um dos meus atores favoritos. Como Sherlock, ele aparece em dois filmes do diretor Guy Ritchie, um de 2009 (Sherlock Holmes) e sua continuação, de 2011 (Sherlock Holmes: Um Jogo de Sombras). O fiel escudeiro de Holmes, o médico John Watson, é interpretado por Jude Law. A produção funciona bem enquanto blockbuster, mas é extremamente decepcionante para os fãs do personagem da literatura. Isso porque, embora o contexto temporal e geográfico seja o mesmo dos livros e o cenário e figurino ajudem nessa reprodução, o protagonista montado para o filme é bem diferente do original. O Holmes de Downey Jr. é metido a garanhão, adora ficar semi-nu, trabalha mais o corpo que a mente, e possui um senso de humor inimaginável para os que conheciam a arrogância do Sherlock dos livros de Conan Doyle. Apenas lembrando que, nos romances, Holmes é praticamente assexuado, está sempre muito bem composto, e raramente “põe a mão na massa” de forma a precisar utilizar as habilidades que possui em artes marciais.

O Sherlock de Benedict Cumberbatch

A série de TV “Sherlock” estreou em 2010 pelo canal britânico BBC. A estória se passa em Londres, mas nos dias atuais. Apesar disso, eu a considero mais fiel que os filmes citados anteriormente. A produção conseguiu captar e transmitir o “espírito” e o clima dos romances de Conan Doyle, desde a música tema até a escolha dos protagonistas, o apartamento (221B Baker Street) de Holmes e Watson, e o desenrolar dos causos. A qualidade técnica da produção é impecável e o Sherlock do ator principal, o britânico Benedict Cumberbatch, não permite a ninguém colocar defeitos. Sério, sarcástico, direto, impaciente, inteligentíssimo, um tanto insensível, retraído e detentor de uma sede por problemas a serem resolvidos. De início, demoramos a acostumar com a aparência jovial do ator mas, antes do fim do primeiro episódio, esse passa a ser um detalhe mínimo frente a excelência de sua atuação e a genialidade da série. Aqui, John Watson é interpretado pelo inglês Martin Freeman. A série já vai para a terceira temporada, tendo cada uma três capítulos de 90 minutos.

O Sherlock de Jonny Lee Miller

 

 

A série americana “Elementary”, veiculada pelo canal CBS desde 2012, traz um contexto bastante inovador para a história do detetive britânico. A começar pelo fato de se passar nos Estados Unidos, e não na Inglaterra, embora o criador Robert Doherty tenha mantido a nacionalidade e o sotaque de Holmes. Outra peculiaridade é que, pela primeira vez, a personagem Watson é representada como uma mulher. Aqui, se torna Joan Watson e é interpretada por Lucy Liu que, mesmo habituada a papéis no cinema, não decepciona como atriz de série e cativa a ponto de não permitir a indignação dos fãs pela mudança de gênero da personagem. Nessa produção, Holmes é um ex-viciado em drogas que tem Watson, uma ex-médica, como acompanhante no período de sobriedade pós-vício. Esse Holmes, interpretado por Jonathan Lee Miller, é um meio termo entre os dois já citados. Não chega a ser tão exagerado quanto o de Downey Jr. e nem tão fiel quanto o da série britânica “Sherlock”. É um homem um tanto impassível, cheio de manias, com um senso de humor mediano e charme e ego elevados. Das três produções, é a mais livremente inspirada a nível de roteiro, mas o personagem principal não deixa a desejar.

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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