O filme “Ausência de Malícia” (“Absence of Malice”, 1981), dirigido por Sydney Pollack, poderia ser classificado como um manual de como um jornalista não deve agir. O enredo se dá em volta da tentativa de incriminação de um suspeito, Michael Gallagher (Paul Newman), pelo desaparecimento de um líder sindical. Para dar visibilidade à investigação, a polícia utiliza-se da imprensa local, através da jornalista Megan Carter (Sally Field), manipulada durante todo o filme.
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Sally Field como Megan Carter |
Megan age como a jornalista obsessiva pela notícia e determinada a informar. Contudo, a pressa para dar o furo e o comprometimento exacerbado com a função de repórter acabam se tornando aliados à irresponsabilidade.
A entusiasmada jornalista comete uma série de erros consecutivos e de extremo prejuízo para o nome de um repórter. A princípio, publica informações vindas de apenas uma fonte, sem preocupar-se em ouvir o outro lado da situação, fugindo da ética jornalística. Além disso, veicula o nome de uma amiga de Gallagher, que lhe havia dado informações em off. A personagem afirma à jornalista que fizera um aborto em determinado dia e que Gallagher estava com ela, a fim de liberá-lo das suspeitas. Pede confidencialidade quanto ao nome da fonte, pois ela trabalhava em um hospital católico e o pai era muito rígido, mas Megan ignora o pedido. No dia seguinte, a fonte comete suicídio.
Sentindo-se culpada pelo ocorrido, Megan acaba revelando a Michael o nome do policial que lhe dera a informação de que Gallagher era suspeito na investigação. Mais um erro. Outra falta de Megan é utilizar-se de microfone em um encontro informal com Michael. E, ainda, envolve-se emocionalmente com ele, o qual era um personagem importante de uma série de importantes matérias, tornando Megan inapta a separar a vida pessoal da profissional.
Ao contrário dos exemplos de “Ausência de Malícia”, o filme “O Custo da Coragem” (“Veronica Guerin”, 2003), de Joe Schumacher, traz uma jornalista embutida de princípios éticos e compromissos sociais e profissionais que chegam a ultrapassar o seu senso de perigo.
Veronica Guerin (Cate Blanchett) é uma repórter investigativa que resolve denunciar o esquema de corrupção e tráfico de drogas na cidade de Dubin, na Irlanda. O objetivo da repórter era contribuir, da forma que podia, para a diminuição dos jovens viciados.
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Cate Blanchett em cena do filme “Veronica Guerin” |
A jornalista se manteve determinada a lutar a favor da sociedade e contra os traficantes mesmo quando é vítima de tentativa de assassinato à queima-roupa em sua própria casa, quando leva um tiro na coxa.
O filme, que é baseado em uma história real, chega a dar um tom quase romântico à relação de Veronica com a profissão, uma vez que ela não se intimidava diante dos vários ataques e ameaças que se sucedem ao longo da narrativa.
Determinada e incorruptível, a repórter acaba perdendo a vida no exercício da profissão. Contudo, ao fim do filme, decorre-se uma série de benefícios sociais que sua investigação acarretou, bem como a punição para os traficantes e assassinos da jornalista.
A história de Veronica Guerin é um exemplo de como um jornalista deve se comportar diante das dificuldades da profissão e que, sim, o trabalho dos jornalistas pode e deve mudar uma realidade social. O compromisso do profissional da comunicação deve ser, acima de tudo, esse.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.