Artista que era, Chaplin via o cinema como arte! A arte de contar uma história através de imagens. Charlie Chaplin fugiu enquanto pôde do cinema que não seguisse a mesma essência. Utilizava o mínimo possível de sons ou legendas e assim foi mesmo após a evolução da indústria cinematográfica para “cinema falado”.
Em “Luzes da Cidade”, de longe uma das mais aclamadas produções do diretor, produtor, roteirista e ator, sua genialidade é visível e apreciável.
A história, como sempre, traz como personagem principal o “vagabundo”, objeto de várias risadas e emoções no decorrer do filme. Dessa vez, a musa do vagabundo é uma florista cega, encantadoramente interpretada por Virginia Cherrill, ainda que durante as gravações Chaplin tenha cogitado despedi-la. Ao contrário de seu personagem, como diretor, Charlie Chaplin era extravagantemente perfeccionista e crítico. Tinha fama de gravar a mesma cena mais que a maioria dos diretores da época, apenas para certificar-se de que estava boa o bastante.
O grande desafio do filme reside no fato de que Virginia interpretava uma garota cega. E o filme era mudo. Ok, não totalmente mudo. Já havia alguns sons sincronizados, e Chaplin (despeitado com o fato de alguns filmes, em pleno início da década de 30, já exibirem descaradamente seus atores tagarelando em alto e bom som) utilizava-se de sátiras ao cinema falado, como uma cena inicial do filme, em que os atores aparecem emitindo ruídos incompreensíveis, como um novo idioma. Além disso, ele também utilizava-se (pouquíssimo, convém dizer) de legendas. Dessa forma, cada sacada do filme era pensada com maestria, uma vez que dois sentidos eram poupados ao espectador por parte da protagonista. Em determinada cena, Chaplin parou as filmagens por semanas por não saber como prosseguir para se fazer entender pelo espectador sem a ajuda do áudio. Até que, finalmente, encontrou a sua solução e as filmagens continuaram.
O filme, além de bem recebido pela crítica e pelo público, também foi aclamado por diretores famosos, como Orson Welles, Stanley Kubrick, Federico Fellini, Woody Allen, integrando a lista dos 10 melhores filmes de alguns destes diretores, além de outros mais, e teve uma das mais brilhantes estréias do cinema. Albert Einstein esteve presente na estreia em Los Angeles.
Luzes da Cidade é essencial para qualquer cinéfilo ou mesmo para qualquer um que busca uma distração com um dos melhores e, indubitavelmente, o mais popular diretor da história do cinema.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.