O Brasil sempre buscou desenvolver uma indústria cinematográfica forte, que possibilitasse ao país entrar no mercado mundial, mas desde os primórdios cinematográficos sofremos com grandes problemas tanto no que tange à produção como distribuição e exibição. Porém, em um determinado momento da história, mais precisamente nos anos 20, o país passava por uma fase um tanto quanto peculiar em que tínhamos grandes “heróis”. Mesmo sem a possibilidade de captar financiamentos, eles faziam longas metragens cujos enredos traziam uma identidade própria e o foco narrativo era a “glorificação” de nossa identidade cultural. Esse período, que corresponde ao final da primeira década do século XX até meados de 1929, ficou conhecido no país como Ciclos Regionais Cinematográficos, pois pela primeira vez tínhamos grandes produções fora do eixo Rio-São Paulo. Estados como Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul começavam a produzir obras que marcariam a história cinematográfica do Brasil.
Um dos ciclos que mais se destacou foi o de Cataguases cujo principal nome foi Humberto Mauro, que é considerado – por muitos teóricos – o pai do cinema brasileiro. Cansados da dominação norte-americana em nosso cinemas, alguns jovens cineastas começaram a estudar técnicas cinematográficas e, com o passar do tempo, começaram a produzir seus próprios filmes, mesmo com poucos recursos. Os integrantes do Ciclo de Cataguases tinham como principal influência as discussões que ocorreram na Semana da Arte Moderna de 1922, rompendo assim com os padrões até então vigentes e buscando consolidar a Cultura Mineira. O exemplo mais importante dessa corrente foi o filme “Sangue Mineiro”, dirigido por Humberto em 1929.
Na obra, o diretor Humberto Mauro narra a história de Carmen, uma jovem que se apaixona por Roberto, mas tem o amor roubado pela irmã que volta de um período de estudos. Desiludida, Carmen tenta o suicídio atirando-se em uma lagoa, porém é salva por Max e Cristovam, dois rapazes que vivem na chácara do Acaba-Mundo. Carmen acaba morando na chácara junto de Dona Martha, Max, Cristovam e Tufy. O industrial Sampaio, pai adotivo de Carmen, fica muito preocupado com o sumiço da filha e com a repercussão que isso causaria a sua reputação, e logo manda buscá-la. O amigo de Carmem, Franco, a encontra feliz em seu novo lar, onde a beleza da moça começa a chamar a atenção de Cristovam e Max. Após algum tempo de convivência, Cristovam começa a sentir-se apaixonado por Carmen e os dois acabam se casando.
Acompanhamos, no decorrer do filme, características que nos remetem às propostas modernistas propagadas no Brasil durante a segunda década do século XX. Em primeiro lugar, o resgate às tradições folclóricas, como a Festa de São João, onde acontece a reviravolta da trama. Além disso, percebemos também na obra uma quebra de padrões sociais estabelecidos na época: Carmen usa um corte de cabelo bem curto, remetendo às lutas feministas iniciadas em vários países no decorrer do século XX; ela também aparece no filme demonstrando sua independência feminina em dois momentos, quando aparece dirigindo automóveis e quando resolve viver longe de seu tutor.
No longa, o diretor chega a expor os questionamentos modernistas de maneira mais explícita. Tendo como objeto de análise o jovem Cristovam, o rapaz traz consigo os novos valores propagados nas grandes metrópoles, influenciados por ideais estrangeiros e totalmente deturpados em relação aos costumes brasileiros, o que acaba levando o jovem a praticar atos de “desvios morais”. Ao se apaixonar por Carmem, porém, Cristovam resgata os verdadeiros valores nacionais, instigando o rapaz a perceber a sua fraqueza moral e se redimir de seus pecados. Confira essas e outras características de “Sangue Mineiro” no vídeo abaixo:
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
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