O Brasil cantou junto com Sebastião Rodrigues Maia por muitos anos, e quiçá essa cantoria perpetua-se no imaginário brasileiro. São tantos sucessos que estabeleceram Tim Maia como o “Rei do Soul Brasileiro” que nem possuímos dedos suficientes para elencar todos.
Mas existe uma fase em específico que chamou a atenção do autor que vos escreve, a fase Racional de Tim, que começa ali por meados de 1974. Por sua vez, Tim havia descoberto um livro intitulado “Universo em Desencanto”, escrita por Manoel Jacintho. Diz-se que o livro esclarece sobre a Cultura Racional e como funciona o Universo material e imaterial. Aliás, na época, Tim Maia foi um dos principais propagadores.
Durante a fase, o cantor deixou de beber, fumar e consumir drogas como costumava anteriormente. Por conta desse cuidado com a saúde, Maia estava no seu auge vocal e produziu de forma independente o disco “Racional Vol. 1”, lançado em 1975. É necessário destacar duas grandes canções deste disco “Imunização Racional (Que Beleza)” e “Bom-Senso”.
“Um fôlego e uma potência, uma clareza e uma riqueza de timbres que saltavam aos ouvidos. Estava cantando como nunca”
Vale Tudo — O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta
Letras como “Que beleza é conhecer / O desencanto / E ver tudo bem mais claro / No escuro” marcam uma das obras mais interessantes do cantor. Em sonoridade Tim nunca foi tão Soul e Funk quanto nesse disco, a exemplo da faixa que encerra o primeiro trabalho “Rational Culture” que totaliza 12 minutos com a mesma levada e uma letra bem simples em inglês.
Um ano após o lançamento, em 1976, Tim Maia lança “Racional Vol. 2” também pela gravadora Seroma. O segundo disco não é tão criativo liricamente quanto o primeiro, as harmonias continuam tão boas quanto, mas sem nenhuma canção que mereça um grande destaque. Durante essa fase, Tim se apresentou em programas de TV vestido de branco e sempre carregava um exemplar do livro debaixo do braço. Os músicos que faziam parte da sua banda também foram obrigados a mudar de vida (largar bebidas, drogas e demais prazeres), além de se vestirem de branco.
Segundo Nelson Motta, jornalista e biógrafo de Tim Maia, foi em 25 de Setembro de 1975 que o cantor se desiludiu com a seita e convocou uma coletiva para dizer que foi enganado e roubado por seu guru. Com isso, ele mandou recolher todos os discos dessa época, que hoje em dia são verdadeiros achados, e custa muito caro ter um desses em alguma coleção.
Anos após o falecimento do artista, precisamente em março de 2019, os dois volumes do disco chegaram às plataformas digitais. Contudo, a presença de um terceiro volume jamais lançado aparecia entre as novidades. Segundo histórias contadas por Silvio Essinger, nos anos 2000 o produtor Dudu Marote descobriu no Rio de Janeiro que haviam mais faixas e elas ficaram guardadas porque o cantor não tinha realizado o pagamento da gravação. E só em 2011, o produtor Alexandre Kassin fez umas gravações adicionais e lançou “Tim Maia Racional Vol. 3”.
Portanto, durante a quarentena tire um tempinho para conferir essa fase tão doida e ao mesmo tempo tão incrível desse ícone da música brasileira. Todos os discos estão disponíveis nas plataformas digitais, além de material extra disponível na biografia escrita por Motta e uma breve passagem no longa de 2014 sobre o artista.
Confira “Tim Maia – Racional” no Spotify.
https://open.spotify.com/playlist/6DypvSW8UdvhGMx9IK5VHZ?si=7FXkkqzzSL24FEYkSGxfjg
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia