Homeland estreou em 2011 com a primeira temporada mais impressionante que eu já vi. Como um “jogo de gato e rato”, o drama psicológico do canal Showtime se estabeleceu como sucesso de público e crítica ao faturar duas vezes o Emmy Awards e o Globo de Ouro de Melhor Série de Drama. Precisando de novo fôlego após o arco fechado na fraquíssima terceira temporada, a série quase volta a ser espetacular, não fosse uma pedra no caminho…
Nesta quarta temporada, a trama acompanha mais uma vez Carrie Mathison (Claire Danes, Justiça a Qualquer Preço), agora liderando uma equipe da CIA no Oriente Médio. Após a tentativa de matar o terrorista Haissam Haqqani (Numan Acar) não ser bem sucedida e vitimar inocentes, a CIA sofre retaliações políticas. Ao descobrir que Haqqani sobreviveu, Carrie consegue ser transferida para Islamabad para liderar a caça ao terrorista. Porém, a situação se complica com o possível envolvimento do governo paquistanês.
O show dos criadores de 24 Horas, Alex Gansa e Howard Gordon, e de Gideon Raff (Tyrant) tropeçou violentamente em seu terceiro ano, deixando dúvidas de que Homeland teria ainda o que oferecer, principalmente após o encerramento da história iniciada na primeira temporada. O quarto ano começou com o pé no freio, o que é aceitável por introduzir algo novo. Mesmo assim, não parecia decolar. Até que, por volta da metade, reviravoltas, tensão, explosões e shows de atuação mudaram completamente o rumo da produção.
Com um ritmo alucinante e acontecimentos dignos da atração do Showtime, a série foi tomando proporções épicas que prometiam culminar num final inacreditável, o que o fez… de certa maneira! Como a renovação nos anos anteriores esticou a trama envolvendo Carrie e Brody (Damian Lewis, Band of Brothers), os autores decidiram repetir a fórmula. O resultado foi um final indigno, inútil, monótono e desrespeitoso. Para manter o plot, os roteiristas simplesmente pausaram os acontecimentos e se dedicaram a escavar coisas do passado da protagonista explorando sua relação familiar, o mesmo erro cometido na sexta temporada de 24 Horas! A certeza de mais um ano no ar parece ter provocado um relaxamento indevido. Não vimos um término de temporada, mas um “início”.
Tecnicamente, a produção continua impecável. A opção por priorizar a locação tira qualquer vestígio de superficialidade e agrega mais realismo. Além disso, a direção mostra a mesma competência habitual, com destaque para o episódio Redux. Impressionante como a câmera nervosa de Carl Franklin (The Newsroom e House of Cards) transmite o tormento de Carrie. O elenco está mais uma vez incrível. Alguns coadjuvantes tiveram participações discretas, como vilão interpretado por Numan Acar e o Aasar Khan de Raza Jaffrey (Smash), enquanto outros conquistaram a atenção, como o ingênuo Aayan de Suraj Sharma (As Aventuras de Pi) e a Tasneem de Nimrat Kaur. Mas os donos da série são mesmo Rupert Friend (A Jovem Rainha Victoria), Mandy Patinkin (dublagem norte-americana de Vidas ao Vento) e Claire Danes.
Friend já se destacava como Peter Quinn nas temporadas anteriores. Com sua personalidade introspectiva e obcecada pelo trabalho, o ator conseguiu se aprofundar ainda mais nos dramas e conflitos internos de Quinn com sua profissão. Patinkin teve bem mais espaço nessa temporada e pôs Saul na ação, resultando em sua melhor atuação. E, mais uma vez, Danes eleva seu trabalho a um nível acima dos demais. É impressionante como a atriz ainda nos surpreende mesmo após quatro anos. As obsessões de Carrie, aliada ao seu problema de saúde, exigem de sua intérprete um constante estado de alerta e estresse, que são vivenciados com maestria tanto nos momentos de pressão como nos de implosão sentimental.
A quarta temporada de Homeland correu um sério risco ao apostar num final inútil. Porém, sacrificar toda uma obra por causa de seu desfecho insatisfatório também não é inteligente. Um fim mal elaborado interfere muito no contexto de uma história, mas se a base é boa, ela sobreviverá. Portanto, estamos diante de uma temporada excelente que tropeça na reta final. Que o próximo ano corrija esse tropeço e mantenha o bom nível de conteúdo!
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!