Durante o início do século XX o mundo das artes começava a passar por revoluções e reformulações que eram advindas principalmente pelos movimentos de vanguardas europeias como o Dadaísmo, Expressionismo, Construtivismo e o Surrealismo. Tais vanguardas tinham como principal objetivo proporcionar indagações que perpassava o campo da artístico, influenciando e modificando também o pensamento filosófico e literário por meio da revisão das manifestações de ordem estética ou comunicativa.
Dentre essas vanguardas, uma em especial buscou discutir o cotidiano e a mente humana de maneira mais profunda, baseando-se nos estudos psicanalíticos estabelecidos pelo médico neurologista Sigmund Freud. Esse movimento em especial era o Surrealismo.
Freud propôs, em sua teoria, que a mente humana detinha três níveis de consciência: consciente, que tem como aspecto a percepção dos sentimentos lógicos; pré-consciente, que busca os conteúdos mas profundos, porém que podem facilmente chegar à consciência; e inconsciente, que refere-se àquilo que está não diretamente acessível ao indivíduo. Porém deve-se levar em conta que Freud estabeleceu que o inconsciente é restringido pelo individuo, devido a lembranças traumáticas reprimidas ou por um reservatório de impulsos que constituem fonte de ansiedade, por serem socialmente ou eticamente inaceitáveis para o indivíduo.
Junto com os estudos de Freud os surrealistas traziam consigo uma crítica às morais impostas a sociedade, principalmente por meio da burguesia e da religião, pois para eles as morais sociais fazem com que o ser humano reprima seus desejos e suas vontades, impedindo consecutivamente a “evolução do indivíduo”.
Dentre as principais características do Surrealismo estava a quebra ou distorção da realidade, na qual não existia barreiras entre o sonho e a realidade. Tudo estava disperso em um “mundo” onde ambas coexistiam sem que possa se distingui-las. Apesar de ter se tornado um dos movimentos artísticos mais importantes do século XX, o surrealismo que pregava a anti-burguesia acabou exatamente por ter se tornado um arte extremamente burguesa.
A transformação em arte burguesia, para muitos teóricos, se deu pelo simples motivo de que – diferente das outras vanguardas do século XX – o Surrealismo se tornou aparentemente o movimento de um único artista, no caso Salvador Dalí, que se tornou o símbolo do surrealismo e relegou os demais artistas ao ostracismo. Por causa da fama, Dalí reatou laços com a ditadura de Franco e se tornou um pintor cultuadíssimo, chegando a vender quadros por milhões. As atitudes do pintor entraram em contradição com as intenções do Surrealismo, o que provocou a derrocada do movimento artístico.
Para os leitores que gostaram de uma pequena introdução, indico dois livros que levam o nome dessa vanguarda artística, escritos por Catrin Leroy. O autor faz um apanhado bem completo sobre o movimento, desde a sua origem ao ápice. Também indico “O Anjo Exterminador”, escrito por Bráulio Tavares que, apesar de ser uma análise do filme, traz um pouco os principais conceitos do surrealismo.
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.