Natal foi palco na última sexta-feira (28/03) do show “Monomania” da artista pernambucana Clarice Falcão. Em sua primeira aparição em solo potiguar, a apresentação aconteceu no Teatro Riachuelo com ingressos que variaram os preços entre R$80 (pista), R$90 (frisa e balcão), R$100 (plateia) e R$190 (camarotes).
Convidada pela editora-chefe deste site, recebi a missão de fazer a cobertura da apresentação que lotou o teatro com um público jovem, histérico e animado. Se me permite, caro leitor, farei agora uma breve digressão sobre como passei a acompanhar o trabalho de Clarice – a artista multimídia.
O ano é 2011. Em uma manhã qualquer de uma semana de afazeres, fui apresentada à Clarice cantora. O burburinho na internet com seu nome estava grande por causa de um vídeo produzido para o canal Parafernalha do Youtube. Até então eu conhecia Clarice Falcão como Mariana Copola, sua personagem na novela A Favorita e pelo trabalho no curta “Laços”, vencedor do concurso “Youtube Project: direct” e exibido no Festival Sundance (maior evento de cinema independente mundial), nos EUA, em janeiro de 2008.
O vídeo caseiro intitulado “Uma canção sobre amor, ah o amor…”, composto por uma produção bem simples com a atriz sentada em um sofá e o violão no colo, deu o ponto de partida para que a colaboradora aqui conhecesse também a Clarice compositora. A melodia leve e a letra autêntica da canção contavam uma história de amor em tom de tragédia com uma interpretação divertida, beirando ao característico senso de humor irônico da artista.
Depois do primeiro encontro, foi fácil continuar o interesse pelo trabalho da atriz, roteirista, compositora, redatora, cantora e comediante. Seja a participação no elenco do “Porta dos Fundos” (canal de humor mais assistido do Brasil no Youtube), seja o lançamento exclusivo no iTunes do álbum de canções autorais, o “Monomania” – em agosto de 2013, o fato é que Clarice encontrou uma maneira de trabalhar dentro do novo cenário musical e midiático, onde a forma de se fazer e consumir música e conteúdo mudou de figura com o processo de evolução do advento da internet.
Hoje, o sucesso da artista de 24 anos só faz crescer pelo Brasil e o Monomania virou show e está em turnê pelo país com as canções “De todos os Loucos do Mundo”, “Eu me Lembro” e “O que Eu Bebi” consolidadas como hits.
UM SHOW PARA JOVENS
O show previsto para começar às 21h se inicia com um pequeno atraso de 17 minutos. A plateia eufórica vai ao delírio com o “levantar das cortinas” no recinto. E lá estava ela – como comum em suas apresentações – munida de capa e guarda-chuva pretos, com a expressão vaga e o olhar perdido em meio a um público que gritava elogios.
O show, que nas três primeiras canções (Eu esqueci você, O que eu bebi e Um só) prometia ser morno, começou a ganhar ritmo com a troca de roupas da cantora que, da capa preta, passou para um vestido romântico na tonalidade branca. Com o novo figurino, a empolgação quase sem vibração deu lugar a uma Clarice sorridente que cantarolava os versos de De todos os loucos do mundo, composição feita para seu namorado. o comediante Gregório Duvivier, parceiro dela no projeto “Porta dos Fundos”.
Ao fim da música, era chegada a hora da primeira interação com a plateia. O singelo “boa noite” foi suficiente para animar ainda mais os jovens espalhados pela pista e camarotes do teatro. Com o tom de comédia, Clarice pediu desculpas pelos possíveis erros que poderiam vir a seguir, mas sugeriu que, assim como os episódios do programa “Sai de Baixo”, todo mundo deveria se divertir com a noite.
A um primeiro olhar, o que parecia simples e sem firulas, no decorrer dos 50 minutos de duração, ficou claro para a audiência o show milimetricamente calculado que estava diante de seus olhos: das luzes às brincadeiras que Clarice contava enquanto os músicos trocavam de instrumento. E por falar em músicos… Gente, que banda! Composta pelos incríveis João Bustamante, Marcelo Muller, Beto Lemos e o seu primo Ricco Viana, o show minuciosamente programado e de falas ensaiadas poderia até mesmo ser confundido com um espetáculo teatral com as trocas de instrumentos entre eles.
Na interpretação mais esperada por mim do evento, a da música Eu me lembro, (uma parceria dela com o cantor badalado, Silva), quem roubou a cena mais uma vez foi Beto Lemos que deu um show na batera. Logo em seguida vieram as versões em português e inglês da música Fred Astaire, encerradas aos passos de sapateado feitos pela cantora.
Filha do cineasta João Falcão e da roteirista e escritora Adriana Falcão, Clarice cresceu por trás dos bastidores dos espetáculos do pai e no meio das palavras e cantorias das músicas de Chico Buarque e Luiz Tatit de sua mãe. Com tantas referências e inspirações, ela – que se vê como uma contadora de histórias – não perdeu tempo na hora de inserir no show uma composição do pai, a doce canção Dona da História.
Um dos momentos engraçados não ensaiados veio com o pedido de parabéns dos fãs para a cantora americana Lady Gaga e em seguida o hit Macaé deixou a noite com um clima mais romântico e silencioso. Com a atmosfera mais aconchegante, foi a vez das canções Essa é pra você, Qualquer Negócio e Talvez entrarem em cena. O hit Oitavo Andar foi cantado em coro pelo público que – combinado com Clarice – pediu bis. A volta dela com a banda foi para cantar as músicas A gente voltou, Capitão Gancho e o grande sucesso e música título do álbum e turnê, Monomania.
Apesar dos problemas de sonorização que passearam pelo show inteiro, a apresentação da jovem artista – uma das revelações da nova MPB, aliás – levou a gritos e divertiu a noite dos jovens fãs que a aguardavam desde novembro de 2013, após o anúncio do evento na capital potiguar. Ensaiado, ou não, Clarice Falcão se despediu com um sorriso de orelha a orelha e ainda deixou no imaginário que aquela tinha sido “a noite mais animada dessa história”, no caso da sua turnê Monomania.
SETLIST:
1) Eu Esqueci você
2) O que eu bebi
3) Um só
4) De todos os loucos do mundo
5) Eu me lembro
6) Fred Astaire
7) Dona da História
8) Macaé
9) Essa é pra você
10) Qualquer Negócio
11) Talvez
12) Oitavo Andar
13) A Gente Voltou
14) Capitão Ganho
15) Monomania
Por Silvia Correia, especial para o blog O CHAPLIN
FOTOS: André Araújo