A Nação Zumbi é uma daquelas bandas que já ganhou status de cult, mas que não se acomodou, se manteve pé no chão e produzindo trabalhos de qualidade. Ressurgida após a morte do seu líder e principal compositor, Chico Science, a banda já passou por algumas mudanças de formação, a principal dela foi Jorge Dü Peixe assumir os vocais. O homônimo álbum de 2014 findou o jejum de sete anos, o novo rebento foi produzido por Kassin e Berna Ceppas, com onze faixas inéditas, a banda manteve seu vigor invejável e um som mais palatável ao grande público.
Jorge Dü Peixe (vocal), Pupilo (bateria), Dengue (baixo) e Lúcio Maia (guitarra) continuaram juntos e produzindo nesse hiato da banda. Os músicos se dedicaram ao projeto Los Sebosos Postizos, em que interpretam canções de Jorge Ben Jor das décadas de 60 e 70. Estes mesmos quatro membros foram os responsáveis pela composição das músicas do “Nação Zumbi“. Mas, apesar dos status e respeito, a banda só pôde concretizar o disco após o patrocínio do Natura Musical.
A abre-alas do álbum “Cicatriz” é uma música emblemática. “Quando fica a cicatriz, fica difícil esquecer. Visível marca de um riscado inesperado pra lembrar o que aconteceu.”, foi meu primeiro contato com o disco, só que na voz límpida de Filipe Catto no espetáculo “Eviscerados”, ao lado de Cida Moreira. Na ocasião, Catto estava munido apenas de um violão e me arrebatou com a força da letra da canção. Prontamente ao chegar em casa fui atrás do disco do Nação. Meu tardio contato com em nada atrapalhou. Pelo contrário, para tirar o atraso do tempo perdido me permiti ouvi em modo repeat semanas a fio.
Os fãs mais xiitas do Nação devem ter torcido o nariz na primeira audição, mas confesso que gostei das novas sonoridades. Destaco duas faixas que mostram bem isso: “O Que Te Faz Rir”, que conta com os vocais femininos de Lula Lira (filha de Chico Science e cantora do projeto Afrobombas, encabeçado por Jorge du Peixe) e Laya Lopes (cantora da banda O Jardim das horas). “A Melhor Hora” conta com a luxuosíssima participação especial de Marisa Monte, umas canção muito sensível que conta com um delicadíssimo arranjo de cordas. Mas a essência do som pungente das alfaias permanece em “Foi de Amor”, “Bala Perdida”, “Pegando Fogo” e “Cuidado”.
Os homens-caranguejos que já vinham se desprendendo do sua temática central, mangues, ruas e a vida a margem dos rios de Recife, em “Fome de Tudo” (2007), em “Nação Zumbi” as temáticas universais se fazem ainda mais presente. O resultado rendeu: “Defeito Perfeito”, “Nunca Te Vi”, “Nova Auroras” a já supracitada “Cicatriz” e “Um Sonho”. Esta última é outra canção icônica no disco, uma daquelas baladas que nos transportam para uma outra atmosfera, com ar idílico, é música certa pra casais apaixonados.
Esse novo som pop e mais melódico calhou muitíssimo bem com a banda, o Nação se mostra cru, de qualidade e virtuoso como sempre, porém, flerta com um som mais palatável e vendável. Este é um daqueles discos “de cabo a rabo”, que você escuta sem querer passar faixa alguma, só se senta no sofá, bota o som na vitrola, aprecia aquela breja e curte o som.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.