Dzi Croquettes, em Bandália: uma retrospectiva emocionante!

O pouco contato que minha mãe teve com a dança na adolescência serviu para que ela acrescentasse na minha educação a paixão que eu tenho por essa arte. Sempre quando me deparo com espetáculos de dança, saio completamente movido, mexido pelo que vi. Obviamente, são poucos que me fazem sentir isso. Dançar não é apenas estar em movimento, saber uma coreografia, mas o bom bailarino é aquele que possui um domínio tão técnico e orgânico do seu corpo que passa a falar corporalmente, fazendo com que o espectador entenda apenas com os seus sentidos.

Fotos: Diego Marcel

Digo isso pois na noite de sábado, 26, fui ao Teatro Riachuelo conferir o espetáculo Dzi Croquettes – Em Bandália e fiquei extasiado pelo que vi. Foi uma retrospectiva emocional de uma época que infelizmente eu não era nascido, mas pude captar a potência do trabalho daqueles artistas que iam contracultura na década de 70 no período da ditadura militar no Brasil.

A primeira vez que o grupo original dos Dzi Croquettes estreou o espetáculo naquela época foi com um potencial muito maior que nos dias de hoje. A mensagem era muito mais forte, inovadora, provocativa, satirizando o governo, as leis, as pessoas. Nesse novo espetáculo, também existe essa mesma irreverência, mas conforme a sociedade vai mudando, nosso modo de enxergar o mundo vai perdendo seu encanto.

Em certo momento do espetáculo, eu já não sabia se eu estava encantado pelo trabalho, pela mensagem, pela dança, ou pelos corpos dos bailarinos, ou tudo junto! Foi um virtuosismo incrível, admiro isso, mas fico pensando se o espetáculo não mantém presa a atenção do público pelo físico dos atores, e por isso, acaba esquecendo algo a mais.

Difícil sintetizar essa minha percepção na escrita. Na década de 70 os Dzi Croquettes também se apresentavam do mesmo modo, mas fiquei buscando ali no palco um artista como Lennie Dale, que foi um dos Dzi’s. Dale possuía um domínio tão grande na dança que o seu corpo era expressão do início ao fim de cada coreografia sem apelo/ênfase ao seu próprio físico. Quando eu assisti ao documentário, fiquei encantado pela sua performance no palco. Isso ocasionou essa minha associação.

É quase impossível não associar o primeiro trabalho dos Dzi Croquettes ao que está sendo apresentado nos dias de hoje com essa nova formação. Outro exemplo igual ao Lennie, é o Ciro Barcelos em cena. A dança não deixou o corpo do cara envelhecer! Ainda mantém o mesmo tônus, o mesmo domínio técnico e orgânico no corpo. O espetáculo prendeu minha atenção mesmo quando o Ciro Barcelos fez aquele solo maravilhoso de sapateado, em seguida, juntou todos em cena me fazendo desarmar e me entregar ao que estava por vir.

Foi um deleite de sensações e comicidade. Fico encantado quando me deparo com atores/bailarinos que sabem dançar e cantar ao mesmo tempo. O ritmo que o espetáculo tem proporciona um corretivo para alguns erros que acabam surgindo. Alguns acessórios de figurinos e da cenografia acabavam escapulindo dos seus lugares. Mas os atores são tão bem treinados que sabiam lidar com isso tranquilamente.

O espetáculo se encerra com Ciro Barcelos contando a trajetória do grupo no inicio da sua carreira. Ciro narra que aos 17 anos subiu a ladeira da rua que ficava a garagem onde o grupo ensaiava e de lá nunca mais desceu. Depois da separação do grupo e do falecimento de alguns integrantes, é muito emocionante ver o resultado de um trabalho que nunca morreu.

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Moisés Ferreira
Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.
Moisés Ferreira

Moisés Ferreira

Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.

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