‘Elena’ expõe sentimentos em formato de filme

É bastante complicado julgar ou mesmo falar sobre os sentimentos de alguém. Principalmente quando eles são exposto de forma tão honesta. Por esse motivo, é uma tarefa difícil fazer uma crítica de “Elena”, filme dirigido por Petra Costa, que conta intimamente a relação da cineasta com sua irmã mais velha, a atriz Elena Andrade.

Podemos começar falando que “Elena” é muito mais emoções que cinema. “Elena” poderia estar em um livro, em uma peça de teatro, em uma carta. Está em um filme porque o cinema também fazia parte dela. Então, o cinema adaptou-se a Elena, e não o contrário. Elena é um filme de dentro para fora. Parece ter desabrochado de um sensível desabafo de sua diretora.

A diretora Petra Costa em cena do filme, em Nova York

É necessário esforço para explicar Elena enquanto filme, justamente por ser mais que isso, mas podemos estipular da seguinte forma: trata-se de um documentário em que a diretora se faz também personagem e conta a relação com a irmã treze anos mais velha. O foco é Elena Andrade, mas o referencial é o de Petra Costa. A narrativa começa no nascimento de Petra, em Minas Gerais, com imagens de arquivo. Elena tinha apenas treze anos. Ela se segue por anos, entre Brasil e Nova York, até que, quando Petra tinha sete anos, acontece o fato marcante da história, que provocou o seu fascínio (ou talvez, incômodo fosse a palavra mais apropriada) em sua relação com a irmã. O restante do filme se torna menos temporal e mais subjetivo (não que todo ele não seja), pois o foco passa a ser a própria Petra.

Petra demonstra sempre ter tido um forte vínculo com a irmã e, ao enxergá-la pela perspectiva da diretora, é inevitável não se encantar por Elena, sua leveza e seu espírito sonhador. Elena anseia a liberdade, quer voar, mas o conflito de sua vida (e de muitas outras pessoas) é não encontrar espaço suficiente para isso. Não consegue pista suficiente para o impulso. A maioria das pessoas adaptam-se à situação que lhes castra. Elena não suporta e escolhe sub-existir que se moldar às suas impossibilidades.

Elena e Petra

Falar mais que isso seria acabar com a graça de apreciar o filme, conhecer e compreender a personalidade das personagens. Não espere, leitor, um cinema formatado, com receitas prontas. Tecnicamente falando, “Elena” é um filme arriscado. Poderia ser o tipo de doc que se faz para si próprio, e que nunca sairá da gaveta da sala de casa. E, apesar de o filme parecer ter, sim, sido feito muito mais para a diretora (e para a irmã) que para o público, tirá-lo da gaveta foi um grande acerto. Em tempos de superficialidade e cinemas caricaturais, em que os personagens têm um intuito determinado e tudo mais que aquilo se torna excesso, é uma experiência grandiosa parar a vida por uma hora e meia para emocionar-se ao ouvir a história de alguém. Principalmente, quando ela é tão bem contada.

Compartilhe

Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

Postagens Relacionadas

f4819caa3eebf26f8534e1f4d7e196bc-scaled
"Imperdoável" tem atuações marcantes e impacta com plot twist
Se um dia Sandra Bullock já ganhou o Framboesa de Ouro, após “Imperdoável” (Netflix, 2021),...
1_4XtOpvPpxcMjIoKGkUsOIA
Cobra Kai: nostalgia ao cinema dos anos 80
A saga Karatê Kid se tornou um marco memorável aos cinemas durante os anos 80. A série de filmes conta...

Deixe uma resposta

0 0 votes
Classificação do artigo
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x