Como boa fã de quadrinhos, gosto de fuçar as novidades nas prateleiras das bancas e livrarias. Na minha última busca, comprei alguns ótimos exemplares, que ao longo do mês apresentarei por aqui. Para começar minha contribuição na seção de Livros e HQs, falarei do mais novo xodó da minha humilde coleção, “Transmetropolitan – De Volta às Ruas”. Dentre os vários personagens jornalistas que já surgiram nas histórias em quadrinhos, o que melhor representa a classe, ao meu ver, é o insólito e nervoso Spider Jerusalém. A série de quadrinhos escrita pelo britânico Warren Ellis e ilustrada por Darick Robertson foi lançada originalmente pelo selo Vertigo no final da década de 90.
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O jornalista gonzo do jornal Word, Spider Jerusalém |
Em um futuro que não é datado ao certo, mas que se diz passar no século 23, a história do jornalista cyberpunk Spider Jerusalém se desenvolve. O mundo é ainda mais caótico que o que vivemos hoje em dia, existem católicos vikings, alienígenas convivendo com humanos, pansexuais e animais geneticamente modificados. No entanto, algumas coisas permanecem as mesmas, como a ganância do homem por poder, a corrupção dos governantes.
Spider Jerusalém revolve se refugiar em uma casa no topo de uma montanha tentando conseguir um pouco de sossego do mundo treslocado em que vivia e do assédio da mídia e dos fãs após o sucesso do seu livro-reportagem “Tiro Na Cara”, que escreveu sobre as eleições. O jornalista assina um contrato para escrever mais dois livros e se refugia do mundo em sua cabana, vivendo como um eremita, distante de todos, mantendo uma vida um tanto quanto paranoica regada a álcool, drogas e armas, como passou os últimos cinco anos.
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Primeira edição das três coletâneas que a Panini Comics lançou no Brasil |
Jerusalém, no entanto, tem de sair do seu refúgio após as cobranças de seu editor e voltar ao mundo fétido e viciado d’A Cidade. Para manter-se, Spider tem de arranjar um emprego como jornalista de redação, tudo que ele não quer, mas vê-se obrigado, então recorre ao seu parceiro, Mitchell Royce do jornal “The Word”, maior jornal da Cidade. Em sua primeira pauta após o retorno, Spider tem de investigar a tentativa de secessão de um separatista por seguidores do movimento transitório (um grupo de pessoas que usam a modificação do corpo genético baseado em DNA alienígena para se tornar uma espécie completamente diferente, forçados a viver na favela Anjos 8).
A primeira coletânea das histórias de Spider Jerusalém, lançada pela Panini Comics, contém as seis primeiras histórias, centradas em sua maioria em apresentar A Cidade aos leitores, todas as suas facetas, variações e explorar bem o futuro fictício criado pelo autor, no qual logo após sua volta à Cidade, o protagonista se vê às voltas com um conflito urbano entre as autoridades e uma minoria. As histórias seguintes mostram o que acontece quando Spider resolve mexer com três coisas bastantes importante e presentes na vida das pessoas: televisão, política e religião
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Hunter Thompson serviu de inspiração para a criação de Spider Jerusalém |
Claramente inspirado no norte-americano Hunter S. Thompson, lendário jornalista cujo estilo de reportagem ganhou o nome de Gonzo Jornalismo, Spider Jerusalem é um herói fora dos padrões, ou seja, um anti-herói. Seu poder é a capacidade de destruir a reputação de alguém com suas palavras e de conseguir informações comprometedoras sobre aqueles que estiverem na sua mira. Cínico, desbocado, violento e inconsequente, ele não tem a menor paciência com a hipocrisia da sociedade. Ao mesmo tempo, ele próprio é engolido pelo sistema que renega ao ser alçado ao estrelato por causa de seu estilo.
O roteiro de Warren Ellis é extremamente instigante, reza a lenda que algumas partes dos textos de Hunter Thompson serviram de inspiração para a história, o que não tira o crédito do roteirista em momento algum. Ellis, assim como o mestre-guru-shaman e gênio Alan Moore, são inconformistas e metem o dedo nas feridas da sociedade moderna, com um texto direto e extremamente cru, que em alguns momentos me lembra texto de Fanzine. Warren Ellis foi uma das minhas descobertas dos últimos anos, aos jornalistas, aos fãs de HQ e aos interessados em boa literatura, “Transmetropolitan” é leitura obrigatória.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.
Eu tenho aqui!