Navalha. É o que vem à mente e à garganta ao ouvirmos o álbum mais recente de uma das maiores artistas desse país. Elza Soares, com 34 álbuns de estúdio, reaparece renovada e forte em ”A mulher do fim do mundo”.
Sua carreira, pautada pela ousadia, presença de palco e músicas de arrepiar até o esqueleto, dá um salto nesse novo trabalho em que Elza se mistura a músicos conhecidos da cena paulistana, como Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Felipe Roseno, Celso Sim e Rômulo Fróes. O álbum, inclusive, também tem sua base na mistura: vamos do rock ao samba, passando pelo pop e até pelo eletrônico.
O que Elza nos apresenta é um apanhado de letras (autorais e de nomes como José Miguel Wisnik e Alice Coutinho) banhadas de sangue e atualidade. Os temas de maior recorrência são a dor, a morte, a violência doméstica e a transexualidade. Vamos falar sobre algumas das faixas:
Logo no início, na canção ”A mulher do fim do mundo”, Elza entoa ”Me deixem cantar até o fim” mas, apesar do caráter aparentemente de pedido, de permissão, o tom é forte, deixando claro que ela vai cantar, que ela é resistente, que ela, acima de tudo, sabe o que quer e é aquilo que ela fará. “Eu quero é cantar e eu vou cantar até o fim”, ela conclui.
Em ”Maria da Vila Matilde” vem o tema da violência doméstica. Novamente, uma mulher forte, que cansou de sofrer. ”Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, ela brada num ritmo agitado. Quem escuta, sente como se fosse uma bandeira sendo levantada; sabemos que é uma mulher apenas que canta, mas todas as mulheres que a ouvirem com certeza também sentirão essa mesma força.
Já em ”Luz Vermelha”, vemos a violência do dia-a-dia. Ruas vazias, pessoas invisíveis, violência, medos, tiroteio… ”Bem que o anão me contou/ que o mundo vai terminar num poço cheio de merda”.
”Pra fuder” é uma das faixas mais interessantes do álbum. É, literalmente, uma cena de sexo sendo narrada. De forma explícita, mas com recortes. É dançante, é sensual e a letra é maravilhosa (aliás, é de Kiko Dinucci): ”(…)Feito cordeiro entregue pra morte/ Seu sussurrar a pedir/ Pra fuder, pra fuder, pra fuder, pra fuder”.
”Firmeza” é o festejo do álbum. Pra se divertir, pra cantar em uma roda de amigos, porque a música inteira tem clima de confraternização. Inclusive, ”Eu tô feliz com seu sucesso” é algo lindo de se sentir, não?!
Pra quem já se animou ou ficou curioso – muito difícil não ficar, né?! -, boa notícia: Elza apresenta o show ”A mulher do fim do mundo” dia 22 de janeiro em Natal, no Teatro Riachuelo. Os ingressos já estão à venda e você pode ir ouvindo por aqui.
Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.