Sob a batuta de J.J. Abrams, Star Wars desperta para a Força

Quando a segunda trilogia de Star Wars encerrou-se em 2005, sob o desgosto de fãs e críticos, a saga de George Lucas parecia ter chegado ao fim. Eis que, em 30 de outubro de 2012, a Disney anuncia a compra da Lucasfilm pela “bagatela” de 4 bilhões de dólares. A promessa de um novo capítulo mexeu com o público cativo que, mesmo nostálgico, temiam pelo que poderia vir. É nesse contexto que Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força surge 32 anos após o Episódio VI, O Retorno de Jedi (1983), do qual é continuação direta.

30 anos se passaram desde a derrota do Império para a Aliança Rebelde. Porém, os feitos de Darth Vader serviram de inspiração à Primeira Ordem, grupo que tenta restabelecer o domínio através da Força. Liderada pela agora General Leia (Carrie Fisher de Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi), a República monta uma resistência para, mais uma vez, lutar por uma galáxia mais justa.

A ação começa quando Kylo Ren (Adam Driver da série Girls) busca uma parte restante do mapa do paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hamill de Kingsman – Serviço Secreto) na intenção de destruir o último Jedi vivo. O piloto da resistência Poe Dameron (Oscar Isaac de O Ano Mais Violento) salva a informação em seu droide BB-8. É quando a sucateira Rey (Daisy Ridley) e o ex-stormtrooper Finn (John Boyega da série 24 Horas – Viva um Novo Dia) entram em cena com a missão de levar a informação até Leia.

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BB-8 e Rey

O roteiro de J.J. Abrams (diretor de Star Trek, 2009), Michael Arndt (Jogos Vorazes – Em Chamas) e Lawrence Kasdan (Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca) é moderno e traz uma mulher e um negro no protagonismo. Rey se sustenta da venda de sucatas e Finn foi tirado de sua família para ser um stormtrooper. Ambos lutam em busca de uma vida comum. Suas personalidades são construídas sem pressa e com muitas sutilezas.

Tudo é desenvolvido dentro de um verdadeiro fanservice, escolha inteligente da produção visando agradar ao máximo seus fãs ardorosos. Referências se empilham de forma natural e perduram por toda a película, desde o primeiro plano, com a imponente nave da Primeira Ordem tomando a tela, até a impactante virada de roteiro, que abre o terceiro ato e remete diretamente aos filmes anteriores pela relação entre as personagens e pelo cenário escolhido.

Entretanto, o roteiro também traz problemas relevantes. Excessivamente ligado ao passado, O Despertar da Força se contenta em ser uma refilmagem moderna de Episódio IV – Uma Nova Esperança. A falta de ousadia é facilmente identificada na estrutura narrativa que acompanha uma protagonista vivendo num planeta desértico, que encontra um droide com importantes informações da resistência e que vê sua vida mudar após descobertas sobre quem é. Ainda temos uma Primeira Ordem tão obcecada pelo Império que repete o mesmo modus operandi para dominar a galáxia. É como se a mesma história se repetisse ciclicamente durante três décadas.

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Kyle Ren

Kylo Ren se mostra incerto. A máscara que usa é um mero capricho, frivolidade uma vez que a personagem não tem necessidade disso. Possível estratégia de venda de bonecos. O jovem antagonista também traz uma irritante personalidade de playboy mimado. Somos obrigados a ver deploráveis cenas de “chiliquinhos” toda vez que algo não sai do seu agrado. Ainda observamos um operador de esgoto ensinar à Resistência como destruir a maior arma inimiga (?) e duas personagens manusearem, com perícia, um sabre de luz, lutando em pé de igualdade contra um inimigo treinado, mesmo sem nunca terem visto a arma anteriormente.

O elenco é um ótimo acerto. As apostas Ridley e Boyega não poderiam ser mais exatas. Ambos possuem carisma de sobra, talento e química juntos. Ela tem autoridade e doçura. Ele demonstra honestidade em seus atos, além de um ótimo timing para comédia. Adam Driver é o único que parece perdido, sem conseguir definir-se entre um homem seguro ou um jovem afobado. Já o pequeno BB-8 faz frente aos demais atores funcionando como alívio cômico melhor que R2D2 e C-3PO.

Da velha guarda, o destaque total é de Harrison Ford (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal). Seu Han Solo é a grande engrenagem da fita, estando presente em tudo de relevância na trama. Sua aparição junto a Chewbacca é uma explosão de nostalgia. O astro está completamente à vontade e é dele a clássica frase “I have a bad feeling about this” (no português, “Eu tenho um mal pressentimento sobre isso”), presente em todos os filmes da série. Umas das cenas mais lindas é também protagonizada por ele, quando Rey pergunta se todas as histórias ouvidas do passado são verdadeiras e Solo, praticamente fitando o espectador, afirma ser tudo verdade, como quem pede ao espectador que jamais esqueça. Já a Leia de Carrie Fisher teve pouquíssimo tempo em tela.

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Os veteranos Chewbacca e Han Solo

Assumindo a árdua tarefa de dar nova vida ao trabalho de Lucas, J.J. Abrams não poderia ter feito melhor. Escrevendo, dirigindo e produzindo esse novo capítulo, Abrams é o verdadeiro mestre Jedi da película, desequilibrando para o melhor lado da Força. Sua câmera frenética, junto ao trabalho do diretor de fotografia Daniel Mindel (com quem trabalhou em Star Trek), é de impressionar a maior parte dos espectadores. Cada vez que uma nave da rebelião mergulha, a câmera mergulha em seguida, acompanhando tudo o mais próximo possível.

A mescla de efeitos práticos e computação gráfica funcionam quase que perfeitamente, falhando apenas na concepção visual de Snoke (Andy Serkis de Planeta dos Macacos – O Confronto), supremo líder do lado sombrio da Força. Além de lindas paisagens, como a das naves ao pôr-do-sol ou a incrível sequência da ponte, a apresentação da Millenium Falcon é de arrepiar.

Star Wars: The Force Awakens Ph: Film Frame ©Lucasfilm 2015
Rey, Finn e BB-8

Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força não é perfeito. Suas falhas não passam desapercebidas e são realmente importantes. Mesmo assim, não se mede um filme apenas por seus erros e acertos. O coração é sempre um fiel peso na balança. Portanto, o lado nostálgico, o ritmo frenético, as emoções em tela e todo o contexto da obra superam em muito tudo o que pode estar errado, e muito disso passa pelo diretor. Se Anakin Skywalker era o nome que traria equilíbrio à Força, J.J. Abrams é o cara que desequilibra para o lado da luz.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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