“A definição do amor” é um livro que não faz jus ao seu título. Primeiro, porque este passa uma incômoda impressão de clichê enquanto aquele foge completamente ao que se pode considerar ordinário na literatura contemporânea. No entanto, em algo, título e livro se equiparam: descritivos, não vendem verbos de ação e dinamismo. “A definição do amor”, do português Jorge Reis-Sá é exatamente o oposto disso.
Leia este livro sentado no banco da praça. Ou deitado na varanda enquanto o sol está próximo a se por. Leia este livro quando estiver com dúvidas ou quando achar que as certezas estão descomedidas. Trata-se de um prosa poética em que pouco acontece, mas muito se descobre. Ora, nenhum ritmo frenético de narrativa conseguiria acompanhar o que se passa pela cabeça de um homem que sofre.
Francisco é o apaixonado marido de Susana, que sofre um AVC e deixa um filho para ser criado. No entanto, descobre-se ainda que uma outra criança cresce no ventre de Susana, em um corpo que resiste, sem alma. “A definição do amor” é escrito em primeira pessoa, um diário de luto de Francisco em que acompanhamos por meses todas as fases do homem, do ocorrido à descrença, passando pela esperança e o desespero.
Merece gentil atenção o trabalho dedicado de edição e diagramação realizado pela editora Alaúde, sob o selo Tordesilhas, que torna a leitura mais prazerosa e confortável. Um deleite que fala sobre o ser humano, naquele aspecto que não gostamos de expor. Mas, por vezes, precisamos.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
