Especial: a história do Cinema em Campina Grande

Campina Grande por muitos anos ficou conhecida como a capital cultural da Paraíba. A inferência cultural era enorme, o nosso Teatro Municipal, que hoje dificilmente consegue colocar em cartaz peça locais por falta de público, antigamente vivia lotado e de portas abertas com espetáculos locais. Um bom exemplo disso eram as peças “Machos, Fêmeas”, “As Malditas” e “As Coroas”, escritas e dirigidas por Saulo Queiroz, que hoje é diretor de programação da emissora de televisão Itararé, afiliada da TV Cultura na Paraíba. Além disso, Campina Grande também se destacava como uma cidade que tinha uma grande produção musical, revelando artistas como Biliu de Campina, Amazan, Rosil Cavalcante, Jackson do Pandeiro, Zé Calixto, dentre outros, além de ter acolhido a grande cantora e compositora pernambucana Marinês.

Teatro Municipal Severino Cabral em Campina Grande - PB
Teatro Municipal Severino Cabral em Campina Grande – PB

A cidade não ficou apenas conhecida pelo seu cenário teatral e musical, mas também desenvolveu com bastante destreza o cenário cinematográfico. O cinema em Campina Grande surgiu 14 anos após a exibição cinematográfica dos irmãos Lumière, com a inauguração do Cine Brazil, em 1909 no antigo prédio da instrução no bairro das Boninas. Em sequência, surge em 1910 o Cine Popular, e por ai foram surgindo mais salas como o Cine Apollo e o Cine Fox, em 1912 e 1918, respectivamente. E mais a frente surgem os cinemas que se perpetuaram na memória de grande parte dos cidadãos campinense, como o Cine São José, Capitólio e o Babilônia. Porém, a cidade também conseguiu bravamente criar um movimento cineclubista por voltas dos anos 60 onde temos como grandes nomes os irmãos Rômulo e Romero Azevedo.

Campina Grande também se destacou no cenário nacional pelas suas produções cinematográficas, inicialmente com uma das grandes figuras da cidade, o jornalista e cineasta Machado Bittencourt, que produziu até meados do final dos anos 80 e início dos 90. Porém, como toda cidade no Brasil, Campina Grande começou a ser acometida por políticas culturais devassadas entrando em um marasmo tanto em sua produção teatral como cinematográfica. A única manifestação artística que conseguiu sobreviver capengando foi a música.

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Faixada do Cine Capitólio em 1990 quando o mesmo ainda estava em funcionamento

Porém, no início da segunda década do século XXI, a cidade começa a tomar um novo impulso na produção cinematográfica, filmes independentes e de baixos orçamentos, mas com roteiros impecáveis, começam a despontar novamente no cenário nacional e vão além, sendo exibidos em festivais internacionais, fazendo com que os holofotes, mesmo que fracos, começassem novamente a ser voltados para Campina Grande.  Nessa postagem irei citar alguns filmes dessa nova leva, como se torna impossível falar de todos, citarei alguns que tiveram grande destaque.

Um dos bons filmes campinense que começaram a dar destaque novamente a cidade foi Depois da Curva lançado em 2008 e dirigido por Helton Paulino. O filme tem duração de 18 minutos e traz em seu enredo a história de Paulo, que é um jovem e iniciante motorista de carros funerários. Ao fazer uma viagem a trabalho, se depara com uma série de situações que o fazem reavaliar seus próprios sentimentos, colocando em xeque até a existência de uma amizade de anos. O filme conquistou sete prêmios e participou de 15 festivais nacionais e 8 internacionais, sendo exibido na Espanha, Itália, Colômbia, Indonésia, Argentina, Holanda e Alemanha. Além disso, foi convidado a participar da grade de programação do Canal Brasil.

Os principais prêmios foram: Melhor curta-metragem pelo Júri Popular, Melhor Ator e Prêmio da Crítica, no IV Comunicurtas – Festival Audiovisual de Campina Grande (2009); Prêmio de Aquisição do Canal Brasil, no XVII Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual (2009), Melhor Ficção, no I Festival de Vídeos Estação Cabo Branco (2010); Melhor Ator, no I Festival de Cinema de Ribeirão Pires (2010); Melhor Diretor, no X Goiânia Mostra Curtas (2010); Melhor Roteiro, no I Cine Riba – Festival de Cinema de Rio Bonito (2010); Menção Honrosa, no I Festival de Cinema de São Simão (2010).

Além de participar dos seguintes festivais: II Festival de Cinema de Marília – 2009 – SP; XVII Festvideo Teresina – 2009 – PI; II Curta Carajás – 2009 – PA; III For Rainbow – 2009 – CE; I Cineamor – Festival de Cinema de Nova Friburgo – 2010 – RJ; I Festival de Cinema de Várzea – 2010 – SP; V Mostra de Cinema de Ouro Preto – 2010 – MG; III Entretodos – Festival de Cinema dos Direitos Humanos – 2010 – SP; IV Festival de Cinema de Floresta – 2010 – MT; III Curta Taquary – Festival de Cinema de Taquaritinga do Norte – 2010 – PE; II Curta Neblina – Festival de Curtas-metragens de Paranapiacaba – 2010 – SP; Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas-metragens – 2010 – RJ; III Curta Jacaré – Mostra de Curta Metragem de Jacarezinho – 2010 – PR; I Mostra Audiovisual Fazendo Gênero 9 – 2010 – SC. I Cine Festival Inconfidentes – 2011 – MG. V Mostra Possíveis Sexualidades – 2012 – BA. VII Zinegoak – Bilbao International LGBT Film Festival – 2010 – Bilbao (Espanha); XXV Torino LGBT Film Festival – 2010 – Turim (Itália); XXI Hamburg International Queer Film Festival – 2010 – Hamburgo (Alemanha); Ciclo Rosa 2010 – Bogotá (Colômbia); Q! Film Festival 2010 – Jakarta (Indonésia); X Galloverde – Festival de Cinema de Temática Sexual – 2010 – Buenos Aires (Argentina); Amsterdam Gay and Lesbian Film Festival 2011 – Amsterdam (Holanda). Rio Festival Gay de Cinema 2011 – Rio de Janeiro (Brasil).

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Frame de Depois da Curva, dirigido por Helton Paulino

Em 2010 dois amigos, Ramon Porto e Anacã Agra, se juntariam para dirigir um filme de ficção chamado “O Hóspede”, lançado em 2011. O filme tem duração de 17 minutos e tem como plot uma história que acontece em uma pousada no interior da Paraíba: um estranho hóspede e um incidente misterioso deixam o proprietário inquieto e obcecado em descobrir quem é aquele homem e o que ele está fazendo ali. O filme tem como ator principal o já experiente Fernando Teixeira que participou de filmes como Parahyba, Mulher Macho e Baixio das Bestas.

A obra participou dos seguintes eventos: 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, RioFan – Festival Fantástico do Rio 2011, 22º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, VI Comunicurtas (Prêmios de Melhor Filme de Ficção, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Direção de Fotografia), 5° CINEPORT – Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa, 13º Festival Internacional de Curtas de BH, III Semana dos Realizadores, Curta Cinema 2011 – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, IV Janela Internacional de Cinema do Recife (Menção Honrosa do Júri da ABD-PE), Autorock 2011, 6º Cinefantasy, 10º Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora, 6º Miragem – Mostra de Cinema e Vídeo de Miracema 2011 (Melhor Curta – Júri Popular), IV FestCine Digital do Semiárido (Premio Walfredo Rodriguez de Melhor Curta de Ficção), Mostra do Filme Livre XI 2012, Film Festival: We Speak, Here 2012, I Sagi Cine, 19º Festival de Cinema de Vitória, 6º Goiamum Audiovisual e do Curta em Campina 2013.

Abaixo, o filme completo:

O Hóspede (2011) de SalòFilmes on Vimeo.

Ainda no mesmo ano, Ian Abé, natural de João Pessoa, mas que na época estudava e residia em Campina Grande, lança seu primeiro filme Mais Denso que Sangue. No filme acompanhamos um forasteiro que chega a Cabaceiras e se camufla na multidão que acompanha a comemoração da Semana Santa. Ele está armado: um Taurus com quatro balas ponta oca e duas normais.

A obra participou dos eventos: 6ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, 16º FBCU – Festival Brasileiro de Cinema Universitário, VI Comunicurtas,  5° CINEPORT – Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa,  7º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes,  4º FESTIVAL DO JÚRI POPULAR,  11ª MFL – Mostra do Filme Livre, Curta em Campina 2011 e sua última exibição foi no Festival Universitário de Artes (FUA) em dezembro desse ano. O filme levou o prêmio de melhor desenho sonoro no Festival de Vitoria.

Mais Denso que Sangue de Vermelho Profundo on Vimeo.
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Cartaz de Lamúria, dirigido por Nathan Cirino

Para finalizar a primeira parte desse especial sobre o cinema em Campina Grande, apresento o filme Lamúria, lançado em 2011 e dirigido por Nathan Cirino.  No filme acompanhamos a historia de Bruno, que recebe a tarefa de compor um poema romântico em uma aula de literatura. A construção do poema será também uma jornada de autoconhecimento e uma tentativa de expressar tudo aquilo que sente pelo professor da disciplina. O filme teve grandes aceitações em festivais tanto nacionais como internacionais.

A obra foi exibida em: North Carolina Gay & Lesbian Film Festival 2013 (EUA); Identities 2013 – Vienna Queer Film Festival (Vienna, Áustria); 27th London Lesbian & Gay Film Festival – 2013 (Londres, Inglaterra); Insideout GLBT Film Festival 2012 (Toronto, Canadá); Reelout Film Festival 2013 (Kingston, Canadá); Pink Latino Diversity Festival 2012 (Toronto, Canadá); Torino LGBT Film Festival 2012 (Turim, Itália); 8th InDPanda International Short Film Festival (Hong Kong, China); Elegetebé Fest 2012 (Málaga, Espanha); Rio Festival Internacional Gay de Cinema – FGC (RJ); 19º Festival Mix Brasil (SP/RJ): selecionado para mostra competitiva; Comunicurtas (PB): Melhor Filme do Júri Popular, Melhor Roteiro e Menção Honrosa para Pablo Carvalho; Close – Festival Nacional de Cinema da Diversidade Sexual (RS): Melhor Ator (Fabiano Raposo);  II Curta Coremas – 2012 (PB) Melhor Filme de Ficção;  Mostra Internacional de curtas, médias e longas-metragens do 5º For Rainbow (CE): exibição na mostra não competitiva de filmes com temática LGBT educativa;  8ª Mostra Cinema Popular Brasileiro (RJ): selecionado para mostra competitiva; VII Mostra do Curta Nordestino (RN): selecionado; Curta Carajás – III Festival de Cinema de Parauapebas (PA) Selecionado; Interiores – Mostra de Cinema da Diversidade Sexual de São José do Rio Preto (SP); 5º Curta Taquary – Festival Nacional de Curtas-metragens de Taquaritinga do Norte (PE): selecionado – Mostra paralela; 5ª Mostra Possíveis Sexualidades (Salvador, BA): selecionado; Sansex – 2ª Mostra de Cinema e da Cultura da Diversidade Sexual de Santos (SP); Fórum Social Mundial – 24 e 29 de janeiro de 2012, em Porto Alegre (RS); Parte do DVD “Circuito Mix Brasil”, patrocinado pela Secretaria de Cultura do RJ; e ainda foi adquirido pelo Cine Mix Brasil, programa nacional exibido pelo Canal Brasil durante o final de 2012 e o ano de 2013.

No próximo post continuarei falando mais sobre filmes campinenses que ganharam bastante destaque no cenário nacional e que cada vez mais elevam o nome de Campina Grande como uma cidade de boas produções cinematográficas. Para não me prolongar muito no texto evitei analisar os filmes, mas espero que todos se interessem e pesquisem sobre as produções aqui citados.

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Cicero Alves
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
Cicero Alves

Cicero Alves

Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.

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10 anos atrás

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10 anos atrás

[…] Marcus Accioly, me reconduziram ao cordel e aos violeiros que eu escutava na infância. O CHAPLIN: Em um dos meus textos n’O Chaplin eu escrevi um pouco sobre a efervescência cultural que por muitos anos marcaram as atividades […]

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