Quando penso em faces no Cinema, uma das primeiras coisas que me vêm à cabeça são os close-ups dos filmes de Sergio Leone, diretor famoso por utilizar faces que não estão de acordo com o padrão de beleza, os “Feios do Oeste”. Leone contrapõe rostos com paisagens, transformando-os em paisagens também com seus super closes, nos quais cada linha do rosto e cada imperfeição é minuciosamente mostrada, criando, assim, forte sentimento no público. Imagine (imaginar mesmo no meu caso, que nunca tive a oportunidade de ver as obras-primas de Leone em uma tela de proporção cinematográfica) o poder desses close-ups em uma tela de cinema,  nos rostos gigantes do Clint Eastwood, do Eli Wallach, do Henry Fonda, do Charles Bronson ou da belíssima (uma exceção na filmografia do Leone) Claudia Cardinale!

Henry Fonda em "Uma vez no Oeste"
Henry Fonda em “Uma vez no Oeste”

Um close-up pode transmitir toda a emoção ou ação de uma cena. O fato em si pode ser ocultado e o que o diretor decide mostrar é só a expressão do ator. Em vez de mostrar uma cena com forte conteúdo (como algo nojento, explícito) o diretor mostra a reação do ator ao lidar com isso. Por exemplo, o close-up de “Operação Dragão” estrelado por Bruce Lee, um dos meus favoritos. Em uma luta, Bruce Lee pula com seus pés elevados para finalizar seu adversário, que estava no chão caído, com um “pisão”. O golpe não é mostrado, o que é mostrado é um longo close-up do Lee após a ação, todos os sentimentos de alguém que acaba de assassinar, todo o esforço físico, tudo em um close memorável. Um outro exemplo é no filme Scarface, do diretor Brian De Palma, na famosa cena da serra elétrica, na qual Al Pacino vê, compulsoriamente, seu amigo ser morto pela serra. Nós, os espectadores, não vemos a execução do seu colega pela serra, mas apenas a reação da personagem de Pacino, que é, digamos de passagem, sensacional. Pacino é um dos melhores atores de todos os tempos.

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Al Pacino em “Scarface”

Outro grande exemplo de uso de close-up é em “Nascido Para Matar”, de Stanley Kubrick, sobre a guerra do Vietnã. Kubrick mostra o rosto do personagem, Joker, quando algo o perturba. É uma expressão de incompreensão e de estar vendo algo muito forte. Assim que a câmera vai se afastando, nos é revelado uma vala com vários corpos. Aqui, Kubrick primeiro mostra uma face, fazendo o espectador se perguntar do que se trata, o que o personagem olha e o que o deixou assim. Assim que tomamos conhecimento da vala no decorrer das cenas, a intensidade da expressão do ator é ampliada.

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Liv Ullmann, em “Persona”

Não posso deixar de citar o incomparável cineasta sueco Ingmar Bergman. Bergman usava muitos close-ups, e muito próximos ao rosto do ator. Ele também adora enquadrar lado a lado dois atores olhando para frente, como na cena clássica de “Persona”. E por falar em “Persona”, temos aqui um grande exemplo do poder das expressões: sem quase dizer uma única palavra, a atriz Liv Ullmann – numa poderosa atuação – interpreta uma personagem que só abre a boca em uma cena de “Persona”. Ela só fala uma única frase  (“Não faça isso”), na verdade, durante todo o filme, quando outra personagem vai lhe jogar uma panela de água fervente, numa cena simultaneamente hilária e dramática.

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Janet Leigh, em “Psicose”

E que tal o close-up de um morto? O rosto caído no chão de Janet Leigh em “Psicose”, após ela ter sido assassinada na clássica cena do chuveiro, com a boca encostada no chão, com o olho aberto nos encarando. Neste plano, Hitchcock não só captou uma pessoa morta, ele captou o “porquê” da morte e toda a violência, possibilitando que seja extraída emoção até da expressão de um morto.

E para finalizar, eu não posso deixar de citar um dos closes que melhor simbolizam o amor. O último olhar, a última vez que alguém verá seu amor, é como posso definir a troca de olhares de Bonnie e Clyde antes deles serem mortos a tiros na emboscada. Dois close-ups poderosíssimos que transmitem enorme emoção.

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Faye Dunaway, em “Bonnie e Clyde”

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Jonathan De Assis
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.
Jonathan De Assis

Jonathan De Assis

Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.

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