FliQ discute a importância do papel feminino nos quadrinhos

Quadrinistas debateram a participação das mulheres no quadrinho nesta quarta (22) (Fotos:Lara Paiva)
Quadrinistas debateram a participação das mulheres no quadrinho nesta quarta (22) (Fotos:Lara Paiva)

Mulher que faz quadrinho tem que ter desenhos bonitinhos? Quatro mulheres quadrinistas provaram que isto tem que ser derrubado a partir de um bate-papo sobre a temática “Mulheres nos Quadrinhos”, que aconteceu nesta quarta-feira (22), na Feira de Livros e Quadrinhos (Fliq). A conversa contou com as quadrinistas potiguares AnaLu Medeiros, Luiza de Sousa, Milena Azevedo e a paraibana Thaís Gualberto.

Elas discutiram desde a participação feminina na criação das Histórias em Quadrinhos (HQ’s) até a construção de personagens mulheres. Inicialmente, as meninas começaram a comentar o argumento que “Quadrinho de Mulher contém histórias e desenhos delicados, além de falar de amor”. Todas demostraram que ficam irritadas quando escutam frases como essa e que cada pessoa tem sua própria forma de fazer a sua obra. AnaLu declarou que sofreu alguns preconceitos ao entrar neste mercado, uma vez consideravam que o seu estilo “era muito bonitinho”.

“Mulheres e homens são pessoas, parem de dividir as coisas. Tem homem que consegue fazer traços delicadinhos e mulheres fazendo desenhos de monstros”, disse. AnaLu é arquiteta formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e já divulgou três trabalhos, o zine “Sangra”, o livro “Ana e o Sapo” (Editora Tribo) e em breve vai lançar a série “Carvalhos”.

Thaís Gualberto é criadora de "Olga, a sexóloga taradóloga"
Thaís Gualberto é criadora de “Olga, a sexóloga taradóloga”

Já Thaís Gualberto ironizou a situação ao dizer esta frase: “Eu fico dizendo que deveria fazer mais tirinhas de amor para saber se faço mais sucesso (risos)”.  A criadora de “Olga, a sexóloga taradóloga” declarou que já usou algumas situações da sua vida para criticar o machismo e já usou alguns temas relacionados ao machismo para fazer quadrinho.

“Quadrinho de mulher não é um gênero, pois as mulheres produzem vários tipos, traços e roteiros diferentes”, disse Milena Azevedo. Ela é editora do site Garagem Hermética de Quadrinhos (GHQ), que inicialmente funcionava como uma loja. Além disso, tem um selo chamado MBP e já lançou vários trabalhos. “Minha influência maior para fazer quadrinhos foi o cinema e a literatura. Geralmente, eu tento colocar questões de froma a tirar sarro com alguma coisa ou alfinetando. Gosto de trabalhar com a ironia, que provoca uma reflexão”, afirma Milena, que é a única das garotas que apenas roteiriza os seus quadrinhos.

Ainda sobre o enredo de HQ’s, elas também falaram que a participação dos personagens femininos é feito de forma um pouco pífia.  “A gente sente quando algo sobre os problemas femininos são retratados de forma artificial”, disse Luiza de Souza, estudante de publicidade, que vai divulgar nesta próxima sexta (24) o seu primeiro trabalho, intitulado de “Contos Rabiscados para Corações Maltrapilhos”.

Analu Medeiros e Luiza de Sousa
Analu Medeiros e Luiza de Sousa

“Eu queria dar uma representação das mulheres sem fazê-las de coitadinhas. Fala sobre relacionamentos, mais sobre cotidianos e escolhas, sem mimimi. Eu me preocupei muito sobre esta representação, pois todas as mulheres retratadas são fortes. Elas sofrem, fazem merda e aguentam as consequências. Acho importante mostrar este lado”.

Elas também criticaram a forma como são retratadas as personagens femininas nos trabalhos de super-heróis. “As mulheres fortes são retratadas geralmente como as vilãs. Já as mocinhas são as noivas ou eternas namoradas do personagem principal e sempre apresentavam traços delicados”, lamenta Milena.

Além de falar dos enredos, mercado e preconceitos, as meninas comentaram de suas influências e questionamentos dos garotos por ler revistinhas. “Eu já sofri muito preconceito por ler quadrinhos, principalmente de super-heróis”, conta Milena Azevedo.  “Quando eu ia comprar um quadrinho na banca de revista, o vendedor sempre perguntava: ‘É para o seu namorado?’. Aí, quando eu dizia que era para mim, muitos olhavam torto”, complementa.

Luiza de Souza, por sua vez,  comentou que se irritava com as perguntas que faziam para saber se ela lia de verdade quadrinho. Apesar de ter tido um aumento de mulheres aderindo ao mercados, as participantes do bate-papo relataram que o cenário ainda precisa melhorar, uma vez que o ambiente ainda é bastante machista.

Programação do terceiro dia da Fliq

O terceiro dia da Fliq contará com diversas atrações, como o papo com os escritores Jair Farias, Regina Azevedo e Gustavo Diógenes, que vão falar sobre escrever livros mesmo ainda sendo jovens. Também haverá a presença dos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon. Eles farão uma oficina sobre “narrativa gráfica” e uma sessão de autógrafos. Outro atrativo é a exposição de fanzines. Confira a programação desta quinta-feira (23):

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Lara Paiva
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.
Lara Paiva

Lara Paiva

Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.

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