Fome de Viver: elegante e pouco convincente

Após ler uma postagem sobre cinema com tema de vampirismo no excelente blog O Falcão Maltês, do colega jornalista e escritor Antônio Nahud, fiquei curiosa para assistir o filme “The Hunger”, ou “Fome de Viver”, em uma tradução desrespeitosa.

Tony Scott, o diretor, acertou em cheio em uma coisa: A escolha do elenco. Catherine Deneuve (fina e belíssima) fez o perfeito papel de Miriam Blaylock, a vampira sedenta por sangue e corações. David Bowie, por sua vez, encarnou singularmente John, o vampiro-múmia mais charmoso que já vi. Embora seja o única que eu tenha visto. Susan Sarandon, em início de carreira, foi igualmente conglaturada com um papel em que pôde fazer uma boa interpretação: a médica curiosa (em todos os sentidos) que acaba caindo na lábia da vampirinha e não desconfia nem um pouco quando a dita cuja suga o seu sangue e a faz sugar o dela. Dã.

Miriam (Deneuve) é uma vampira com centenas de anos nas costas. Ao que parece é um costume escolher um amor “para a vida toda”, mordê-lo e prometer-lhe vida e amor eternos. Contudo, lá para as tantas, os amores de Miriam, que deveriam “viver” para sempre, misteriosamente (e misteriosamente mesmo, o filme acabou e eu não descobri a razão) começam a envelhecer. E o processo todo acontece em alguns dias, quando os vampirinhos são transformados em múmias. Nessa brincadeira, o porão de Miriam já abrigava dezenas de caixões, cada um servindo de lar para um amante diferentes, condenado a envelhecer para sempre, mas vivo. Achei bizarro.

O mesmo acontece com John, que não entende nada e procura a doutora Sarah Roberts (Susan), especialista em envelhecimento. Como previso, a doutora não pôde fazer lá muito por ele. Mas a participação dela continua quando Miriam decide adotá-la como aspirante a próxima vampira-múmia.

Elas parecem se apaixonar e começam uma relação cheia de paixão e sangue. Até que Sarah decide que não quer viver como vampira e se mutila, morrendo. Ou ao menos é o que parece.

As cenas seguintes são um tanto estranhas e apelativas. Faz parecer que o diretor queria, a todo custo, um final impactante para o enredo que já estava para lá de confuso sem a contribuição do The End. É múmia virando zumbi para matar vampiro (que vira múmia), é zumbi virando pó, é vampiro ressuscitando….

Para completar, o filme ainda tem uma trilha sonora irritante, que faz parecer que foi filmado inteiro dentro de um banheiro com uma torneira pingando.


Mas para não dizer que não falei das flores, “Fome de Viver” tem algumas características atraentes: as primeiras são, sem dúvidas, Catherine Deneuve e Susan Sarandon como protagonistas pioneiras do vampirismo lésbico no cinema. De mais, temos a elegância natural do filme, cenas de impacto e que não ferem tanto os princípios do verdadeiro vampirismo de Bram Stoker.

Trailer “The Hunger”

 

O filme foi indicado para Cannes, em 1981. Então, para todos os efeitos, vale à pena conferir. Mas não espere muito. Não é à toa que foi apenas indicado.

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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ANTONIO NAHUD JÚNIOR
12 anos atrás

Concordo totalmente com vc, Andressa. O filme vale principalmente por Deneuve e Sarandon. Mas se perde na estética, no superficial… É que o Tony Scott é muito limitado…

Tudo de bom.

O Falcão Maltês

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